Foi um susto quando ainda no corredor do Teatro Wanda Fernandes do Galpão Cine Horto o ator e diretor Ítalo Laureano lembrou que o Grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum inicia agora as comemorações de seus dez anos de carreira. Fauna, o espetáculo mais recente do repertório abre a série de atividades que inclui a volta ao cartaz dos seis espetáculos que a companhia mantém em repertório.
Logo após o recado, gentilmente, ele pede que todos tirem os sapatos e coloquem em duas caixas pretas ao lado do palco. Assim, metaforicamente tirando o chão do espectador, o Quatroloscinco inicia a montagem que considero mais interessante de todas as que vi de sua trajetória. Desde É só uma formalidade (2007) vi ao todo quatro peças. Fauna é a preferida.
O fato de entrar sem sapato no palco desconcerta. Ao mesmo tempo em que gera insegurança (desconfiança?), chama o espectador ativamente para o jogo. Essa relação é imprescindível para o desenvolvimento da montagem. O negócio é chamar atenção mesmo, não para o sapato (ou sua falta), mas para o que você quer da vida, como leva a vida, o que vale nessa vida. Será que alguma espécie humana já foi extinta? Alguma coisa está se rompendo.
Para fazer reflexões filosóficas deste tipo é preciso estar desarmado. Como não valorizar os pés descalços?
Sem formalidades
Além de atuar, Assis Benevenuto e Marcos Coletta assinam a dramaturgia. Ítalo Laureano os dirige com a assistência de Rejane Faria. Fauna não tem uma historinha com início, meio e fim. Foi uma escolha bem justificada no programa do espetáculo: “preferimos não contar uma história, mas, como uma espécie de arqueólogos, encontrar vestígios”.
Os artistas sabem muito bem de onde partem, onde querem chegar e para que lugar pretendem levar os espectadores que se entregarem à proposta. A partir de uma situação de fim de mundo o que você faria? A pergunta é a primeira da série de provocações que a sucedem. Sobre o que foi e o que é viver em sociedade. Sobre o valor que damos para coisas e o quanto transformamos – inclusive historicamente – gente em coisa.
Fauna é costurado a partir de tensionamentos. Ao longo de 60 minutos (pode ser um pouco mais ou menos dependendo das participações) o texto, o uso do espaço, a presença das pessoas, a iluminação, o som, os objetos conseguem amalgamar considerações sobre a espécie humana e sua natureza. Tão comuns quanto necessárias.
[O QUE] Fauna com Grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum
[QUANDO] Qui a sáb, 20h. Dom, 19h. Até 05 fev.
[ONDE] Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613, Horto, 31 3481-5580)
[QUANTO] R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
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