Em evento na Livraria Quixote, que também vai contar com Julia Panadés, a autora e artista Edith Derdyk lança “O Corpo da Linha”
Nesta quinta-feira, dia 5 de dezembro, a Livraria Quixote sedia o lançamento do livro “O Corpo da Linha: Notações sobre desenho”, no qual a autora, Edith Derdyk, alinhava aproximações nucleares entre a constituição orgânica e a atividade construtiva da linha com os bastidores do ato de desenhar. O livro traz a chancela da editora Relicário. A ocasião vai contar com a presença da artista Julia Panadés, que participa de um bate-papo com a pintora, desenhista, designer gráfico e escritora paulistana, atualmente com 69 anos.
Como explicita o material direcionado à imprensa sobre a obra, Edith vê a escrita como “um esboço que almeja tocar a célula da linha, o grão da linha, o DNA da linha”, antes de esta executar alguma forma figurada ou representacional. Ou seja, “indagar do que é feito o corpo da linha e fabular esse corpo será o impulso nutritivo que anima tal escrita”, argumenta. Assim, “O Corpo da Linha” se caracteriza como um livro orgânico, que comporta muitas trilhas possíveis. Com texto filosófico e poético, Derdyk efetiva, na obra, interseções com suas experiências anteriores, bem como com processos de outros artistas.
Diálogos
Para a composição dos textos e imagens de “O Corpo da Linha”, Derdyk dialoga com nomes como Flavio Motta, Mário de Andrade e Vilanova Artigas, além de Tim Ingold. Do mesmo modo são incorporadas as experiências de Fernand Deligny, as expressões sobre a linha de Deleuze e, tal qual, ressonâncias da poesia de Fernando Pessoa e João Cabral de Melo Neto. Não bastasse, as reflexões de artistas como Amilcar de Castro e Ingres.
Uma das mais representativas artistas contemporâneas das artes visuais e da palavra, Edith Derdyk entrelaça, na publicação, imagens poéticas e inserções informativas e históricas que desconstroem a compreensão tradicional da linha no ambiente de aprendizagem. Neste movimento, desafia a persistência dos cânones clássicos, que, releva o material alusivo ao livro, ainda presentes nas práticas artísticas e educacionais.
Sem amarras
Segundo aponta a pesquisadora Cristina Paiva no texto de capa, “Derdyk parte de uma investida crítica contra usos e noções cristalizadas que aprisionam nosso modo de pensar e de nos comunicarmos”. Desse modo, opera um desmonte poético desses sistemas, revelando as origens históricas e culturais de determinadas restrições e usos, e questionando essas limitações.
Composições corporais
No livro, Edith Derdyk atribui 18 “composições corporais” à linha, como “linha-membrana” e “linha-performativa”, e classificados numa gramática da linha. Embora se enquadre num sistema, a linha tem corpo e é repleta de subjetividades. “Mais do que metáfora, a linha, em si, é o próprio desenho da vida, em incessante (per)curso”, opina Edith. “Elemento constitutivo do desenho, entendo a linha como sendo estruturante para o pensamento e a percepção: é partitura coreográfica”.
A linha, aqui compreendida por Edith Derdyk como um corpo que transita nos tempos e nos espaços, marca presença na vida de muitos modos. “Nos fluxos, nas cartografias, nas manifestações da natureza, nas relações afetivas, nas dinâmicas sociais, nas intensidades dos desejos… Enfim, no modo como organizamos e realizamos todas as nossas atividades”, afirma a autora.
Memória sensorial
Em suas memórias, Edith remonta à infância para relembrar os primeiros contatos com a linha. Precisamente, numa cena de rabiscar em uma lousa. “A vantagem da passagem do tempo, nosso aliado e nosso inimigo, avançando sobre nossas vidas, é ir costurando as memórias e projetando futuros”. Neste fluxo, prossegue, é possível perceber o que fica e o que escapa agora (“já, no presente”). Sobre a cena citada, ela diz ser uma memória sensorial. Uma cena que ficou gravada na sua matriz corporal. “São enigmas que refletem nossas mitologias pessoais: sabe-se lá por que que o gesto do rabiscar, em si, preponderou como campo de sentidos sobre a necessidade representacional”.
Fato é que o enfrentamento físico do gesto de desenhar a conectou às fabulações sobre a origem do desenho. “À necessidade de investigar que a ação de produzir linhas são imantadas por uma memória coletiva e atávica”, explica a autora. “O corpo da linha é o casulo de uma vida”, diz, por seu turno, a artista Julia Panadés, no texto de apresentação. Para ela, este é um livro que “poderia ser ensaiado em um espaço cênico. A maquinaria têxtil, o ateliê de costura, a trama na confiança da urdidura. O ensaio da linha desenha o desenho, mas não apenas: Edith encena aquilo que ensina, e o faz na enumeração giratória do novelo”.
Serviço
Lançamento do livro “O Corpo da Linha”, de Edith Derdyk
Quando. Nesta quinta, dia 5 de dezembro, a partir das 19h.
Onde. Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)