Em “Casamento”, Tiago Mafra e Adriana Morales reinventam o significado de união, por meio da improvisação e da palhaçaria
Patrícia Cassese | Editora Assistente
“Uma Surpresa para Benedita”, primeiro espetáculo protagonizado pelos palhaços Benedita e Sabonete, interpretados por Adriana Morales e Tiago Mafra, do Grupo Trampulim, trazia, na cena de encerramento, um romântico pedido de casamento. Como outras montagens acabaram atravessando o caminho da companhia logo na sequência da temporada, o desenrolar da cena acabou ficando em suspenso. E, assim, deixando o público que acompanha o Trampulim pra lá de curioso. “Essa suspensão criou, de fato, expectativa. Volta e meia, muitas pessoas falavam com a gente: ‘Ah, e o casamento?’ ‘Afinal, vocês vão casar ou não?’ ‘Quando vai ser?'”, conta Tiago Mafra.
O intérprete de Sabonete lembra ainda que, ao longo desse tempo, novos palhaços participaram de espetáculos do Trampulim. Inclusive, uma das montagens chegou a contar com cinco palhaços em cena. “E, assim, essa ideia (do capítulo seguinte ao pedido) ficou adormecida. Depois, ainda tivemos também um solo da Benedita. Daí, recentemente, a gente enfim sentiu que era chegado o momento de os personagens se unirem”, complementa Mafra, sobre “Casamento”.
A peça fica em cartaz nos dias 5 e 6 de agosto, sábado e domingo, na Casa Gamarra (Santa Tereza). No dia 11, sexta, será exibida na ZAP 18 (Santa Terezinha). Já no dia 12, sábado, no C.A.S.A. – Centro de Arte Suspensa e Armatrux (Vale do Sol / Nova Lima). A entrada é gratuita, com retirada de ingressos pela plataforma Sympla ou na bilheteria dos espaços, uma hora antes da sessão.
Na vida real
Mas um outro fator foi preponderante para o Trampulim engatar a esperada sequência ao pedido. É que os atores e palhaços Tiago e Adriana são casados na vida real há 23 anos. Assim, nada mais natural que a dupla por eles interpretada também firmasse uma união similar no palco. “A gente tinha a faca e o queijo nas mãos. Havia muuuuuito material para brincar. E pensamentos e histórias para contar”, adiciona Adriana.
Uma crise no meio do caminho
Sincera até a medula, a atriz e palhaça não se furta a confessar que, no início do processo que resultou em “Casamento”, ela e Tiago estavam em um momento difícil da relação. “Talvez a nossa maior crise em 23 anos juntos. Mas normal, né, gente? As crises acontecem. Só que foi bem no momento em que começamos o processo de montagem. Então, foi muito desafiador, porque, ao longo da construção do espetáculo, a gente acabou sendo obrigado a encarar essa relação”, diz Adriana.
E encará-la “em todas as direções e em todas as luzes e sombras”. “Não teve como fugir. Nem que a gente quisesse, conseguiria fugir dessa crise (risos). Teve que encarar. E, assim, reviver coisas, lembrar de todos os bons momentos, dos desafios. Mas, ao fim, a gente chega à conclusão que, na verdade, tudo isso acabou sendo um grande presente, das circunstâncias, do universo. Foi importante esse processo de montagem nesse momento, essa coincidência”.
Escolha diária
Desse modo, Tiago e Adriana concluíram que, mais uma vez, a Palhaçaria e a improvisação (“a arte, de modo mais amplo”) tem muito a ensinar. “Neste caso, por meio de ‘Casamento’, percebemos que um casal precisa escolher estar junto dia a dia. Todos os dias, a gente se pergunta: ‘Você quer se casar comigo de novo?’ Como também é no palco. A cada vez que entram em cena, os palhaços reforçam esse laço através da construção de uma história, da diversão, do prazer de estar em cena juntos. Nos demos conta que o casamento deve ser assim. É preciso escolher (continuar, seguir em frente) todos os dias. Meio como: ‘Vamos junto, mas vamos com diversão’. Vai ter cena ruim, sim, mas vai ter muita cena boa. E, assim, a gente segue, a cada dia, escolhendo esse casamento”.
Confira, a seguir, outros trechos da entrevista
Matéria-prima
De acordo com Tiago, para a construção de “Casamento”, o Trampulim tinha três grandes fontes de matéria -prima. “A palhaçaria, a impro e a nossa relação de 23 anos. No meio do caminho, os dois foram fazer uma residência com César Gouvêa, palhaço e improvisador paulista, que mora em Lisboa. “Fomos para lá, para a gente entender melhor essa junção de palhaçaria e impro. E no final das contas, a palhaçaria, ela traz para a gente uma estrutura dramatúrgica para o espetáculo”.
Vivência
Por outro lado, prossegue Tiago, a improvisação trabalha com a construção dessa dramaturgia em tempo real. “Então, tem essa mistura de uma estrutura dramatúrgica com histórias criadas ali, a cada apresentação. E, permeando isso tudo, e recheando isso tudo, tem uma relação de 23 anos, que não podia ficar de fora. Não é qualquer dupla, não é, ali, alguém que não tem essa experiência. Então, a gente também leva para esse jogo, essa nossa vivência. No final das contas, é um grande balaio, um casamento de linguagens. Um casamento de duas pessoas e um casamento com o público, como não podia deixar de ser”, analisa ele.
Direção
Sobre a escolha de José Luis Saldaña para a direção, Tiago conta. “O nome do diretor surgiu em 2019, quando a gente estava fazendo uma pesquisa de impro com a professora Mariana Muniz, lá na UFMG. Na ocasião, o José Luis veio dar uma oficina para uma turma de alunos. E, na oficina, ele propunha a construção de narrativas mais longas. Isso foi muito instigante, porque a gente estava muito acostumado com jogos curtos de improviso, o que casa muito bem com a linguagem da palhaçaria”.
No entanto, a construção de uma narrativa mais longa, tem, como constata Tiago, um passo a passo, “uma calma para a construção da história”. “Ela pensa no passado e no futuro, segue uma linha bem clara. E o palhaço, ele está acostumado a sair da linha, a se perder na história. Ele vive aqui, no presente, no aqui e no agora. Assim, o grande desafio foi inserir a linguagem da palhaçaria nessas narrativas mais longas. E é o que a gente está trazendo para ‘Casamento’. Um desafio que nos provoca e nos alimenta também”.
Serviço
Temporada de estreia de “Casamento”, do Grupo Trampulim
Com Adriana Morales e Tiago Mafra. Direção: José Luis Saldaña
Início: Dias 5 e 6/8, sábado e domingo, às 19h
Onde. Casa Circo Gamarra (Rua Conselheiro Rocha, 1.513, Santa Tereza)
11/8, sexta, às 20h
Onde. ZAP 18 (Rua João Donada, 18, Santa Terezinha)
12/8, sábado, às 19h
C.A.S.A. (Rua Himalaia, 69, Vale do Sol – Nova Lima)
Entrada gratuita.
Retirada gratuita de ingressos na Sympla ou na bilheteria dos espaços 1 hora antes de cada espetáculo.
Duração: 60 minutos | Classificação indicativa: livre
Acessível em Libras.