Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Cenas Curtas 2018 aposta em temas urgentes e reforça experimentação

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Durante o mês de setembro de 2017 a diretora de teatro Cristina Tolentino realizou trabalhos artísticos na Ocupação Carolina Maria de Jesus, em Belo Horizonte. Lá conheceu histórias de luta e violência sofrida por mulheres. Com a intenção de abrir espaço para o lúdico e apoiá-las na luta, em conjunto com oito moradoras, criou a performance-manifesto “Todas as Vozes, Todas Elas”. A cena de quinze minutos passou por vários espaços. Chega agora como uma das 16 selecionadas do Festival Cenas Curtas.

O festival ocupará o Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte, de 26 a 30 de setembro. Além da capital mineira, o evento conta com trabalhos de Betim, Nova Lima, Teófilo Otoni, Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Seguro e Florianópolis. Fazem parte do evento ainda os rolês culturais em estabelecimentos vizinhos ao Galpão. As cenas, em sua maioria, abordam temas estéticos diversos, como por exemplo, a luta contra o racismo, orgulho LGBTQIA+, feminismo e o direito à cidade.

 

Foto: Mirela Persichini / Divulgação

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A luta em cena

‘Todas as Vozes, Todas Elas’, do Grupo de Teatro Mulheres de Luta, será apresentada no dia 29 de setembro, às 21h. A cena traz para palco a violência, a luta, a liberdade, a independência, a união, a beleza e a voz de mulheres comuns que vivem na Ocupação Carolina de Jesus. “Em resumo, a cena fala sobre a violência contra as mulheres. As próprias moradoras da ocupação falando de si mesmas, e dessa forma, mostram como a luta transforma. Mulheres que lutam não só pela sobrevivência de cada uma, mas por uma dimensão maior”, explica Cristina.

As performances e os temas políticos estão presentes em grande parte das apresentações. Segundo Chico Pelúcio, diretor do Galpão Cine Horto, esse cenário é um retrato do que está sendo produzido. “Não temos um recorte específico. A ideia é refletir o que está sendo produzido e proposto. Muitos projetos vieram com essas temáticas: assuntos políticos, militantes e atuais. Nosso objetivo é fomentar as artes e refletir”, diz.

 

‘Todas as Vozes, Todas Elas’, do Grupo de Teatro Mulheres de Luta – Foto: Yasmine Rodrigues / Divulgação

 

Performances e reflexão

A reflexão e a questão política e ideológica estão presentes também em ‘De Zé a São Zé, Dois de Nós Mesmos’. A cena é dos paulistas Ricardo Iazzetta e Sergio Siviero e parte de estudos da obra de Wilhelm Reich. De acordo com Sergio, a montagem propõe uma ação psicomágico-performática, reflexiva e combativa, ao efeito da patológica ascensão do fascismo nos dias atuais. “A cena é uma ação performática onde trabalhamos com a perspectiva. Ainda com conceito de manejo e a relação do toque e do contato como uma grande potência de mobilização”.

Em resumo, é sobre amor, relação e referência humana que Sergio e Ricardo querem falar com o público. A cena que foi crida especialmente para o festival será apresentada no 26, às 20. “Espero sacar neste encontro como está o movimento artístico em BH e se encontrar com artistas que não conheço. Amo a cidade e tenho uma relação amorosa”, pontua Sergio.

O festival

O Cenas Curtas tem o objetivo de provocar e fomentar pesquisa de linguagem por meio de criações cênicas. Neste ano, o festival recebeu 239 propostas, de 45 cidades de 12 estados. Entre as escolhidas, 16 propostas são cenas de palco, três de rua e cinco rolês. “Para a seleção levamos em conta as peças que são mais inéditas e que tenham linguagem mais contemporânea. E também o currículo dos proponentes e, por fim, a consistência da proposta. Uma escolha difícil já que as peças são enviadas em projeto e não em vídeo”, explica Chico. Os selecionados recebem ajuda de custo.

Quatro cenas serão apresentadas por dia no Galpão. Elas são de no máximo 15 minutos. Por dia, o público pode escolher a melhor peça. As quatro melhores do evento receberão o troféu ‘Banana Rosa’, uma brincadeira para distensionar os participantes, segundo Chico. Sendo assim, outro momento de distração serão os rolês, intervenções artísticas em diferentes estabelecimentos vizinhos ao Galpão, como por exemplo o ‘Zona Last’.

Além disso, todos os dias, críticos, artistas e público se encontram para uma roda de conversa sobre as cenas apresentadas nos “Debates do Dia Seguinte”. Logo após as cenas, haverá ainda um encontro no Bar do Festival. No dia 30, às 19h tem a festa de encerramento. Momento ainda para comemorar os 19 anos do projeto. “Estamos muitos felizes. A sensação é de ter conseguido levar um projeto importante de teatro sem interrupção e que tem dado sucesso. Prova disso, é ver cenas, como por exemplo, ‘Rosa Choque’, que passaram por aqui e hoje estão mundo a fora”, pontua Chico.

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