Curitiba – O público de Belo Horizonte pode aguardar. A produção da peça Dogville contou que negocia para o segundo semestre uma temporada do espetáculo no Centro Cultural Banco do Brasil. Se prepare pois, se o filme já era forte, a proximidade do palco no Teatro I do espaço tende a potencializar a relação da plateia com o tema.
Dogville é uma produção carioca baseada no filme de mesmo nome do diretor Lars Von Trier. Lançado em 2003, com Nicole Kidman como protagonista, o longa causou o maior bafafá entre a crítica da época pela intensa experimentação de linguagem. O diálogo com o teatro, para além da história contada, foi algo que marcou muito.
Versão
Pois na versão teatral dirigida por Zé Henrique de Paula há uma inversão. No caso, o teatro é a linguagem “principal” que dialoga com o cinema. Muito por isso, os aspectos estéticos da montagem chamaram mais a minha atenção na estreia da peça no Festival de Teatro de Curitiba.
A história é a mesma do filme. Grace, papel de Mel Lisboa, chega fugida em um vilarejo chamado Dogville e, para ser aceita, passa a servir os moradores locais. Ela sofre todo o tipo de abuso possível e, no fim das contas, a discussão que o texto propõe é sobre a relação entre o humano e o poder.
“Os assuntos que a peça aborda infelizmente estão fazendo um sentido absurdo hoje em dia, principalmente no Brasil”, ressalta Mel Lisboa.
Aspectos técnicos
De acordo com o diretor Zé Henrique de Paula, no início do processo, todas as vezes que comentava que estavam trabalhando sobre a montagem, a principal referência na memória das pessoas eram os riscos no chão. No filme de Lars von Trier as casas não tem paredes. São apenas sinalizações no chão do estúdio, que muito se parece com um palco.
Sendo assim, o primeiro exercício era criar outras referências para a plateia. Dessa maneira, no primeiro momento Dogville é essencialmente teatral. Depois começam a ser inseridas imagens captadas ao vivo do elenco. É curioso que o diretor propõe um espelhamento. Uma convivência entre teatro e cinema. Em um terceiro momento, há o diálogo mais aberto entre as artes.
Elenco
São 130 minutos de espetáculo e, se você um dia assistir, se prepare. A história é densa e você precisará de um nível de atenção maior. Dogville, a peça, também é uma curva fora do padrão no que se refere ao elenco. São 16 atores no palco e outros dois que fazem participação no filme. Nem me lembro a última vez que vi uma peça com tanta gente e que não fosse musical.
Assim como no filme, Dogville no palco impacta. Desperta reflexões sobre o papel da mulher, sobre o poder, sobre humanidade. Mas, no meu caso, surpresa maior veio da parte técnica. O “bate-bola” entre cinema e teatro ficou na medida exata.
Culturadoria está em Curitiba a convite do Festival de Teatro