O novo espetáculo da Cia Fusion de Danças Urbanas fala da favela, do morro. Entretanto, “ninguém vai morrer desta vez”. Leandro Belilo, diretor da companhia, é enfático ao comentar sobre a nova montagem do grupo, que estreia neste fim de semana. Mais precisamente 25 e 26 de outubro, dia que a Fusion completa 17 anos de estrada. Recado do Morro é um dos projetos que se destacou entre mais de 10 mil propostas no edital do Rumos Itaú Cultural, um dos principais programas de fomento à cultura do Brasil.
O espetáculo tem como ponto de partida o conto O recado do morro de João Guimarães Rosa, mas não é inspirado nele. De um lado, Guimarães Rosa relata um mundo sem lei, o sertão onde o que vigora é a regra da aliança e da vingança. No conto de 1950, os personagens transitam pelo interior de Minas Gerais, decifram e recontam antigas histórias. Por outro lado, o espetáculo da Cia Fusion dá um recado diferente. “Vamos mostrar o morro a partir de uma visão não estereotipada. Geralmente a favela é vista só pelo samba e pelos tiros, por exemplo. Mas nós queremos pensar esse espetáculo de forma tecnológica, inserindo ciência e até mesmo ficção científica”, explica Leandro Belilo, que também é dançarino, coreógrafo do grupo e estará no palco.
Afrofuturismo
O termo afrofuturismo, em definição, se refere a uma estética cultural e filosófica que combina diversos elementos. Entre eles ficção histórica, científica, fantasia, arte e a diáspora africana. Mas o que isso tem a ver com o espetáculo? É exatamente isso que o grupo quer abordar. “Você vê aí filmes de ficção científica como De volta para o futuro, Star Wars, Exterminador do futuro. Só que nenhum deles têm personagens negros. Parece que os negros não sobreviveram ao futuro, ou que o futuro não foi pensado para essas pessoas”, desabafa Belilo.
Sendo assim, a Cia Fusion buscou técnicas de danças de rua que dialogam com a ideia do afrofuturismo. Só para exemplificar, uma técnica utilizada é a robot. Nesse estilo, também conhecido como manequim, o dançarino tenta imitar os movimentos (ou a falta deles) de um robô ou de um manequim. A técnica ficou popular com Michael Jackson quando ainda era jovem e fazia parte dos The Jacksons. “Além disso, tem a autonomia de cada dançarino do elenco. Ao todo são sete pessoas em palco e cada um mostra a sua vivência e o seu estilo”, destaca Belilo.
A Cia Fusion de Danças Urbanas
No dia 26 de novembro a Cia Fusion completa 17 anos de história. Tudo começou quando um grupo de amigos da periferia de Belo Horizonte se reuniu para dançar. O interesse gerou pesquisa, discussão e o hobby se profissionalizou. “Ninguém quer ser invisível. Mesmo que tenhamos começado sem pretensão quem vem da favela está sempre buscando um meio de existir e ser visto”, conclui Leonardo Belilo.
Assim sendo, o reconhecimento chegou aos poucos. Exemplo disso foi a turnê em terras europeias em 2017. A turnê do espetáculo Quando efé incluiu apresentações e oficinas em três cidades da França: Lille, Brest e Ergué-Gaberic.