Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Confira nossas apostas na programação do Festival de Arte Negra 2019

Com programação inteiramente gratuita, o FAN 2019 traz como tema Território Memória. Participam artistas nacionais e internacionais

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Com o tema Território Memória, o Festival Arte Negra 2019 vai propor discussões sobre a circulação de memórias individuais e coletivas. Entre os dias 18 e 24 de novembro, Belo Horizonte receberá 100 atrações, em diversos pontos da cidade, que reúnem obras e artistas para provocar a reflexão sobre a cultura negra. Serão diferentes manifestações artísticas, como teatro, música e bate-papos, palestras e seminários. 

O Festival de Arte Negra ocorre desde 1995 e se consolida cada vez mais como evento de grande importância. Trata da valorização das culturas de matrizes africanas e da democratização do acesso aos bens artísticos. Além disso, contribui para a internacionalização de BH.

De acordo com Fabíola Moulin, presidente da Fundação Municipal de Cultura, em 2019, a verba praticamente triplicou em relação aos anos anteriores. “Há dois anos, o FAN contava com certa de R$ 1,1 milhão para ser realizado. Já neste ano, a verba é de R$ 2,8 milhões”, explica. Segundo ela, o crescimento da verba se deve à relevância do evento como um projeto de política pública e também em função do momento político que o Brasil passa. “Estamos em um momento muito difícil em que está havendo cortes e uma desconstrução de politicas culturais e desvalorização da cultura. Por isso este festival é importante”, destaca.

Festival de Arte Negra
Embarque imediato Foto: Caio Li?rio / Divulgação

Curadoria

Quem assina a curadoria são três mulheres. Rosália Diogo, que é professora da educação básica da rede municipal de BH, jornalista, mestre em psicologia e Conselheira Municipal de Promoção da Igualdade Racial de Belo Horizonte. Ao seu lado está Grazi Medrado, gestora cultural, atriz, produtora e diretora artística, e Aline Vila Real, também produtora cultural, atriz, dramaturga, diretora e especialista em comunicação social. “O nascimento do Festival de Arte Negra foi fundamental pois conseguiu mexer com a cidade em todas as regiões”, destaca Rosália.

Segundo ela, a participação de artistas, acadêmicos, especialistas e da população foi fundamental para demarcar o local do hip hop, da capoeira, da cultura negra em geral. “É o que tentamos manter até hoje”, ressalta. “Para nós o mote principal desta edição foi manter a memória do próprio festival. Assim, pensamos o território também como um espaço simbólico e um espaço de circulação de memórias, espaço atemporal”, explica a curadora Aline Vila Real. Ou seja, a escolha do tema, justamente na décima edição, é uma ação de resistência. Todas as atrações dos sete dias de festivais são gratuitas e as entradas serão distribuídas duas horas antes de cada atividade.

Como são 100 atrações, fizemos algumas apostas. Vale o registro: o FAN, por inteiro, é imperdível.

Homenagem

Para celebrar a décima edição do Festival de Arte Negra, a memória de Maria Beatriz Nascimento será resgatada. Ela foi historiadora, roteirista, professora poeta e ativista pelos direitos humanos de negros e mulheres. Viveu entre 1942 e 1995. Maria Beatriz nasceu em Aracaju e migrou com a família para o Rio de Janeiro quando tinha sete anos de idade. No Rio, cursou história na Universidade Federal do Rio de Janeiro, fez estágio no Arquivo Nacional e passou a fazer parte da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. 

A entrada na militância do movimento negro começou com a participação em discussões raciais principalmente no meio acadêmico. Dessa maneira, auxiliou na criação do Grupo de Trabalho André Rebouças e do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras. Ademais, atuou em conferências, simpósios e seminários. Em resumo, durante 20 anos, Maria Beatriz do Nascimento se dedicou a temáticas relacionadas ao racismo e aos quilombos. Para que isso fosse possível abordou a correlação entre corporeidade negra e espaço com as experiências diaspóricas dos africanos e descendentes em terras brasileiras. As noções utilizadas foram transmigração e transatlanticidade. 

 

Festival de Arte Negra
Foto: Jose? de Holanda / Divulgação

Chico César

Na terça-feira, 19 de novembro, às 21h, Chico César vai lançar o CD O amor é um ato revolucionário, no Grande Teatro de Sesc Palladium. O álbum tem 13 canções inéditas e reflete sobre a situação atual do Brasil. Somando 25 anos de carreira Chico César sobe ao palco e recebe como convidada Agnes Nunes. A artista, que também é paraibana, participou do álbum de inéditas de César dividindo os vocais na canção De peito aberto.

Embarque Imediato, comemoração aos 80 anos de Antônio Pitanga

O espetáculo conta a história de um encontro entre um jovem negro, que é doutorando, e um senhor da África. Ambos se encontram em uma sala de um aeroporto internacional. Na ocasião, tanto o jovem quanto o senhor enfrentam problemas com o passaporte e ficam retidos no local durante uma conexão de voo. Dentro da sala de segurança do aeroporto, eles têm acesso a informações que mudam completamente as suas vidas.

No elenco do espetáculo estão os filhos de Antônio Pitanga, Camila e Rocco. De acordo com uma das curadoras, Grazi Medrado, o tema Memória é tratado também na relação entre pai e filhos. “Discutir a memória no Festival de Arte Negra é dialogar com a memória. Ou seja, com o que veio antes, a ancestralidade, já que este é um tema importante quando falamos de heranças do povo negro”. Outro exemplo de encontro de gerações poderá ser visto na abertura do festival. Laércio e Thalma de Freitas, que são pai e filha, se unem a Mateus Aleluia no show Aclamação a Olorum.

A apresentação do espetáculo Embarque imediato é dia 19 de outubro, às 19h30, no Teatro Francisco Nunes. O espaço fica dentro do Parque Municipal. A abertura é 18 de novembro, às 20h no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro – BH – (31) 3201-5211).

 

Festival de Arte Negra
Foto: Ivan Shupikov / Divulgação

Black Alien

Gustavo de Almeida Ribeiro foi e ainda é um dos rappers de referência no cenário musical brasileiro. Além de rapper, Black Alien (nome artístico) é também cantor e compositor. Durante a carreira, já subiu no palco e fez gravações ao lado de artistas como Os Paralamas do Sucesso, Forfun, Fernanda Abreu, Raimundos e Sabotage. Fez, ainda, parte do Planet Hemp, grupo que era composto por Marcelo D2, por exemplo. A saber, foi o fundador do grupo Reggae B em uma parceria com o baixista dos Paralamas do Sucesso, Bi Ribeiro. O primeiro álbum solo do artista foi Babylon by Gus – Vol. 1: O Ano do Macaco, título que se refere ao disco Babylon by Bus de Bob Marley.

No Festival de Arte Negra, o artista apresenta o terceiro álbum da carreira Abaixo de zero: hello hell. O disco aborda o agora, um tema que está presente nos últimos tempos na criação de Alien. “É a primeira vez que Black Alien apresenta esse disco em uma perspectiva ampla, democrática e gratuita. Por isso, achamos importante pensar e lembrar BH como um palco das produções de rap no Brasil”, justifica Grazi Medrada. O show é no dia 24 de novembro, às 21h, no Viaduto Santa Teresa.

Ícaro and The Black Stars

Neste espetáculo, Ícaro Silva apresenta os grandes sucessos da história da black music cantando e contando. Só para exemplificar, estão no repertório artistas como Michael Jackson, Bob Marley, Tim Maia, Wilson Simonal, James Brown e Beyoncé. A ideia da apresentação, além de homenagear esses artistas, é mostrar as possibilidades de pluralidade e democracia. A apresentação será no 23 de novembro, às 20h, no Teatro Francisco Nunes (Av. Afonso Pena, s/n, Centro).

 

No Coração do Mundo. Foto: Leonardo Feliciano/Divulgação.

No coração do mundo

O filme da produtora Filmes de Plástico se passa em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Em um bairro pobre que os jovens sonham em sair da cidade para conseguir uma vida melhor. Ao mesmo tempo em que umas tentam procurar alternativas à vida que leva, outras cedem ao crime. Aqui no Culturadoria, por exemplo, nós falamos sobre como este filme prova o amadurecimento do cinema mineiro. A ideia de trazer a Filmes de Plástico é só um exemplo de como o festival quer descentralizar as atividades, de acordo com as curadoras. O filme vai ser exibido às 19h30 do dia 20 de novembro no Cine 104 (Praça Rui Barbosa, 104, Centro).

Demais atrações

Além da programação local e nacional, participam, por outro lado, nomes internacionais como a narração performática Strikethrough de Va-Bene, de Gana, e o filme Milli’s awakening, de Natasha A. Kelly. A sessão vai ser comentada pela diretora e é realizada no Cine 104 (Praça Rui Barbosa, 104, Centro). Já a performance de Va-Bene será no Galpão 4 da Funarte (R. Januária, 68, Centro).

A programação completa com todas as atrações está disponível no site do Festival de Arte Negra.

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