Companhia teatral Confesso dá início nesta sexta às comemorações de dez anos de estrada, sob a direção de Rita Clemente
Patrícia Cassese | Diretora Assistente
Neste sábado ( 6), o Grupo Confesso abre as comemorações de seus dez anos de estrada com a estreia do solo “O Animal Agoniza”, dirigido por Rita Clemente, e a abertura de uma exposição fotográfica, ambas no Teatro da Cidade.
Em junho, a programação comemorativa segue com remontagem do primeiro espetáculo da Confesso, “Navalha na Carne”, que ficará em cartaz no mesmo local em que estreou, em 2012: nos fundos do Bar Oratório, em Santa Efigênia.
Ao Culturadoria, Rita Clemente conta que escreveu “O Animal Agoniza” a partir do tema do abuso. “Mas, no início, não era apenas (uma situação de) abuso entre um casal”, salienta, acrescentando que o tema foi pensado a partir da percepção de que este comportamento se faz presente nos mais variados tipos de relação. “Inclusive de trabalho”, adiciona.
No entanto, para o solo em questão, com um ator cis, homem (Guilherme Colina, um dos fundadores da Confesso), a abordagem (“ficcional, em nada documental”), prossegue Rita, está fundada na criação de uma obra de teatro que possa fazer refletir sobre os abusos cotidianos de homens em relação a mulheres.
“A reflexão que o contexto sugere está evidentemente centrada nesta doença chamada machismo. Em ‘O Animal Agoniza’, não trato das doença estrutural da sociedade, pois é algo intrínseco. Trato do homem que expõe seu caráter abusivo e, ao mesmo tempo, tão comum, tão próximo de todos nós”, reflete ela.
Parâmetros de criação
Ao mesmo tempo, Rita Clemente salienta que as vozes femininas são eloquentes em cena. “Busco criar o texto e a cena a partir dos pressupostos das pesquisas que desenvolvo. Neste estudo de dramaturgia de cena, estabeleço parâmetros de criação, composição e articulação de vocabulários de cena”.
Assim, tudo está baseado nesta premissa. “Mesmo que haja apenas um ator em cena, é necessário criar diálogo entre os vocabulários (elementos da cena). Toda a equipe de criação é orientada nesta direção”, pontua.
Como explica o material enviado à imprensa, a trama de “O Animal Agoniza”, da Confesso, flagra um homem que, a partir do momento em que a companheira resolve deixá-lo, se vê diante de seus limites. O medo de perder aquilo que ele acha que é dele impacta seu jeito de agir.
Ator ‘pleno e consciente’
Perguntada sobre o retorno de Guilherme Colina aos palcos, Rita Clemente destaca o fato de o diretor da Confesso ter escolhido uma mulher para escrever e dirigir um solo no qual “possa firmar os pés como ator”. “Essa atitude já o diferencia. Essa atitude faz com que eu, naturalmente, desenvolva por ele um profundo respeito”.
“Sempre muito aberto e respeitoso, Colina lidou lindamente com essas delimitações territoriais que atores e diretoras acabam se deparando nos ensaios, nas escolhas, principalmente quando a diretora é também a autora”, explana Rita Clemente.
Ao fim, ela diz ter encontrado um artista “aberto e cheio de ferramentas em desuso”. “E, hoje, vejo em cena um ator consciente e pleno. É um deslumbre. Eu agradeço com alma violeta brilhante”.
Programação
Além dos espetáculos já citados no início desta matéria, a Mostra de 10 anos da Confesso conta com a esquete teatral “Mundo das Palavras”, que, desde o mês passado, circula por centros culturais (a rota contempla o Liberalino, São Bernardo, São Geraldo, Urucuia, Usina da Cultura e Venda Nova”.
Na história, um garoto se embola em suas palavras e na sua enorme imaginação. Em meio a vocábulos e imagens desconexas, descobre Dona Literatura, capaz de auxiliá-lo a criar uma linda história.
Já no dia 8, acontece um bate-papo com o fotógrafo Igor Cerqueira sobre a exposição fotográfica alusiva aos dez anos da Confesso.
A programação traz, ainda, oficinas de produção cultural e de palhaçaria, que serão ministradas na sede da Confesso, no bairro Prado.
Apesar das adversidades
Assumindo a palavra para falar sobre os dez anos da Confesso, Colina lembra que os desafios foram muitos. “Aliás, como parece ser a lógica de grupos culturais no Brasil, sobretudo na última gestão do país. Entretanto, somos um coletivo otimista. Levamos os percalços com leveza, reproduzindo o lema ‘pra frente’ a cada vez que aparecem no caminho”, garante.
O também diretor, que neste ano completa 20 anos de carreira, dedicados à docência teatral, direção e atuação, entende que a trajetória do Grupo Confesso é marcada por ineditismos. “Sempre pensamos o teatro como expressão humana, mas, além disso, criamos alternativas para mantermos o grupo na cena, para além da cena propriamente dita”, advoga.
Colina ressalta que tanto ele quanto Tatiane Reis, diretora executiva da companhia e gestora em negócio trabalham sobre a perspectiva de o teatro ser uma arte que abarca todas as outras. “Nesse sentido, vamos além do palco e da rua, e ocupamos espaços diversos da cidade”.
“Trem da Esquina”
Assim, a companhia também se aventura a entrar em editais no campo da gastronomia e do turismo, pensando em unir a arte com outras formas de cultura, por exemplo. “Com nossas criações artísticas, ocupamos equipamentos turísticos, bares e restaurantes, centros culturais descentralizados e parques ecológicos”, lista.
No ano passado, a Confesso estreou o ‘’Trem da Esquina’’, um trem de rodas que percorreu espaços culturais da cidade, com personagens icônicos da fundação de Belo Horizonte, interpretados pelos atores do grupo.
A iniciativa, lembra ele, contava, ainda, com um guia de turismo, que fornecia a informação em tempo real sobre histórias e curiosidades da capital mineira. “Além disso, atuamos com teatro corporativo, levando arte e conscientização a grandes empresas”, diz Colina, que atualmente faz graduação em Letras pela UFMG.
Em tempo: a temporada de estreia do espetáculo “O Animal Agoniza” tem o patrocínio da Temon Engenharia e do Instituto Unimed-BH, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet – Pronac 220399 – Manutenção do Teatro da Cidade).
Serviço
Mostra Confesso 10 anos
Temporada de estreia “O Animal Agoniza”
Até 14 de maio – sexta, sábado e domingo – 20h
Teatro da Cidade (rua da Bahia, 1.341, Centro)
Classificação: 16 anos | Interpretação em libras em todas as apresentações.
Quanto. R$ 60 (inteira) | R$ 30 (meia) – Sympla ou bilheteria do teatro
Exposição Fotográfica Confesso 10 anos
Visitação: Terça a domingo, das 14 às 20h, até dia 30 de junho.
Teatro da Cidade – Pequena Galeria (rua da Bahia, 1.341, Centro)
Entrada gratuita
Esquete teatral Mundo das Palavras
Sessões de maio:
Sexta (12): 9h30, Centro Cultural Venda Nova, e 13h30, Centro Cultural São Bernardo.
Sábado (20), 10h, Centro Cultural Usina da Cultura, no Ipiranga.
Entrada gratuita
Roda de Conversa sobre a exposição Confesso 10 anos
Nesta segunda (8), às 19h30, no Teatro da Cidade. Entrada gratuita, retirada no Sympla
Oficina artística de Palhaçaria com Elisângela Souza
No domingo, 15 de maio, às 19h.
Duração: 2 horas
Sede Grupo Confesso (Av. Francisco Sá, 233, Prado)
Entrada gratuita, inscrição no sympla
Oficina de produção cultural – com Tatiane Reis
Quando: Dia 22 de maio, segunda, às 19h30. Duração: 2 horas
Local: Online no Google Meet
Participação gratuita, inscrição no Sympla
Espetáculo “Navalha na Carne”
2 a 25 de junho – sexta, sábado e domingo – 20h
Interpretação em libras: 16, 18 e 23.06
Oratório Bar (Avenida Brasil, 161 | Santa Efigênia)
Classificação indicativa: 16
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) no Sympla