Apostando as fichas na nostalgia vinda do começo dos anos 2000, o festival ostentou um line-up recheado de nomes lendários do rock nacional.
por Caio Brandão | Repórter
O começo dos anos 2000 foi, sem dúvida, um momento icônico para a música. Quem, à época, vivia a juventude, ou até mesmo a infância, com certeza se lembra do período com muito carinho. No campo do rock, em particular, a safra de bandas era farta – e foram justamente alguns desses expoentes que formaram o line-up do 2000 Rock Fest, evento que aconteceu neste final de semana, em Belo Horizonte!
O Culturadoria foi lá conferir e revela, a seguir, um pouco mais do agito.
Tianastácia
O sentimento do público que chegava ao festival era de extrema familiaridade, quase como uma volta para casa. E uma velha conhecida dos mineiros ficou encarregada de dar as boas-vindas.
A banda Tianastácia foi a responsável por dar início aos trabalhos, com um setlist moldado conforme a proposta. Uma mistura dos hits da banda com alguns covers serviram de aperitivo para a plateia faminta por rock. Teve até uma versão de “Killing In The Name”, do Rage Against the Machine, com a participação de Digão, vocalista do Raimundos, outro nome de peso dessa geração do rock nacional.
Fresno
Na sequência, a banda Fresno subiu ao palco com um, digamos assim, “ar de zebra”. Explico: a plateia do evento estava recheada de fãs da banda, mas fato é que a presença de tantos nomes colossais no restante do line-up fez com que esse esperado show acabasse sendo um dos primeiros. Mas não, isso acabou não sendo um problema, já que a apresentação incendiou o começo do festival.
O setlist foi composto por uma mescla de músicas das várias fases da banda, englobando antigos hits e trabalhos mais recentes. Além disso, os visuais projetados no palco chamaram atenção: montagens carregadas de glitch e várias referências a Neon Genesis Evangelion, um dos maiores animes da história, ajudaram a construir uma atmosfera única em relação ao festival como um todo, evocando aquela melancolia clássica do emo.
Charlie Brown Jr.
O terceiro show do dia marcou uma virada de chave no festival: o Charlie Brown Jr. subiu ao palco e logo produziu um concorrente fortíssimo para o título de melhor show do festival. O catálogo que a banda construiu ao longo dos anos só pode ser descrito como lendário, então, era quase impossível o público assistir a um setlist ruim.
Consequentemente, uma chuva torrencial de hits que marcaram uma geração configurou alguns dos momentos mais marcantes do festival. Todavia, isso não quer dizer que não houve inovações. A performance contou com duas baterias ao mesmo tempo, além de versões alternativas de algumas músicas. Um exemplo foi “Como Tudo Deve Ser”, que teve a percussão tradicional substituída por beatbox – e deu super certo!
Somado a isso, claro que teríamos homenagens aos membros falecidos da banda. Reverências foram direcionadas a Chorão e Champignon. Nesses momentos, a loucura das músicas mais agitadas foi contrabalanceada por uma emoção muito sincera, construindo um show completo.
CPM 22
O CPM 22 subiu aos palcos logo depois, o que teoricamente poderia ser uma missão árdua, mas o público deu a resposta imediatamente. Se alguém esperava uma diminuição na energia da plateia, estava redondamente errado. E isso só deixou ainda mais claro a força dessa geração do rock nacional, que possui uma variedade rara de nomes enormes e extremamente queridos.
Seguindo o tom das outras performances, o CPM apresentou uma seleção dos maiores sucessos da banda. Além disso, o pôr do sol maravilhoso que rolou durante o show só edificou ainda mais o que já era uma grande exibição.
Di Ferrero
Começando a noite, Di Ferrero foi o primeiro a ocupar o palco sob a luz do luar. Combinando com a mudança de cenário, Di foi o artista que mais rompeu com a norma nostálgica que permeou o festival.
Várias músicas recentes da carreira solo do cantor estiveram presentes no setlist. Porém, isso não impediu que o público pudesse matar a saudade dos sucessos do NX Zero, banda da qual o vocalista faz parte.
Revezando novos trabalhos com clássicos da banda, além de ter contado com a participação especial de Badauí, frontman do CPM 22, o show foi uma fusão satisfatória do passado com o presente. Todavia, foi nessa hora que algumas caixas de som falharam. A plateia, aliás, chegou a puxar um grito de “aumenta!”. Apesar do anticlímax, o problema foi resolvido rapidamente e a apresentação seguiu, agradando quem estava ali, para presenciá-la.
Pitty
Não deu para cravar Charlie Brown Jr. como o melhor show do festival, e o motivo foi ela: Pitty. A lenda do rock brasileiro ascendeu ao palco quase como uma entidade, ostentando uma presença hipnotizante.
O público estava na mão dela, e Pitty tinha total consciência disso. Sendo assim, o resultado foi como ver um maestro regendo uma orquestra, explodindo e acalmando conforme o momento pedia.
O show fez parte da turnê comemorativa de 20 anos do icônico álbum “Admirável Chip Novo”, e a obra foi tocada na íntegra, erguendo um show único para o público. Além disso, a performance de Pitty foi a mais criativa do 2000 Rock Fest.
Fazendo uso de todos os recursos estéticos do palco, a cantora e sua equipe usaram luzes, projeções, e até gravações simulando conversas entre Pitty e produtores de uma gravadora. Tudo isso culminou na criação de uma atmosfera que beirava o surreal.
A complexidade desses visuais não era exatamente alta, mas o suficiente para serem impulsionadas pela performance irretocável e presença de palco diferenciada da artista, que vale ser enaltecida novamente. Pitty foi a rainha da noite, e os gritos em uníssono de “Pitty, eu te amo!”, por parte da plateia, foram a coroação irrefutável.
Detonautas
Também veterana e marcante no contexto do rock anos 2000 no Brasil, a banda Detonautas recebeu a responsabilidade de fechar o festival. E eles fizeram bonito! Depois de tantos shows de qualidade, existia a suspeita de que o cansaço já estava batendo o público, mas isso foi prontamente refutado.
Tanto a plateia quanto a banda estavam determinados a fechar o festival com um último grande pico de adrenalina, e foi justamente isso que aconteceu. Sendo assim, o último show da noite foi marcado pelas reverências a bandas que pavimentaram o caminho para a geração do rock que protagonizou o evento.
Assim como outros shows, houve uma mistura de emoções no setlist, alternando sons mais pesados e baladas calmas para mandar o público para casa com um sorriso no rosto. Portanto, o 2000 Rock Fest tinha uma proposta musical clara, e o sentimento de que ela foi cumprida foi percebido na energia de quem presenciou as performances.
Organização
Embora os shows tenham cumprido o que prometiam, as impressões sobre a organização do festival foram mistas. A maioria teve uma experiência tranquila, mas também despontaram alguns relatos de contratempos.
Ao final, algumas reclamações emergiram. Muitas referentes ao quesito acessibilidade, por conta das escadarias da esplanada do Mineirão. Também houve menção à falta de água para consumo na reta final do evento e dificuldades logísticas para estacionamento, como escassez de vagas.
O 2000 Rock Fest, é fato, tem um potencial inegável. Contudo, a organização deve ficar atenta às críticas e considerar pontos que podem ser melhorados ou mesmo corrigidos.
Mesmo que, ao fim, a maioria do público passasse a impressão de ter saído satisfeita do evento, é importante que a produção analise os relatos negativos (alguns dos quais publicados em redes sociais). Caso os contratempos relatados se confirmem procedentes e o evento adote medidas resolutivas nas próximas edições, é indiscutível que o 2000 Rock Fest terá todas as credenciais para ser ainda maior e melhor, firmando-se na agenda cultural da capital mineira.