“Jogo que Jogo”, organizado pelo professor Gustavo Cerqueira Guimarães, traz 145 poemas de Marcelo Dolabela, distribuídos em nove séries
Patrícia Cassese | Editora Assistente
O editor, escritor e professor (doutor em Estudos Literários/UFMG) Gustavo Cerqueira Guimarães entende que a obra do poeta, pesquisador, artista multimídia, roteirista e músico brasileiro Marcelo Dolabela (Lajinha, 1957 – Belo Horizonte, 2020) possui uma força transformadora imensa. De tal forma que transcenderia as páginas dos livros. “Sem dúvida, ele se destaca como um dos poetas mineiros mais influentes desde o final dos anos 1970”, aponta. Foi, pois, com um senso de responsabilidade imensa que Gustavo se dispôs a organizar o livro “Jogo que Jogo”, que será lançado neste sábado, no Espaço Cultural Mama/Cadela, no bairro Santa Tereza.
“Jogo que jogo” (Impressões de Minas, 160 páginas) traz 145 poemas de Marcelo Dolabela, distribuídos em nove séries. Destes, 37 são inéditos. Portanto, o conteúdo cobre décadas de produção do poeta mineiro, cuja estreia na literatura se deu em 1978, com “Através das Paredes” e “Arte Suor Souvenir”. Gustavo Cerqueira Guimarães assina o texto de apresentação. Já Wilberth Salgueiro, poeta e pesquisador da UFES, se incumbiu do posfácio, enquanto Ana Martins Marques, da orelha do livro.
O título
O título do livro, “Jogo que Jogo”, é derivado de “Poesia”, do livreto “Árvore”, de Marcelo Dolabela e de seus irmãos Marconi e Marlon, editado em Belo Horizonte e Lajinha, em 1982. “Sim, este é o jogo que eu jogo”, diz o poeta, já no primeiro verso.
O lançamento
O evento de lançamento acontece das 16h às 20h, e terá, como apresentador, Carlos Augusto Novais. Às 16h20, haverá a apresentação do livro por Gustavo Cerqueira, seguida de leitura de um poema. Já às 16h35, o público vai conferir à mini-peça “Abismo & abismo”, por Ana Gusmão. Às 17h, Duzão Mortimer e Marcos Pimenta. Na sequência, às 17h50, show do Divergência Socialista. Finalmente, às 18h20, leitura de um poema e encerramento.
De acordo com Gustavo, com quatro décadas de produção literária intensa, Marcelo Dolabela merece, e muito, ter suas obras mais difundidas nas instituições de ensino, do fundamental ao universitário. “Dolabela precisa ser lido/visto/ouvido com mais atenção pelos educadores, uma vez que seus poemas podem ser apreciados por pessoas de todas as idades”. Aliás, no posfácio, Wilberth Salgueiro destaca que “uma palavra-chave para se aproximar da poesia de Marcelo Dolabela é ‘diversidade’.
Embrião
Perguntado sobre a gênese da publicação, Gustavo Cerqueira rememora que, em 2021, foi instituído em Lajinha (localizada na Serra do Caparaó, divisa com Espírito Santo) o Dia Municipal da Cultura, em homenagem a Dolabela. Aliás, precisamente no dia do nascimento do poeta, ou seja, 17 de setembro. Vale lembrar que, em janeiro de 2020, ou seja, dois anos de sua morte, Marcelo construiu um apartamento na terra natal.
Nos dois primeiros anos, prossegue Gustavo, a Secretaria de Cultura do município homenageou um artista da cidade. “No entanto, no ano passado não houve qualquer evento. Em reunião com os responsáveis pela cultura, percebemos a importância de promover, sobretudo, a leitura de Dolabela nas escolas. Porém, não havia livros nas bibliotecas e, consequentemente, o projeto não havia angariado mais leitores. Nem mesmo os professores e agentes da cultura – muito, claro, pelas especificidades da obra dele, que circulou às margens do circuito comercial”.
Projeto
Foi, pois, com o intuito de suprir essa necessidade que emerge a ideia de criar um livro de poesias de Dolabela. “Porém, acompanhado de atividades complementares direcionadas para os docentes do ensino fundamental e médio de Lajinha. Isso porque recentemente fui contratado como coordenador de português na secretaria de educação”. Antes disso, registre-se, Gustavo havia passado quatro anos em Maputo, Moçambique, lecionando literatura na Universidade Eduardo Mondlane.
Ele reconta que, a partir da Lei Paulo Gustavo, foi proposto o projeto denominado “100 poe-mas para pequenos e jovens leitores”, visando a distribuição dos exemplares em escolas e entre os agentes promotores da leitura na cidade. “Entretanto, devido à escassez de verba destinada à publicação de livros, a implementação do projeto de atividades baseadas nesta coleção ficaria para uma futura oportunidade”.
Já a seleção para o livro foi rápida, devido à familiaridade dele com a obra de Dolabela. “Além de, ultimamente, também pesquisa-la. Apresentei, inclusive, um estudo sobre o poema ‘Lajinha revisited #17’ no 15º Congresso Alemão de Lusitanistas, em Zwickau, em 2023. Com o sucesso dos poemas reunidos, houve a aproximação, com a devida autorização, entre mim e os excelentes editores Wallison Gontijo e Elza Silveira, da Impressões de Minas. Decidimos, então, renomear o livro para alcançar um público maior, mantendo seu aspecto lúdico (e iniciático)”. Gustavo adiciona que o designer Julio Abreu está integrado ao projeto desde o início.
Processo de feitura
Perguntado se houve alguma etapa mais intrincada durante o processo de feitura de “Jogo Que Jogo”, Gustavo revela que a tarefa mais desafiadora foi coordenar meticulosamente todas as etapas do processo editorial para garantir o lançamento até a última semana de julho em Lajinha. Desafio vencido com sucesso, graças aos editores. “Estou falando de realizar com precisão e cuidado a compilação de uma antologia de 160 páginas em apenas quatro meses. Ou seja, seleção dos poemas, design gráfico, formatação, revisão, impressão, bem como a redação da apresentação, da orelha e do posfácio”.
Amizade
Gustavo conta que sua interação com Marcelo Dolabela se estendia principalmente pelo circuito artístico de Belo Horizonte e pelos bares ao redor do (edifício) Maletta. “Desde que cheguei de Lajinha para estudar na capital, nos anos 1990, nos encontrávamos ocasionalmente nesses locais, sem marcar encontros com frequência. Vê-lo no Maletta sempre trazia certa sensação de conforto. Nossos pais eram amigos. Minha mãe foi sua professora nos dois primeiros anos primários. Sem dúvida, nossa ligação passa por aí”. O também poeta ressalta que sempre admirou Dolabela por ter se tornado um renomado poeta sem nunca abandonar suas memórias lajinhenses. “Aliás, como é evidenciado em ‘Jogo que Jogo'”.
Como a própria apresentação da obra ressalta, entre as várias vertentes de atuação do Marcelo Dolabela, ele era, também, colecionador – em particular, de livros e discos. Sendo assim, o Culturadoria perguntou a Gustavo como estão, hoje, tais acervos. Ele explica que todas as coleções de Dolabela estão sendo catalogadas pela viúva do poeta, Regina Guerra. Assim, a biblioteca, que contém vasta quantidade de livros de poesia independente mineira, encontra-se no apartamento onde ele residia, na Rua da Bahia. “Enquanto os discos, na sala comercial dele, no Edifício Maletta. Aliás, algumas informações sobre essa discoteca já estão disponíveis para consulta no portal do poeta, na seção “Bibliodiscografia” (https://marcelodolabela.com.br)”, alerta.
Inéditos
Sobre os poemas inéditos, Gustavo Cerqueira destaca a seção “Futebol de poesia”, presente na antologia Pelada poética organizada por Mário Alex Rosa, assim como nas revistas acadêmicas Em Tese e FuLiA/UFMG. “Além disso, a seção “Haicais juvenis” apresenta 20 poemas que abordam temas característicos da adolescência, proporcionando uma reflexão muito sensível sobre essa fase da vida”.
Serviço
Lançamento do livro “Jogo Que Jogo”
Quando. Sábado, 10 de agosto de 2024, das 16h às 20h
Onde. Mama/Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048, Santa Tereza)
Programação
Apresentador: Carlos Augusto Novais
16h20 – Apresentação do livro “Jogo Que Jogo”, com poemas de Marcelo Dolabela, pelo organizador, Gustavo Cerqueira
16h30 – Leitura de um poema
16h35 – Mini-peça Abismo & abismo, por Ana Gusmão
17h – Duzão Mortimer e Marcos Pimenta
17h50 – Divergência Socialista
18h20 – Leitura de um poema e encerramento