
Cena do documentário 'Por um triz', sobre os bastidores de criação do Grupo Corpo. Foto: Camisa Listrada/Divulgação

Cena do documentário ‘Por um triz’, sobre os bastidores de criação do Grupo Corpo. Foto: Camisa Listrada/Divulgação
Podem até existir processos criativos que sejam mais tranquilos. Árduos sempre serão. É essa a impressão que fica depois de ver o documentário Por um triz, dirigido por Eduardo Zunza e produzido pela Camisa Listrada. O filme, que estreia nesta terça (28) no canal Curta! às 21h30, acompanha os meses finais de criação da coreografia Triz, balé que o Grupo Corpo estreou em 2013 no Palácio das Artes.
É um avesso inédito na história de 40 anos da companhia mineira. É um lado sem glamour, muito suor e também uma obra necessária para a desmitificação dessa arte. Não tem mágica não. Dá trabalho, exige dedicação, persistência, perseverança, estudo, companheirismo e muita paixão.
Triz não foi uma montagem simples para o Corpo. O coreógrafo Rodrigo Pederneiras foi diagnosticado com um sério problema no tendão do ombro (com direito a recuperação de uma cirurgia) seis meses antes da estreia, marcada para agosto de 2013. Para complicar o quadro, em maio daquele ano o coreógrafo rompeu o menisco do joelho.
A ideia da filmagem partiu, então, de uma necessidade. Para que Rodrigo acompanhasse os primeiros ensaios, as bailarinas Jaqueline Gimenez e Carolina Amares registraram movimentações com as próprias câmeras. Por que não fazer um filme com isso?
Mas o problema de Rodrigo Pederneiras é apenas o ponto de partida para o documentário. No fundo, o longa é o registro de um processo. Repito: é um avesso inédito do Grupo Corpo que dá a dimensão do quão complexo é aquilo que eles criam anualmente.
A estrutura do documentário aposta bastante na voz em off. Se por um lado coloca o esforço dos bailarinos em primeiro plano – já que a maior parte do filme tem imagens de ensaios – isso acaba camuflando a experiência individual de quem fala. Quando não são os diretores que estão falando (eles sempre aparecem), grande parte dos testemunhos em off compõe um mosaico de vivência.
Embora o resultado seja do conjunto, senti falta de conhecer mais sobre os percursos individuais daqueles que compõe o coletivo.
https://www.youtube.com/watch?v=PALlOyX0X9I&feature=youtu.be
FÁBRICA
Criar um espetáculo de dança é como colocar uma fábrica para funcionar. Enquanto Rodrigo Pederneiras e os bailarinos trabalham para descobrir como traduzir a música de Lenine em movimento, Paulo Pederneiras quebra cabeça com o cenário, discute figurino com Freuza Zechmeister, pensa na luz, no nome, conversa com Pedro Pederneiras sobre a estrutura técnica e por aí vai. Isso sem dizer na dificuldade de batizar a obra.
Todos tem voz. Mas as que mais me surpreenderam foram as dos bailarinos. Talvez por isso queria uma identificação mais clara sobre quem diz o quê. Acompanhar os ensaios e ouvi-los dá a dimensão do quanto a “invenção” dos Pederneiras não é simples. Nunca foi. São 40 anos de desenvolvimento de uma linguagem corporal, muito particular, conhecida, consagrada mas que, pelo que o filme revela, procura novos caminhos. O grau de dificuldade não importa.
Vale o desafio. Independentemente do tamanho.
Por um triz estreia na grade de programação do canal Curta! (nos canais 56 da NET, 132 na GVT, 76 na Oi TV, 664 na Vivo TV e 69 na Claro TV).
FICHA TÉCNICA: POR UM TRIZ
Longa / Documentário / 90 minutos
Ideia original: Carolina Amares e Jacqueline Gimenez
Direção e Roteiro: Eduardo Zunza
Produção: André Carreira e Júlia Nogueira
Produção Executiva: Júlia Nogueira
Direção de Fotografia: Gustavo Pains
Montagem: Joana Rennó
Trilha Sonora: Lenine
Produção e Realização: Camisa Listrada
Coprodução: Quarteto Filmes
Correalização: Grupo Corpo