Capitaneado por Julio Diaz Escalona, o restaurante celebra a culinária de Cuba por meio de deliciosos e generosos pratos
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Em Cuba, a palavra “paladar” designa algo mais que o “sentido responsável pela percepção de sabores dos alimentos”. Assim, se aplica também a restaurantes familiares, nos quais a refeição pode ser degustada em um cômodo da casa, por exemplo. A explicação torna-se necessária para apresentar o Paladar do Cubano, restaurante localizado na rua Conde de Linhares, no bairro Cidade Jardim, na zona Sul da capital mineira. A iniciativa é do chef Julio Diaz Escalona, simpático cubano que chegou ao Brasil precisamente no dia 7 de outubro de 2007, como ele orgulhosamente gosta de pontuar. Isso, após se apaixonar por uma brasileira. “Trabalhava em uma pousada, daí, uma brasileira se enamorou de mim. Assim, ficamos namorando, conversando…”, conta o anfitrião.
Ela voltou a Cuba seis meses depois e o incentivou a vir para o Brasil, sugestão que Julio acabou acatando. Lá, ele já trabalhava com gastronomia, mas não como proprietário de estabelecimento. “Mas cozinho desde pequeno, graças à minha mãe”, ressalva. Por aqui, foi em plena pandemia do novo coronavírus que, ao perder o emprego, resolveu aplicar o conhecimento culinário. O curioso é que a cozinha do país de origem de Julio não foi o foco imediato.
O início de tudo
Assim, Julio entrou em contato com a plataforma IFood, foi aprovado e, desse modo, começou a preparar os pratos para serem entregues por delivery. No início, era tudo ao mesmo tempo agora, como ele próprio conta, divertido. “Ou seja, comida chinesa, mineira, francesa, indiana, italiana, cubana…”, ri. Com tempo, Julio teve o insight de que tinha em mãos um diferencial e tanto: o lugar de legitimidade para apresentar, aos belo-horizontinos, a culinária cubana. Assim, os pratos “estrangeiros” saíram do cardápio. “E aí, quando coloquei a minha comida cubana, foi um sucesso”, brinda ele.
Párraga e Cienfuegos
Hoje, o Paladar do Cubano oferece uma mescla de iguarias de várias regiões da Ilha. “Se a pessoa prestar atenção no nome dos pratos, no cardápio, vai comprovar… Por exemplo, há um prato que se chama Párraga (e que consiste em filé de sobrecoxa grelhada com molho de mostarda e mel, moros y cristianos, abóbora cozida com molho cubano; abacaxi grelhado). É o nome de um bairro no qual morei em Havana”, comenta.
Do mesmo modo, Cienfuegos, cidade Patrimônio Mundial da Unesco, e conhecida como a “Pérola do Sul de Cuba”. O prato que leva este nome, por sua vez, consiste em tilápia grelhada com molho de tomatinhos e champignos, moros y cristianos, abacaxi grelhado e chips a escolher (batata doce, banana da terra ou inhame).
Moros y cristianos
Lembrando que “moros y cristianos” é arroz cozido junto com feijão preto e especiarias. Similar, pois, a outra iguaria presente no cardápio do Paladar do Cubano, o Congrí. Este consiste em arroz cozido junto com feijão vermelho e especiarias. No âmbito de um glossário, aliás, é pertinente também citar o que são os Tostones: trata-se da banana da terra frita em formato de moedas. Outra delícia de Cuba.
Julio comenta que não dá para apontar o prato mais pedido, posto que todos têm uma média de saída similar. Para a sobremesa, uma única, mas diferenciada, opção: um pudim. “É uma receita que eu mesmo criei. Ele é feito com leite Ninho, e não o condensado. E não leva açúcar”, diz ele, confessando que não é muito fã de sobremesas demasiadamente açucaradas. “Gosto do doce mais suave”.
Paredes customizadas
O ambiente do Paladar do Cubano faz toda a diferença. Uma atração é que o cliente pode deixar comentários e frases pelas paredes dos cômodos: basta pegar as canetas que estão ali, no corredor, disponíveis. Julio conta que a prática começou há um ano e meio. “Se fosse desde que o restaurante começou a funcionar, nem teria mais espaço”, orgulha-se ele, lembrando que a iniciativa foi inspirada no bar e restaurante La Bodeguita Del Medio, célebre estabelecimento localizado na capital de Cuba, Havana. “Lá, acho que já nem cabe mais”.
No Paladar do Cubano, há referências aos pratos preparados por Julio, mas também frases celebrando a identidade latino-americana, bem como de cunho político e pensamentos de nomes como Ernesto “Che” Guevara. No que tange a adornos, há de tudo, resultando em uma composição inspirada, perfeita para fotos adoráveis. “Tudo aqui é de lá: bandeira, quadrinhos, leques, maracas, cortinas… Sabe este quadrinho aqui? (aponta, na parede) Você não vai acreditar, tem cerca de 150 anos. Sério. Era do avô de um amigo meu, que é como um irmão. Quando vim para o Brasil, ele me deu”.
Conexão Minas-Cuba
E já que Julio citou o amigo-irmão, perguntamos se ele sente saudades de Cuba. “Muito. Já voltei lá e, em breve, irei de novo, ver minha mãe, meus irmãos… Todo mundo mora lá”, diz ele, que nasceu na cidade de Holguín. Apesar das saudades, Julio conta que adora os mineiros. “O jeito de ser de vocês se parece com o do povo cubano. E quando saboreiam a minha comida, ficam loucos”, diz ele, que se diverte com os comentários feitos em redes sociais. “Alguns usam palavrões (ri), mas no ótimo sentido”.
Da mesma forma, ele conta que, por meio da culinária, muitos brasileiros já se sentiram animados a conhecer Cuba. “Tem que ir, é lindo”, diz, sobre o país natal. Ah, sim… É o próprio Julio que prepara os pratos, na cozinha da casa. Então, a conversa com o Culturadoria só aconteceu quando ele teve um intervalo. O bom é que, lá, as pessoas de cada mesa acabam espontaneamente interagindo com as das outras – o que é ótimo. Ao fundo, uma setlist de músicas cubanas. Sim, ouvimos por lá Camila Cabello, cantando “Havana”, mas a maioria são músicas certamente pouco conhecidas pelos brasileiros – e deliciosas.
Serviço
Paladar do Cubano
Onde fica: Rua Conde de Linhares, 926 A, Cidade Jardim
Funcionamento: a casa não abre às segundas e terças. Às quartas, quintas e sextas, das 11h15 às 15h. Aos sábados e domingos, das 11h30 às 16h.