Vindo diretamente de Sete Lagoas, Congadar traz a ancestralidade africana junto ao potencial eletrizante do rock.
Por Caio Brandão | Repórter
O Brasil é um território que tem como marca registrada a mistura de culturas. Nesse sentido, vários marcos artísticos presentes no país surgiram por meio dessa lógica, mesclando diferentes aspectos culturais de vários lugares para originar algo único. Sendo assim, a banda Congadar se posiciona como uma das bandas que aproveitam esse movimento para construir uma sonoridade singular, fundindo o Congado com o Rock.
O conjunto, que já conta com uma trajetória extensa, lançará no dia 06 de julho, o novo EP “Morro das Três Cruzes”. Após disponibilizar dois álbuns e várias turnês, a banda setelagoana apresenta um trabalho completamente autoral, manifestando todo o processo de maturação artística da Congadar.
O resgate da ancestralidade
Como o nome do conjunto sugere, os trabalhos erguidos são permeados pela reverência ao Congado. Dessa forma, o grupo funde os tambores e cânticos, que remetem às religiões de matriz africana, com a energia contagiante do rock n’roll. Tudo isso é resultado das vivências dos membros da Congadar, que sempre conviveram com o Congado, carregando esse legado ancestral.
“O Congado é muito forte na nossa cidade. Temos festas maravilhosas que reúnem 20 grupos em um mesmo dia. Saúva, Eltão e Pelé (membros da Congadar) cresceram nessas festas e participando das Folias de Reis no Garimpo, como é conhecido o bairro Santa Luzia em Sete Lagoas, um importante berço da cultura negra da cidade. Então, como eles vieram desse berço cultural, a coisa soou natural” conta Marcão Avellar, guitarrista e co-fundador da banda.
“Ao trazermos o Congado para a frente do palco, para os holofotes, acredito que chamamos a atenção das pessoas para essa manifestação essencial na construção da cultura mineira. Os grupos que existem em nossa cidade, por exemplo, são símbolos de uma imensa resistência cultural. A gente vê o amor, a devoção e a força que mantém essa ancestralidade viva, mesmo com pouco apoio ou mesmo reconhecimento da tamanha importância que eles têm.”
O analógico como fundamento
Indo em contramão às lógicas de produção musical que se apresentam na atualidade, a Congadar optou por gravar a obra de forma totalmente analógica. Assim, “Morro das Três Cruzes” foi gravado no estúdio ForestLab, do produtor Lisciel Franco, conhecido por ter como prioridade a gravação analógica em fita, processo usado previamente aos anos 90. Os trabalhos se deram em fevereiro de 2023, em Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade na qual o estúdio é localizado.
“O Congadar é muito uma banda de palco, de tocar ao vivo. Nesse sentido, sentíamos que ainda faltava algo nas gravações. Fazendo algumas pesquisas, acabamos chegando no Lisciel Franco, que inclusive é de Belo Horizonte. Ele começou junto com o Matriz, ainda no Edifício JK. Então, começamos a assistir os vídeos dele, onde ele conta os processos de gravação e decidimos experimentar fazer esse EP com ele”, relatou Marcão.
“É claro que esse processo requer mais dos músicos. Portanto, se um erra, na maioria das vezes é preciso voltar toda a gravação. Não tem edição de copiar e colar uma parte na outra. É a banda tocando de verdade. Não tem Auto-Tune (programa usado para afinar as vozes), então os cantores tem que cantar afinados e, no nosso caso, ainda em coro. Mas, no fim, ficamos super satisfeitos com o resultado.”
“Morro das Três Cruzes” estará disponível em todas as plataformas de streaming, e você pode fazer o pré-save pelo link.