Cento e cinquenta e cinco anos se passaram desde que Édouard Manet pintou o quadro “O Almoço Sobre a Relva”. A obra traz o nu à tona. Na época o tema foi alvo de críticas e polêmicas. É incrível que ainda hoje o nu seja tabu.
“A ideia do evento foi convidar artistas, de diferentes técnicas, para que o quadro fosse recriado com o olhar para o contexto do século XXI, usando o nu no deslocamento da realidade do Brasil, de culturas e corpos diferentes. Nosso objetivo é reiterar o espaço do nu na arte devido às críticas e polêmicas dos últimos meses”, explica Ione de Medeiros, diretora artística do VAC sobre o Tableau Vivant, uma das novidades de 2018.
Cenas
Randolpho Lamonier, Nilcéa Moraleida, Gabriela Brasileiro e Warley Desali foram alguns dos pintores que participaram. Eles fizeram uma instalação que reproduzia um ateliê com modelos vivos. Cinco grupos, com 30 artistas, sendo 19 recriando a obra e 11 reproduzindo, foram espalhados pelo teatro. Cada grupo recriava duas cenas, totalizando dez diferentes.
Eles reproduziram a pintura com técnicas de pastel, carvão, tinta óleo, lápis de cor ou ate mesmo por meio de fotografia. Enquanto os artistas trabalhavam o público passeava entre eles. “Achei a proposta bem interessante. É necessário discutir o corpo nu na arte pois tudo tem um sentido. Gostei de terem trabalhado com corpos distintos: negros, mulheres e trans”, pontuou Rafael Souza.
O músico e ator Rafhael Braga foi um dos que se ofereceu a participar da criação das obras. Na primeira cena da praia interpretou Chapolin. Na segunda, com o corpo nu, segurava uma placa de proibido. “Por mais que pareça inusitado, tudo pra mim foi muito comum.É assim que deve ser. É importante mostrar a nudez na arte para desconstruir o tabu e ideias de que a temática tem que ser censurada”, explicou.
Nu como arte
“O nu é visto como o profano, sempre causa deslocamento e escândalo, mas isso tem que ser deixado de lado. É com eventos deste tipo que quebramos paradigmas. Mostramos a relação do pintor com o corpo e levantamos discussões sobre o nu”.
“Além de debater sobre o nu o Tableau Vivant nos proporcionou uma espécie de ateliê, com um quadro vivo onde nós pintores pudemos resgatar um momento da arte em que o artista pinta a cena no momento em que ela acontece”, afirma a artista Gabriela Brasileiro. Ela participou da reprodução da cena Os Executivos onde usou a técnica de carvão sobre tecido.
Depois de uma hora e meia de criação intensa, todos os trabalhos foram expostos no palco. As obras foram sorteadas entre o público presente.