Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

O cinema na era do streaming é tema de estudos de pesquisador mineiro

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“O Cinema na Era da Internet”, de Wagner Rodrigues Miranda, se debruça sobre as mudanças em curso no consumo da sétima arte

Patrícia Cassese | Editora Assistente

No momento de definir o tema de sua dissertação de mestrado, o pesquisador de cinema Wagner Rodrigues Miranda, 31 anos, já sabia que seu foco recairia sobre o modo como a internet anda influenciando a produção audiovisual nos dias atuais e, consequentemente, como isso, na prática, afeta o seu próprio trabalho, inclusive como roteirista. “Na época, eu tinha uma visão bem mais otimista. Assim, via a internet como um ambiente revolucionário, no qual pessoas comuns poderiam produzir e distribuir conteúdo com muito mais facilidade”, confessa Wagner, ao Culturadoria.

Capa do livro "O Cinema na Era da Internet", de Wagner Rodrigues Miranda (Instagram do autor)
Capa do livro "O Cinema na Era da Internet", de Wagner Rodrigues Miranda (Instagram do autor)

Wagner reconhece que essa análise inicial de fato encontra, ao menos em parte, respaldo na realidade. “Logo, é fato que o ambiente online facilita muitas coisas. Barateia custos e possibilita até uma certa democratização do acesso ao conhecimento”. No entanto, ele também passou a ter uma percepção da tal “outra face da moeda”. “Uma vez que cria uma barreira para aqueles que não têm acesso à tecnologia, tornando-os, portanto, ainda mais invisíveis”.

Transposição para livro

Hoje, Wagner Miranda entende que as grandes redes de comunicação, produtoras e estúdios continuam tendo muito mais poder e alcance que os cidadãos comuns. Mas fato é que, após a aprovação da banca, o cineasta resolveu publicar seus estudos em livro. Nascia, assim, o embrião de “O Cinema na Era da Internet”, chancelado pela Editora Ramalhete (a tradicional sessão de autógrafos aconteceu em abril deste ano, na Livraria do Belas).

Nele, o autor, portanto, discorre como o acesso à informação e a utilização das tecnologias digitais revolucionaram todas as áreas de produção, incluindo o setor cultural. Adentra tópicos como o fato de a relação do usuário das novas tecnologias com a música, o cinema, a arte e cultura, de uma forma geral, ter mudado expressivamente. E se detém particularmente nas mudanças que a internet acabou levando ao cinema em toda a sua abrangência – como, por exemplo, no que tange ao fenômeno Netflix.

Morte do cinema?

“Algumas pessoas falam da ‘morte do cinema’, que é, inclusive, o título de um artigo da Susan Sontag (1933 – 2004) que cito no livro”, aponta o pesquisador, referindo-se à escritora, cineasta, filósofa e crítica de arte estadunidense.

Para ele, um exagero. “Claro, há uma transformação da experiência cinematográfica”, entende ele, ainda que acrescentando que, se buscarmos na história do cinema, sempre existiram outras iniciativas que ameaçaram a indústria, caso, por exemplo, da pirataria, que atingia sobremaneira os lançamentos de filmes em DVD. “A verdade é que desde o nascimento do homevideo, sempre se profetiza que as salas escuras vão desaparecer”.

No entanto, emenda Wagner, os grandes estúdios dão sequência aos lançamentos de grandes produções, que aferem lucros exorbitantes. “Como os recentes ‘Avatar 2’, ‘Super Mario Bros, o FIlme’… Então, me parece que os cinemas tradicionais vão continuar existindo, mesmo que com menor relevância”, entende.

Perdas e ganhos

Para Wagner, o streaming possibilita uma facilitação ao acesso, mas, comenta, a lógica não seria muito diferente da do próprio VHS, em seu advento. “A ideia é assistir no conforto do seu lar, de acordo com a própria conveniência. Isso é muito bom para os usuários, que, assim, conseguem ter acesso a muito mais obras. Talvez seja ruim para os donos de sala de cinema, que ficam cada vez mais reféns de blockbusters, aqueles filmes arrasa-quarteirão que têm o potencial de atrair um grande público, para garantir renda”.

Um aspecto que Wagner entende que não pode ser esquecido é que ir ao cinema já há muito deixou de ser uma experiência acessível para a maior parte da população. “Do meu ponto de vista, de uma pessoa que nasce no interior, numa cidade na qual não existia cinema, só vejo ganhos. Online, consigo assistir a muito mais filmes que antes. Com a internet, o acesso ao conteúdo ficou muito mais facilitado, sobretudo para pessoas que estão distantes dos grandes centros. E como sempre, a indústria vai se adaptar”, vaticina.

O tal do futuro

Para o pesquisador, alguns players antigos podem desaparecer, por não conseguirem acompanhar o novo contexto. “Mas outros novos vão surgir e, assim, a linguagem cinematográfica, que independe do meio de exibição, vai continuar existindo”.

Perguntado sobre o que prevê para o futuro, ele diz ser tarefa intrincada, mas ressalva que talvez a inteligência artificial passe a influenciar cada vez mais as nossas vidas e a cadeia de produção cinematográfica, que, assim, passaria a inclui-la como uma nova ferramenta para produção fílmica. “Como sempre, diante de todo processo de evolução tecnológica, alguns profissionais vão acabar sendo substituídos por ‘máquinas’, mas o processo de produção ficará mais barato e mais acessível”, prevê.

Sobre o autor

Bacharel em Cinema de animação e artes digitais (2014) e Mestre em Cinema (2017), ambos pela UFMG, Wagner Rodrigues Miranda teve a oportunidade de ser professor substituto na graduação em cinema de animação em 2018 e novamente em 2023, ministrando disciplinas de Ateliê (filme de graduação), o cinema da era do Youtube, 3D e desenvolvimento de projetos.  Como roteirista, conquistou alguns prêmios como o de vencedor no concurso de Novos Roteiros da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos), além da participação em diversas salas de roteiro.

Serviço

“O Cinema na Era da Internet” (Editora Ramalhete)

Autor: Wagner Rodrigues Miranda
Projeto gráfico e diagramação: Caroline Gischewski
Capa: Murilo Vale

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