Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Confira os bastidores de Vaga Carne, o filme

Peça de Grace Passô é adaptada para o cinema e vai abrir a Mostra de Tiradentes no dia 18 de janeiro

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Quem viu Vaga Carne, a peça, saiu do teatro um pouco confuso. O que Grace Passô, autora do texto e atriz da montagem, faz em quase uma hora em que fica sozinha em cena é provocar um caos semiótico em quem assiste. Não há qualquer consenso, por exemplo, ao dizer se a personagem é uma mulher, uma voz, uma molécula qualquer. Mesmo com essa indefinição, consegue captar cada pessoa com uma proposta de teatro extremamente inovadora.

Sendo assim, ao saber que Vaga Carne vai se transformar em filme, a curiosidade aumenta. Se como teatro já é inovadora, imagine como cinema. Talvez por isso a oportunidade de acompanhar um dia de gravação do média-metragem que vai abrir a Mostra de Cinema de Tiradentes em 2019 tenha sido cercada de tanto mistério. A produção é dirigida pela própria Grace – homenageada desta edição – e Ricardo Alves Jr, que também colaborou no processo da peça.

O filme será exibido no dia 18 de julho. Ele terá 50 minutos e durante esse tempo o espectador pode se preparar para experimentar algo fora do convencional. A  fotografia é assinada por Andrea Capella. “Eu e Ricardo já tínhamos conversado anos atrás para transcriar o Vaga Carne para a linguagem audiovisual. Esse desejo de juntar teatro com cinema sempre está no nosso trabalho. A Universo me apontou os assuntos da Mostra e entre eles tem um que passa pelas noções do corpo e linguagem. Dessa forma, partindo do desejo e da oportunidade, decidimos criar o filme”, conta Grace Passô.

Thiago Fonseca / Divulgação

 

Vaga Carne ganhou livro e agora versão cinematográfica – Foto: Thiago Fonseca / Culturadoria

 

Radicalidades de linguagem

Quem já assistiu a peça e leu o livro sabe que Grace se divide entre dois personagens: uma voz e um corpo. A tal voz é um ser incorpóreo capaz de invadir diversas matérias. Uma voz que fala, fala e fala a procura de significados, do mundo e de sua própria fala. Dessa forma, a versão teatral é carregada do uso de luz e breu. O livro por sua vez, é composto de diversas páginas em branco. O filme, segundo Ricardo, também terá radicalidades de linguagem.

“Esse é um trabalho de radicalização. A voz estará espacializada, terá tela preta, grau de fotografia com muitas zonas escuras, diversos enquadramentos e muito plano sequência”, conta Ricardo. “A gente continua compondo entre breu e luzes. No filme a gente tenta também radicalizar a característica sonora da peça. Sendo assim, a gente criou um diálogo entre o silêncio e a narração”, pontua Grace.

Na gravação de uma das cenas, Grace está no centro do palco com muitas luzes. Cada trecho é gravado de uma forma. Mesmo com planejamento e roteiro pensado com um mês de antecedência, o resultado do filme ainda é um mistério. Mas Ricardo adianta algumas coisas. “A estrutura do teatro aparece. Mas a gente faz leitura de outras espacialidades. Não é a mesma composição da peça, só tem a mesma dramaturgia. Há outras movimentações e passagens. Há radicalidades como por exemplo, os oito primeiros minutos em tela preta, sustentar a duração de um plano e fazer choque de montagem entre uma cena e outra”.

 

Equipe no set de gravação de Vaga Carne – Foto: Thiago Fonseca / Culturadoria

 

Novidades

Todo o processo de produção do filme levará em torno de dois meses. Até o dia 16 de janeiro a montagem deverá estar pronta para ser exibida na abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes. Uma equipe com cerca de 20 pessoas trabalha no projeto. As gravações foram feitas nos teatros Marília e Minas Tênis Clube. Tudo em quatro dias. Nas filmagens, Ricardo optou por utilizar uma câmera só, trabalhar a ideia do plano, sobretudo sequência, para ter menos edição.

Outra novidade é a presença de mais personagens. Se no espetáculo de teatro e no livro existe apenas um ser em cena, no filme haverá vários. Dessa forma, Grace convidou artistas da cidade, pessoas próximas dela, como por exemplo, Dona Jandira e André Novais Oliveira, para fazerem o público. “Essas pessoas vão surgindo como um coro plateia”, explica Ricardo.

Mostra de Cinema de Tiradentes

Na edição que será realizada de 18 a 26 de janeiro, na cidade histórica, Grace Passô será a artista homenageada. Segundo a produção, a escolha da artista se deu pelo conjunto de seus trabalhos em longas e curtas, mas também por seu futuro no cinema. O tema da edição será Corpos Adiante.

 

Confira a programação aqui.

 

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