Em tempos de single, ouvir discos inteiros é embarcar em uma narrativa estendida. Isso porque, na maioria das vezes, os álbuns são pensados e produzidos na tentativa de que uma música complemente a outra, seja na letra, na variação do ritmo ou de instrumentos. Às vezes nem precisa fazer sentido também, mas ouvir um disco inteiro é estar com aquela banda ou cantor durante mais tempo acompanhado do que ele tem para oferecer.
Pensando nisso e em como te dar mais uma dica para o período da quarentena, selecionamos alguns álbuns que valem a pena ser ouvidos inteiros, sem pular nenhuma faixa. Tem música brasileira e internacional, do rock à MPB.
Confira!
Elis e Tom, Elis Regina e Tom Jobim
O disco foi lançado em 1974 e conta com arranjos do pianista e então marido de Elis Regina, César Camargo Mariano. Como fica claro no título, é composto por momentos de dueto entre Elis e Tom Jobim mas, além disso, a artista canta sozinha acompanhada por violão ou piano. O maior sucesso deste disco foi canção Águas de março, seguida de Corcovado e Inútil passagem.
Aclamado por crítica e público, Elis e Tom já foi inserido em enciclopédias e compêndios nacionais, internacionais e também eleito o 11º melhor disco de música brasileira pela Rolling Stone. No contexto educacional, o álbum é tema obrigatório no vestibular da Universidade do Rio Grande do Sul. Nos 75 anos de nascimento de Elis, fizemos uma matéria explicando o motivo pelo qual ela é uma das maiores intérpretes da música brasileira. Vale a leitura!
Que país é este, Legião Urbana
O terceiro álbum de estúdio do grupo é, como dizia Renato Russo, uma exclamação e não uma pergunta. Uma das principais características do disco, e também da banda, são as críticas sociais contidas nas letras. O próprio título do álbum é o mesmo da faixa que questiona as manobras políticas do Brasil, local no qual “ninguém respeita a constituição”. Além dessa, a clássica Faroeste Caboclo também está presente, sendo a maior canção escrita e gravada pela banda até então. Renato Russo a considerava como a sua Hurricane, composição de Bob Dylan que fala de um lutador de box que ficou anos preso injustamente.
Em geral, Que país é este ainda tem resquícios do grupo Aborto Elétrico, banda de Russo antes do Legião, pois todas as músicas foram compostas quando ele ainda fazia parte dela. Entretanto, traz elementos novos como, por exemplo, as músicas sem refrão, contrariando o que geralmente era tocado nas rádios.
Moving Pictures, Rush
O álbum completou 41 anos de lançamento em 2020 e é um dos discos mais memoráveis da passagem dos anos 1970 para 1980. O trabalho marcou a transição do estilo musical da banda, que passou do rock progressivo/hard rock e começou a experimentar outras características e formatos como, por exemplo, os sintetizadores. Para ter dimensão da importância de Moving Pictures, o disco vendeu mais de quatro milhões de cópias apenas nos Estados Unidos e alcançou o topo das paradas de sucesso, inclusive no Brasil.
A música Tom Sawyer ajudou a popularizar o álbum, pois foi utilizada na abertura do seriado MacGyver. Vale escutar o disco todo porque ele une todas as características que fizeram de Rush uma das principais bandas na cena do rock. Ele une a complexidade e simplicidade dos arranjos e das letras e dialoga a cena que o grupo estava inserido com a que veio posteriormente.
Automatic for the People, R.E.M
Após o lançamento de Out of Time, em 1991, fãs e crítica duvidavam que o R.E.M. fosse conseguir lançar outro trabalho que superasse, por exemplo, a canção Losing my religion, principalmente por causa do clipe, que ajudou a alavancar o prestígio em relação ao álbum. Entretanto, Automatic fot the People foi lançado no ano seguinte e é considerado um dos melhores, se não o melhor, discos da banda. A produção apresenta uma sonoridade acústica com arranjos feitos por ninguém menos que John Paul Jones, ex-baixista, do Led Zeppelin.
Outra característica marcante são as letras introspectivas e tristes, que, segundo o vocalista Michael Stipe, era uma espécie de reflexo da crise dos 30 anos dos integrantes do grupo. Além disso, se preocupavam com a onda de suicídio que ocorria entre a juventude dos Estados Unidos na época. A canção de maior destaque é Everybody hurts. O disco vendeu mais de 15 milhões de cópias e era um dos preferidos de Kurt Cobain, o líder do Nirvana.
A tábua de Esmeralda, Jorge Ben Jor
O décimo primeiro álbum de Jorge Ben figura na lista dos 100 maiores discos da música brasileira pela Rolling Stone. Lançado em 1974, o trabalho mostra a face de Jorge Ben ligada à filosofia, a mistérios e aos estudos herméticos. Exemplo disso são as faixas Os alquimistas estão chegando os alquimistas e Hermes Trismegisto e sua celeste Tábua de Esmeralda. O disco é importante para a música brasileira pois foi lançado no meio da ditadura militar, uma das épocas mais difíceis da história do país. Além disso, se destaca pela capa, que também faz referência ao hermetismo, e, claro, pela sonoridade singular de Jorge Ben Jor.