Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Desafios do Cinema da Retomada e mitos da formação do Brasil são destaque em bate-papo da 16ª CineOP

As cineastas Ana Carolina, Carla Camurati e Lúcia Murat participaram da roda de conversa Revisão dos mitos de formação e falaram sobre seus filmes disponíveis na programação da mostra online

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Nos anos 1990, o cinema brasileiro foi sucateado pelas manobras do governo Fernando Collor de Mello. Exemplo disso foi a extinção da Embrafilme, produtora e distribuidora fundamental para os realizadores, fundada em 1969. Depois disso, aos poucos, o cinema foi tomando novo fôlego com políticas públicas que favoreceram a produção cinematográfica no país. Surgia o Cinema da Retomada. O período foi um dos temas centrais na Roda de Conversa Revisão dos mitos de formação na 16ª CineOP, que ocorre até o dia 28 de junho.

A conversa recebeu as cineastas Ana Carolina, Carla Camurati e Lúcia Murat. Elas falaram sobre os filmes, Amélia, Carlota Joaquina – Princesa do Brazil e Brava gente brasileira respectivamente. Atrelado ao contexto histórico da retomada, o bate-papo também tratou sobre alguns dos mitos de formação do país, que foram rediscutidos ficcionalmente nos filmes das diretoras convidadas para o bate-papo de formas diferentes, mas com um ponto em comum. Os três longas tratam do passado do Brasil, fundamentalmente sobre a colonização e os mitos de formação. Entre eles, a resposta de povos indígenas à colonização e a chegada da família real. 

A produção cinematográfica em tempos de retomada

Além de falar sobre os trabalhos especificamente, a conversa foi permeada por muitas memórias de tempos difíceis. Carlota Joaquina, por exemplo, foi o primeiro filme brasileiro a alcançar mais de um milhão de espectadores depois do fim da Embrafilme.  “Eu não tinha dinheiro para fazer um filme realista. Não tinha como ficar falando de como o Brasil foi um país maltratado, usurpado. Então, queria falar disso como uma paródia. Em uma comédia”, detalha Carla Camurati ao comentar que o desmantelamento do cinema brasileiro foi decisivo para escolher o tom da narrativa.

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Imagem do filme "Carlota Joaquina - Princesa do Brasil. Crédito: Copacabana Filmes

O filme, símbolo do período, reavivou as memórias da cineasta sobre a personagem que considera uma das mais interessantes da história do Brasil, que a impressionava desde a infância. 

Por outro lado, Amélia, de Ana Carolina, estava em desenvolvimento quando a Embrafilme acabou e precisou mudar a concepção original até ir para as telas. Entretanto, o processo demorou uma década. “Eu peguei o ‘grande não’. Foram dez anos recebendo não: não tinha equipamento, não tinha equipe, não tinha nada. Foram anos horrorosos que infelizmente estão se repetindo”, recorda a cineasta. A mudança na concepção original foi uma redução drástica no volume da obra. “Ele era mais exuberante e volumoso. Fui reduzindo e aproveitando para colocar no filme o sentimento de que eu não tinha nenhuma visibilidade como país, eu não representava nada”, detalha.

Amélia é uma obra de ficção inspirada na visita da atriz francesa Sarah Bernhardt ao Brasil. Ela estava em crise profissional e pessoal e é convencida pela sua camareira Amélia a se apresentar no Rio de Janeiro. Só que quando desembarca em terras brasileiras, Amélia morre e Sarah tem que lidar sozinha com a nova realidade. 

Relação país colônia e colonizador

A história tradicional do descobrimento do Brasil vem sendo contada há mais de 500 anos da mesma forma. Mas alguns episódios não ocorreram como de fato são relatados. Lúcia Murat recebeu na época da retomada um relatório militar de um amigo da região do Mato Grosso sobre a invasão do Forte de Coimbra. “Quando eu vi o documento eu achei fantástico. Isso porque subverte toda a história oficial da colonização; porque ela não é pacífica, porque a mulher indígena não é pacífica e porque os índios venceram nesse momento”, destaca Murat. Assim, começou uma forte relação com as pessoas daquela região ao mesmo tempo em que se aprofundava em pesquisas para realizar a ficção.

Dessa forma, Brava gente brasileira trata da questão dos conflitos culturais a partir de uma narrativa ficcional com trações e trechos da história real, uma característica das obras de Lúcia Murat. O mesmo ocorre com os outros dois longas que estiveram na mesa em níveis diferentes. Amélia, Carlota Joaquina – Princesa do Brazil e Brava gente brasileira estão disponíveis gratuitamente no site da 16ª CineOP até o dia 28 de junho.

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As cineastas Ana Carolina, Carla Camurati e Lúcia Murat falando sobre os filmes, Amélia, Carlota Joaquina – Princesa do Brazil e Brava gente brasileira na 16ª CineOP. Crédito: Print do YouTube da Universo Produção

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