Contas acumuladas, receitas quase no zero e saudades da cultura. É esse o cenário que os proprietários de casas de shows autorais de Belo Horizonte encontram hoje. Desde meados de março, espaços como A Obra, A Autêntica e Matriz, estão fechados. Dessa forma, a renda, que antes vinha da bilheteria e do bar, não entra mais. Para se manterem vivos, e ainda produzindo cultura, eles têm se reinventado. Vendas por delivery, lives e vaquinhas online são algumas das estratégias adotadas.
Segundo um levantamento sobre o impacto da Covid-19 na economia da cultura, feito por pesquisadores da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, durante três meses sem funcionar, o setor cultural, que inclui as casas de shows, deixou de faturar R$ 11,1 bilhões. Sendo assim, o índice representa uma redução de 21,2% no valor bruto da produção em relação ao mesmo período do ano anterior.
Efeitos na prática
Tal impacto Leo Moraes, responsável pela A Autêntica, já tem sentido no bolso. “Os prejuízos diretos são de R$ 40 mil por mês”, conta. Já n’A Obra, Marcelo Crocco revela que o dano não é só financeiro, é também psicológico. “Acumulamos uma dívida de R$ 30 mil por mês e a tristeza de não poder contribuir com a cultura”.
Na Matriz, os prejuízos também vão além de um caixa no vermelho. “Na parte cultural, deixamos de fazer muitos eventos. Só no mês de março iriamos receber mais de 20 atrações. Uma agenda que estava fechada até agosto. Agora, somamos gastos fixos de R$ 12 mil por mês”, salienta Edmundo Correa, um dos responsáveis pela casa.
Estratégias
Reverter esse cenário tem sido cada dia mais difícil. Sendo assim, sem saber quando vão poder abrir as portas novamente, as casas de shows têm traçado alternativas tanto para ajudar no orçamento, quanto para continuar contribuindo com a cultura local.
A Matriz, por exemplo, adotou vendas de alimentos e bebidas naturais por meio de delivery, a Casa Mãe. A Obra também vende o estoque de bebidas por tele-entregas e, assim como A Autêntica, tem realizado lives com artistas locais. Segundo os proprietários, é uma forma de conscientizar sobre a importância das pessoas ficarem em casa. As duas últimas casas ainda contam com ajuda do público por meio e vaquinhas online.
A decisão de Edmundo Correa e Andreia Alves Diniz, proprietários da Matriz, de venderem alimentos e bebidas naturais veio de uma filosofia de vida e de aprendizados adquiridos com a família. “Sendo assim, criamos o delivery para ter uma renda extra. Vamos compartilhar com público chás, sucos e comidas saudáveis e naturais. Tudo direto da nossa horta. Além disso, vamos vender o que sobrou do estoque da casa. Quem nos abrigará neste momento é a Casa do Jornalista”, conta Edmundo. As encomendas podem ser feitas pelo número (31) 99743 1692.
Lives e vaquinha
Os pedidos na Obra podem ser realizados pelos números (31) 3215-8077 e (31) 98441-1198. Além disso, para pagar as contas, está com uma campanha de financiamento coletivo. Já na parte cultural, A Obra tem transmitido, pelo Instagram e Facebook, uma programação diversa com shows, festas e conversa com o fundador Cláudio Pilha.
“Devemos ser resilientes, absorver os impactos e ter bom senso para atravessar uma crise como esta. As manifestações e contribuições do público nos motiva a tentar resistir para reabrir quando a pandemia passar”, diz Marcelo Crocco.
Pelo Instagram a Autêntica está com uma programação de shows com artistas locais. As apresentações são realizadas às terças, quartas e sábados, de 19h às 20h. São duas atrações por dia que duram cerca de meia hora cada. Tem, ainda, a , que faz parte da campanha Brinde do Bem, da Heineken. “Ainda estamos tendo conversas para um apoio emergencial por meio de algumas empresas. Além de ações pontuais. Dessa forma, a gente tenta retomar com a programação”, explica Leo Moraes.