Em 19 de novembro de 2018, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Iphan, tombou a literatura de cordel Patrimônio Cultural Brasileiro como bem imaterial. Tradicionalmente, é conhecida como uma manifestação cultural nordestina, mas a origem é anterior. Trata-se de um gênero literário popular que consiste na escrita em versos rimados em folhetos impressos. O nome vem da forma como a qual esses folhetos eram expostos em Portugal, ou seja, em cordas ou barbante.
Como dissemos, aqui no Brasil o cordel é famoso no Nordeste. Entretanto, ele também chegou em Minas Gerais. Mais precisamente no norte do estado. No dia 30 de novembro será realizado no Sesc Palladium a primeira edição do Encontro do Cordel Mineiro. Olegário Alfredo, também conhecido como Mestre Gaio é o homenageado.
1º Encontro do Cordel Mineiro
“Ele é uma das principais referências do cordel em Minas Gerais. Então, como primeira edição é importante fazer essa homenagem”, conta Chica Reis, integrante do Coletivo Yabás e uma das produtoras do evento. “É uma honra receber menção neste evento porque colocamos cada vez mais o cordel como uma ferramenta paradidática. Vamos mostrar o cordel como teatro, música e como aprendizado”, explica Mestre Gaio.
O Encontro do Cordel Mineiro terá uma exposição com o acervo de Mestre Gaio, exibição do filme, Nordeste, Cordel, Repente e Cangaço de Tânia Quaresma, além de performances com
Ricardo Evangelista, Marcelino Xibil, Tadeu Martins e uma mesa de debates com editoras especializadas.
Cordel em Minas Gerais
Embora a literatura de cordel seja algo mais relacionada ao nordeste, Minas Gerais também cultiva essa tradição. De acordo com Mestre Gaio, ele começou a ter contato com o gênero quando os folhetos chegavam no norte de Minas principalmente pelas rodovias. Eram os caminhoneiros que traziam. “Muita coisa veio pelas ferrovias também. A Estrada de Ferro Bahia Minas foi a principal responsável”, explica Mestre Gaio.
A linha ferroviária nasceu para ligar o arraial de Ponta de Areia, localizada no litoral sul da Bahia, próximo a Caravelas, à Araçuaí, interior de Minas Gerais. A extensão era de, mais ou menos 600 quilômetros. Por isso, foi possível e difusão do cordel. “Muitos anos depois, os folhetos foram vindo para a região central do estado porque as pessoas do norte começaram a vir para o centro de Minas e trazer o cordel”, conta o mestre.
Características do cordel mineiro
Já que o cordel chegou em terras mineiras, a produção também começou a ser feita aqui. Segundo Olegário Alfredo, tecnicamente não é possível o cordel mineiro se diferenciar muito do nordestino. Os assuntos é que são distintos. Ambos tratam da cultura popular de onde são escritos. Por aqui o cordel fala do congado, de capoeira, de lendas urbanas como a história da Loira do Bonfim e o Capeta da Vilarinho. Questões geográficas, biomas e a ecologia de Minas também são o foco, bem como ditos e demais características da cultural popular. Por outro lado, as produções nordestinas falam desses assuntos, mas voltadas para o contexto delas.
“Tem regras para ser escrito. Se não for feito dentro delas, não é literatura de cordel”, explica Olegário. A sextilha, por exemplo, é a forma mais conhecida. Consiste em estrofes de versos de sete sílabas com o quarto e o sexto verso rimados. Veja: Felicidade, és um sol / dourando a manhã da vida,/ és como um pingo de orvalho / molhando a flor ressequida / és a esperança fagueira / da mocidade florida. Além desse tipo, há também as quadras, as setilhas, as oitavas e outros. Mais exemplos e definições de outros formatos estão no site de Olegário Alfredo.
Relação entre cordelista e repentista
Como o cordel tem base na oralidade, a relação entre o cordelista e o repentista pode se confundir. Entretanto, Mestre Gaio aponta a principal diferença entre eles. “O cordelista é o poeta de bancada, ou seja, aquele que é apenas escritor. Já o Repentista é o poeta improvisador, aquele que canta e improvisa os versos”. No entanto, as duas coisas podem se misturar.
“O repentista pode decorar um cordel e cantar também, por exemplo, explica Olegário. Para a cantoria a viola é sempre utilizada, mas há um outro estilo de repente: a embolada de coco. Nesta modalidade os artistas usam o pandeiro.