Com direção de Locca Faria, “Nas Ondas de Dorival Caymmi”, em cartaz no Una Belas Artes, coloca em repasse a trajetória de uma legenda
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Nas proximidades do Forte de Copacabana, uma estátua de Dorival Caymmi está de frente para o mar. Sim, foi no icônico bairro que o cantor e compositor soteropolitano faleceu, em agosto de 2008, aos 94 anos. Mas, mais que ser o CEP deste gigante da MPB, o local coube como uma luva para a homenagem pelo fato de a escultura estar posicionada justamente em frente a onde ficam os barcos dos pescadores. O mar e a vida dos profissionais que dia a dia nele se arriscam para garantir o alimento de todo o dia sempre foram inspiração para Caymmi. E sobre essa bela história de amor – bem como sobre outros pontos de uma trajetória riquíssima – que se debruça o documentário “Nas Ondas de Dorival Caymmi”, em cartaz no Una Belas Artes.
Participações
Dirigido por Locca Faria, produzido por Helio Pitanga e pela Bossa Produções, o filme mistura imagens de arquivo com depoimentos dos filhos Dori, Nana e Danilo Caymmi, bem como de artistas, pesquisadores, críticos e amigos que conviveram com Dorival. Caso de Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Paulo César Pinheiro, João Bosco e Hermínio Bello de Carvalho. Aliás, a primeira cena traz justamente Bethânia, que, para o depoimento, se ergue da cadeira, explicando que o nome de Caymmi deve ser proferido de pé.
Além dos já citados, o documentário traz, ainda, falas de João Bosco, Nelson Motta e Alfredo Del-Penho; bem como imagens póstumas de depoimentos de André Midani e Gal Costa. E, ainda, de Sergio Mendes, falecido em setembro deste ano.
Particularidades
São fartos, os elogios destinados ao também poeta, pintor e ator. Emocionada, Nana Caymmi lembra o privilégio de ter sido ninada por ele, que entoava “Boi da Cara Preta”. “Ninguém teve isso, só eu”, diz, orgulhosa. Também revela que o pai tinha paixão por Noel Rosa, que, no entanto, não chegou a conhecer. A simpática Dinahir Caymmi, irmã de Dorival Caymmi, lembra uma característica curiosa do artista. ligada ao seu sentimentalismo: ela diz que, várias vezes, acordava e ele estava na mesa, chorando.
Já em filmagens de arquivo, o próprio Caymmi aparece falando que sempre foi de rir sozinho, “dormindo, no banheiro, internamente, pra dentro”. E que também tinha o hábito de falar sozinho.
Loas
João Bosco diz que Caymmi foi um pilar fundamental da música brasileira. Caetano Veloso lembra do apreço de Carlos Drummond de Andrade ao compositor. Tárik de Souza enfatiza que Dorival fundou uma escola. Já Paulo César Pinheiro rememora os baluartes que se curvaram ao talento de Caymmi, como Radamés Gnatalli e Heitor Villa-Lobos. Hermínio Bello de Carvalho atenta para o fato de que o baiano era uma espécie de ourives da palavra e da melodia.
Um aspecto interessante, levantado por vários, é que Dorival Caymmi nunca foi um compositor profícuo, privilegiando sempre a qualidade, e não a quantidade. Bethânia, aliás, lembra a filosofia do “menos é mais” para se referir a ele. Enquanto isso, Gilberto Gil complementa, falando que o baiano nunca foi seduzido “pela mítica da quantidade”.
Carmen Miranda
A parceria com a cantora e atriz Carmen Miranda (1909 – 1955) tem atenção especial no documentário. Assim, Tárik de Souza lembra que foi Caymmi que lançou a palavra “balangandã”. Já Sergio Mendes ressalta que foi por meio da gravação de “O Que é Que a Baiana Tem?” que se deu a grande entrada de Dorival Caymmi no mundo da música. Outro ponto abordado tem muito a ver com essa dobradinha com a cantora que, mesmo tendo nascido em Portugal, tornou-se um ícone da brasilidade. É que foi por meio dela que a música brasileira começou a transcender fronteiras, ou seja, bem antes da Bossa Nova.
No mais, tem nomes da nova geração, como BNegão, cantando Caymmi. E, nas imagens de arquivo, Renato Russo com Caymmi, bem como uma cantoria em torno de Jobim ao piano, entusiasmadíssimo, e ao lado do baiano. No entorno, Paula Morelenbaum, Danilo Caymmi e outros. Em síntese, não há como se deliciar com o documentário, que tem um excelente trabalho de edição.
Coprodução Canal Brasil e Rio Filmes. Distribuição Bretz Filmes.
Confira, a seguir, o trailer
Serviço
“Nas Ondas de Dorival Caymmi”
Una Belas Artes (Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes)