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As meditações e abstrações de “Com Cuidado”, novo álbum de Wagner Almeida

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Sexto álbum de Wagner Almeida retorna às raízes, bem como passeia por sonoridades anteriores do artista.

Por Caio Brandão | Repórter

O underground belo-horizontino é inundado por múltiplas camadas de guitarras distorcidas. Nesse sentido, várias bandas e artistas de BH se fizeram valer de um ecossistema artístico independente para erguer obras e performances que, embora não contassem com o orçamento milionário das grandes produções inseridas no show business, compensam com a energia e paixão de quem faz arte por amor. Um dos nomes que se destaca nesse contexto é Wagner Almeida.

Sexto Sexto álbum de Wagner Almeida retorna às raízes, bem como passeia por sonoridades anteriores do artista.
Wagner Almeida - Foto: Artur Lahoz

Integrante da Geração Perdida de Minas Gerais, coletivo de forte presença na cena de rock independente na capital mineira, Wagner disponibilizou o mais novo item do catálogo: o álbum Com Cuidado. Contando com nove faixas, a obra rumina e reflete, por meio de meditações abstratas, sobre as sensibilidades que rondam o comportamento humano e as lições que surgem ao abraçar essas delicadezas.

Wagner conta que, na verdade, nada é tão delimitado assim. “Não diria que o álbum tem um conceito, mas sim um tema que se repete ao longo das faixas, que, talvez, até seja um resquício dos tempos pandêmicos, que, como o nome da obra sugere, é o cuidado. Cuidado para sair na rua, com os outros, com você mesmo, com pessoas que já se foram e com as relações que você constrói. Não existe ali uma narrativa específica, não é exatamente uma história que eu vivi, mas são essas ponderações que tive ao pensar sobre essas coisas”.

Objetivos e perspectivas

Observando a obra de Wagner, fica claro que se trata de um artista prolífico. Contando com seis álbuns desde 2018, além de dois EPs, o músico se deu várias oportunidades de explorar múltiplas perspectivas artísticas. Dessa forma, Wagner passeia pelo rock, pela MPB, contemplando, até, aspectos da música eletrônica e experimental. A concepção de Com Cuidado, no entanto, surgiu de um desejo por retornar às raízes.

“Nos últimos dois discos eu estava querendo explorar coisas mais diferentes, explorar novos gêneros, até porque eu não estava gravando com banda. Por exemplo, um deles foi com o Sentidor, que usa muitos elementos de música eletrônica. A real é que eu estava com saudade de gravar um álbum de rock, foi isso que norteou esse último disco. Esse álbum foi gravado ao vivo, com bateria, com três guitarras, enfim, gravamos com uma banda completa”, explicou Wagner.

Ademais, a presença da banda, consequentemente, alterou o processo de criação que ronda a obra, colocando a coletividade em um espaço de maior destaque, ainda que ela conviva com a bagagem criativa de Wagner. “Foi um trabalho bem colaborativo, já que o pessoal da banda contribuiu diretamente com alguns aspectos das músicas. Mas, ao mesmo tempo, o álbum também é um passeio por outros trabalhos meus. Tem vários elementos ali que remetem aos discos que vieram antes deste. Sendo assim, eu tinha esse pensamento do álbum com banda, mas tem várias influências dos trabalhos que gravei sozinho também”. 

Mergulhando na coletividade

A banda, formada por Wagner (voz e guiatrra), Clara Borges (baixo e vozes), João Pedro Silva (bateria), Fábio de Carvalho (guitarras), Gabriel Elias Sadala (guitarras e trompete) e Mateus Gregori (sintetizadores), teve participação ativa nas composições do álbum, passando, sempre, pelo filtro da visão artística de Wagner. O músico agiu quase como um diretor de cinema lida com os atores no set: existe a visão principal, mas os componentes do conjunto dão as próprias contribuições para edificar a obra.

Na fileira de cima: João Pedro, Gabriel e Wagner. Na de baixo: Fábio e Clara
Na fileira de cima: João Pedro, Gabriel e Wagner. Na de baixo: Fábio e Clara.

“Tudo começou em um grupo de WhatsApp no qual estava eu, Fábio e Elias. Ali, fomos compartilhando as primeiras ideias. Depois entrou o João, nosso baterista, que é uma pessoa que eu já tinha sintonia, porque tocamos juntos na banda do Fernando Motta. Ele que fez todas as baterias do álbum, com alguns ajustes ao longo do caminho, ele teve uma participação muito ativa nas composições”.

Além disso, Wagner conta que ter veteranos da cena, como Gabriel e Fábio, envolvidos no processo criativo foi fundamental para o resultado final. “O Elias e o Fábio participaram mais como co-produtores do álbum, além de compositores, porque eu chegava para eles com uma ideia de música e falava ‘queria um riffzinho aqui’, e aí eles iam lá e faziam. O Fábio é um cara que tem referências muito bizarras, muito diferentes das minhas. Assim, eu falava com ele ‘cara, queria que tivesse alguma coisa meio esquisita aqui’. Então, ele foi encarregado de trazer essas referências mais estranhas e dissonantes para o álbum”.

“O Elias é um cara extremamente técnico. Por exemplo, ele arrumou meus pedais, sendo que eu falava para ele ‘minhas referências de sonoridade são essas’. Daí, ele arrumava as distorções exatamente como eu queria. A Clara, originalmente, não ia tocar baixo no disco. Quem faria isso era o Greg, que gravou os sintetizadores do álbum. Só que ele também tem a banda dele, a Bordoá. Então, ele não estava conseguindo conciliar as duas coisas e acabou tendo que sair do projeto. Contudo, eu já queria que a Clara participasse, e, num dia de gravação, ela se ofereceu para ocupar o lugar do Greg. Ela é uma instrumentista excelente e, mesmo que ela não seja baixista de ofício, ela estudou violão clássico desde pequena, tem um entendimento muito alto sobre música. Assim, ela caiu como uma luva na banda”, completou Wagner. 

O que vai e o que fica

O processo de elaborar um álbum é complexo, já que se faz necessário dar prioridade a determinadas influências em detrimento de outras. Nesse sentido, decidir o que atravessa, ou não, um trabalho, se configura como uma dinâmica de curadoria. No caso de Wagner, essa seleção se dá em um misto de instinto com estratégia. 

“Tem vezes que eu só pego o violão e começo a brincar, a fazer um primeiro esboço, sem pensar em uma sonoridade específica. Depois de fazer essa estrutura, eu mando para a galera e a gente pensa mais nessa parte de como a faixa deveria soar, se ela deveria ser mais pesada, mais contemplativa, etc. Partindo disso, começamos a olhar referências, por exemplo, Pavement, que é uma banda que todo mundo envolvido no projeto gosta demais. O shoegaze também tem uma presença forte no álbum, me inspirei muito nas bandas clássicas do gênero, como Slowdive e My Bloody Valentine. Nós até tínhamos uma playlist, que eu compartilhava com o pessoal, e ela serviu para delimitar essas referências. Então, é um álbum bem amplo nesse aspecto, mas foi tudo selecionado”, contou Wagner.

Além disso, existe um rompimento com as estruturas narrativas do álbum anterior, que tinha como fundamento transmitir ao ouvinte o desenrolar de uma história. “Para as músicas do Com Cuidado, tentei fazer o contrário do que fiz no meu disco anterior. Ali, havia um foco muito explícito na questão do storytelling, misturando histórias reais com coisas que eu bolava na minha cabeça, narrando cenas que eu via acontecendo. Já nesse último álbum, as letras foram muito mais pensadas do que observadas. Nesse sentido, as letras são pessoais, mas também são abstratas”.

Turnê

Para a divulgação do álbum, Wagner e banda sairão em turnê em novembro, terminando em BH, no dia 24/11. Confira, então, todas as datas:

02/11- Quinta-feira – Juiz de Fora (MG)
Bandas: Wagner Almeida e Baapz
Data: 02/11- Quinta-feira
Horário: 17h
Local: Canil – Rua Dr. João Pinheiro, 307. Jardim Glória
Valor: R$15 (antecipado no pix) / R$20 na porta
Ingressos: direto no pix [email protected]

03/11- Sexta-feira – Rio de Janeiro (RJ)
Bandas: Wagner Almeida (MG) e Vitor Brauer (solo) (MG)
Data: 03/11- Sexta-feira
Horário: 18h
Local: Motim – Rua Justiniano da Rocha, 466 – V. Isabel
Valor: R$25 (antecipado sympla) / R$30 na porta
Ingressos pelo link.

04/11- Sábado – Vitória (ES)
Bandas: Wagner Almeida (MG)+ Gueersh (RJ)+ Animal Trees
Data: 04/11- Sábado
Horário: 17h
Local: Sala Pós Cirúrgica – Rua Professor Baltazar, 123 – Centro
Valor: R$25 (antecipado Sympla) / R$30 na porta
Ingressos pelo link.

18/11- Sábado – São Paulo (SP)
Bandas: Wagner Almeida (MG) + Celacanto
Data: 18/11- Sábado
Horário: 18h
Local: Porta – Rua Fidalga, 642 – Vila Madalena
Valor: R$20 (antecipado no pix) / R$30 na porta
Ingressos: [email protected]

24/11 – Sexta-feira – Belo Horizonte (MG)
Bandas: Wagner Almeida, Jonathan Tadeu e Gueersh (RJ)
Data: 24/11 – sexta-feira
Horário: 20h
Local: Casa Matriz – Av. Álvares Cabral, 400 – Centro
Valor: R$25 (antecipado no Sympla) / R$30 na porta – Ingressos disponíveis no link.

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