Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

“O Dia Que te Conheci” escava a poesia na vida ordinária

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Dirigido por André Novais Oliveira, “O Dia Que te Conheci”, em cartaz na cidade, mostra que, na luta cotidiana, há espaço para bons encontros

Patrícia Cassese | Editora Assistente

De supetão, não são tantos os exemplos que acorrem à mente, mas sim, sabemos. Há um bom número de filmes (muito interessantes) cuja narrativa se desenrola em um curtíssimo espaço de tempo, por vezes, um dia. Um clássico desse escaninho é “After Hours”, de Martin Scorsese. Em exibição na capital mineira, “O Dia Que Te Conheci”, de André Novais Oliveira, alinha-se a esse filão com um viés tão diferente quanto sedutor: trata-se de uma “comédia romântica de conformações próprias”, digamos assim.

Grace Passô e Renato Novaes em cena de "O Dia Que Te Conheci" (Frame)

Ou seja, diferentemente dos clichês que costumam pautar o gênero, os personagens centrais de “O Dia Que Te Conheci” – Zeca (Renato Novaes) e Luísa (Grace Passô) – vão soar muito mais familiares e críveis aos espectadores das grandes cidades do Brasil. Isso porque o longa da Filmes de Plástico (em coprodução com o Canal Brasil) se esmera em fincar os pés na vida real, ordinária. No cotidiano de duas pessoas que espelham tantas e tantas outras. Rostos, corpos e almas que seguem os dias do calendário sem grandes pretensões e sem abrir espaço a projetos grandiosos.

Carona oportuna

No caso, os dois trabalham no mesmo local, uma escola infantil, mas, por atuarem em setores diferentes, pouco convivem. Ele, por exemplo, é o responsável pela biblioteca da instituição de ensino, e mantém uma ótima relação com os alunos. Até que, no dia em que a trama de “O Dia Que Te Conheci” transcorre, Luísa é incumbida de dar uma notícia não muito boa para o colega. Na rebarba deste acontecimento, Luísa oferece a Zeca uma carona até o Centro, onde planeja se encontrar com uma amiga. No trajeto, em meio ao trânsito pesado do fim do dia, e, na sequência, já à noite, a pé, caminhando por vias como a Rua da Bahia, os dois vão trocando confidências. E, nesse compasso, encontrando pontos comuns.

Paisagens horizontinas

E como citamos a Rua da Bahia, vale dizer que, já de imediato, a atenção do público belo-horizontino será fisgada pela familiaridade que fatalmente se estabelece a partir da visão de locações como o entorno do edifício Maletta ou o baixio do Viaduto de Santa Tereza. Mas não só. Em meio à trilha pela qual o relacionamento dos dois avança, ou mesmo antes, pipocam situações comezinhas. Caso do colega de casa de Zeca, que, logo no início do filme, conversa com ele enquanto corta as unhas do pé. Ou do ônibus que estraga no meio do trajeto, provocando uma pequena onda de indignação daqueles que dependem do transporte público para chegar ao trabalho.

Detalhes

Na pastelaria, enquanto esperam a chegada de um outro ônibus, para dar continuidade ao percurso, Zeca e um outro passageiro vivenciam a demora em um atendimento que tinha tudo para ser rápido (só que não), ao mesmo tempo em que se estarrecem ao notarem o dono do estabelecimento fumando enquanto frita os salgados. O corre para não perder o novo veículo demandado (já que, para chegar à pastelaria, eles precisaram, antes, cruzar um viaduto), o corpo que já chega ao trabalho cansado e suado, o atraso que, mesmo justificável, não sensibiliza o empregador…

Os diagnósticos psicológicos que os dois, como tanta gente, comungam, e que um revela ao outro com cautela (provavelmente com certo receio dos estigmas que ainda guiam a sociedade). O quarto desarrumado de Zeca. O conforto que Luísa sente ao se ver livre das tiras da sandália. A broa da padaria. O colega de residência que usa uma camiseta com os dizeres “nem tchuns”. A pedra da calçada que machuca os pés de quem anda de chinelos pela rua. É este redemoinho de momentos banais – pontuados pelo humor – que “O Dia Que Te Conheci” evoca um, digamos, riso cúmplice, solidário (de forma alguma o debochado) do público. São nestes detalhes que o filme se engrandece e cativa.

Chamarizes

Tudo isso somado às boas atuações (zero surpresa), a uma excelente trilha sonora e a enquadramentos muito bacanas, como o da cena inicial, fazem de “O Dia Que Te Conheci” um filme terno e aprazível. Em pouco mais de uma hora (precisamente, 71 minutos), um momento de (re) conforto. Uma pausa necessária para uma vida de perrengues que, se os personagens Zeca e Luísa conhecem bem, tampouco é estranha a um bom contingente de brasileiros.

Confira, abaixo, o trailer

Ficha Técnica

Direção e Roteiro: André Novais Oliveira
Produção: Filmes de Plástico
Produção: Thiago Macêdo Correia e André Novais Oliveira
Coprodução: Canal Brasil
Direção de Arte: Esther AZ
Fotografia: Ronaldo Dimer
Elenco: Grace Passô, Renato Novaes, Kelly Crifer, Fabrício FBC

Serviço

“O Dia Que Te Conheci” (Brasil, 2023, 71 minutos)

Em cartaz no Una Cine Belas Artes, às 19h20 e às 20h40.

e no Minas Tênis Clube, em horários variados (clique aqui)

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