Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Carroça de Mamulengos ‘estaciona’ no CCBB BH para mostra inédita

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Em curso na capital mineira, a “Mostra Carroça de Mamulengos – Três Gerações de Arte Brincante” apresenta três espetáculos

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Até o dia 20 de outubro, a “Mostra Carroça de Mamulengos – Três Gerações de Arte Brincante”, inédita em Minas Gerais, traz, à capital mineira, três espetáculos do prestigiado grupo, criado em Brasília, na década de 1970, pelo bonequeiro e compositor Carlos Gomide e pela atriz Shirley França. Uma das precursoras do teatro de bonecos no Brasil, a Carroça de Mamulengos traz três espetáculos a BH: “Histórias de Teatro e Circo”, “Janeiros” e “O Babauzeiro”. Tal qual, oferece um seminário e uma oficina. As sessões acontecem aos sábados e domingos, no CCBB BH.

Várias gerações no palco: o grupo Carroça de Mamulengos mantém a tradição há quase 50 anos (Bené França/Divulgação)

Na verdade, a Mostra Carroça de Mamulengos teve início no último dia 21 de setembro, com “Histórias de Teatro e Circo”, que volta a ser encenada neste final de semana, dos dias 28 e 29 de setembro. A partir de cenas criadas há mais de 30 anos, a peça traz a ancestralidade e a tradição de toda a família para o palco. Desse modo, avós, filhos, noras e netas estão reunidos. Ao todo, são 20 artistas – e muitos, muitos bonecos. “Histórias de Teatro e Circo” será encenado às 11h e 16h, no Teatro I do CCBB.

“Janeiros”

Na sequência vem a peça “Janeiros”, que tem direção do ator belo-horizontino Rodolfo Vaz. A montagem, de acordo com o material de divulgação, aborda o momento em que os filhos do casal (Carlos e Shirley) assumem a condução da Carroça de Mamulengos e, assim, passam a contar suas próprias histórias. Desse modo, recriam linguagens. “Janeiros” será encenada aos sábados e domingos, nos dias 5 e 6 de outubro, às 11h e 16; e nos dias 12 e 13 de outubro, às 16h, no Teatro I do CCBB BH.

Já o espetáculo “O Babauzeiro” traz os primeiros bonecos recebidos pelo fundador do Mamulengos, Carlos Gomide, das mãos do mestre paraibano Antônio do Babau, da cidade de Mari (PB), em 1978. Tal qual os demais espetáculos, a encenação será aos sábados e domingos, dias 12 e 13 de outubro, às 11h; e, ainda, nos dias 19 e 20 de outubro, às 11h e 15h, no Teatro II.

Para falar mais sobre essa passagem inédita pela capital mineira, conversamos com Maria Gomide, a primogênita do casal. Confira trechos do bate-papo, dividido por tópicos

Relação com a capital mineira

A relação do Carroça de Mamulengos com BH é regida pelo mais puro afeto, afiança Maria Gomide. “É uma cidade que sempre esteve no nosso caminho, até por ficar quase no meio do Brasil. Portanto, nas vezes em que a gente percorre o Brasil por terra, com o nosso ônibus, vindo do Nordeste para trabalhar em São Paulo, no Rio ou em Brasília, quase sempre passa por Minas Gerais. Sempre foi um marco na nossa história”.

Para ela, uma lembrança de infância vem do momento em que, ainda menina, percebia que o ônibus precisava fazer muitas curvas. “Era o indicativo que a gente tinha chegado em Minas Gerais”. Em 2016, o grupo teve uma oportunidade de fazer uma residência artística em BH. “Assim, ficamos morando aí por quase dois anos e meio. Na verdade, quase que a gente fixou morada mesmo – íamos construir a sede do Mamulengos em Minas Gerais. E, nessa vivência, construímos várias amizades – e também um espetáculo”.

Rodolfo Vaz

Falando mais sobre a montagem à qual se referiu, “Janeiros”, Maria Gomide, lembra que, no período em que os componentes da Mamulengo estavam residindo em BH, veio a oportunidade de um trabalho de pesquisa que resultaria em um espetáculo. “Na verdade, já estávamos em um processo de buscar parcerias, até como forma de crescer. Assim, convidamos o Rodolfo, juntamente à Fernanda Vianna, a companheira dele, para participar desse processo”. E foi uma jornada desafiadora, comenta ela. “Veja, o modo de trabalho do Carroça de Mamulengos é muito íntimo, então, o Rodolfo e a Fernanda se mostraram bastante sensíveis (ao se integraram, no caso deste trabalho, ao grupo)”.

Maria Gomide brinca que os dois conduziram o processo como se fossem “pais, tios da gente”. “Ou seja, com um carinho, um respeito muito grande pela nossa trajetória”. E, desse modo, o espetáculo ‘Janeiro’ nasceu. “E ele reverbera esse carinho, porque tem a cara do Carroça de Mamulengos enquanto linguagem, enquanto cenário. O Rodolfo indicou a Wanda Sgarbi para fazer o cenário em cima da nossa estrutura, e ela trouxe uma roupagem tão original, tão a cara de Minas. O figurino, idem. Aliás, é uma montagem que tem cara de Minas”.

Jeito mineiro

Ela lembra, ainda, que o roteiro é de Raysner de Paula. “E isso também proporcionou um texto diferente, mas que continua sendo a nossa cara. Então, tem uma assinatura mineira nesse espetáculo. É como se fosse o nosso jeito mineiro de fazer a nossa arte brincante. E, nisso, nós, do Mamulengos, a gente desenvolveu uma relação de gratidão, de respeito e de reciprocidade. De lá para cá, o espetáculo vem circulando e o Rodolfo nos apoia, nos abraça. E, para gente, é uma alegria o fato de essas duas grandes referências de atores no Brasil, ele e a Fernanda, terem participado da nossa trajetória; Uma honra”.

“Histórias de Teatro e Circo”

A Mostra Carroça de Mamulengos traz três espetáculos que são bem simbólicos, pontua a atriz. Desse modo, “Histórias de Teatro e Circo” seria como se fosse um começo, um meio e uma continuidade. “Porque ele é, podemos dizer, talvez um dos primeiros espetáculos do Carroça de Mamulengos. Ou o espetáculo que foi sendo criado a partir do nascimento dos filhos. Ou seja, é um espetáculo vivo. Por 30 anos, foi se desenvolvendo. Assim, nós remontamos esse espetáculo agora com a ideia de trazer as netas (do casal fundador) para a cena”.

Maria Gomide lembra que há cenas que foram criadas, por exemplo, quando ela, enquanto a primeira filha do casal, nasceu. “Assim como outras que foram criadas já para a segunda geração. E como quem conta um conto aumenta um ponto… Mesmo a Carroça de Mamulengos sendo uma companhia de tradição, eu digo que, a cada pessoa que nasce na família, a tradição renasce revestida de originalidade e de capacidade de se comunicar com o tempo presente. Desse modo, ‘Histórias’ mostra como uma tradição tão profunda, familiar, como a que o Carroça de Mamulengos traz, está viva hoje”.

História viva

Ela também pontua que quem for assistir a “Histórias de Teatro e Circo” vai encontrar uma arte profunda “para a gente poder dialogar com essas superficialidades do mundo atual. “Um espetáculo que diz muita coisa. Que diz sobre patrimônio, que diz sobre memória, sobre educação. Cada um que for assistir certamente vai ser tocado em algum ponto, porque acho que é um espetáculo único, que realmente reúne três gerações em cena e que está pronto para surpreender pela verdade que passa. Porque é a verdade da nossa própria vida, né? O público não vai estar vendo atores e atrizes, mas uma família de brincantes que já contabiliza mais de 47 anos de história viva”.

“O Babauzeiro”

O espetáculo “O Babauzeiro”, diz a brincante Maria Gomide, é muito simbólico, por ser o que apresenta a origem da companhia Carroça de Mamulengos. “Assim, é como se fosse uma semente – por isso ele é tão especial. Carlos Gomide, que é o meu pai, e que criou o grupo em Brasília, na década de 1970, teve uma intuição de que, através da cultura popular, poderia haver ter um caminho para desenvolver o trabalho artístico de uma companhia. Naquele momento, ele não imaginava que, 47 anos depois, teria uma família com oito filhos, sete netas… E todo mundo seguindo aquela viagem, aquele sonho dele. Mas essa é a nossa realidade hoje”.

Não por outro motivo, quem for assistir a esse espetáculo, aponta Maria, vai realizar uma viagem no túnel do tempo, tal qual encontrar-se com a semente de origem. E, por ser tão viva e tão forte, também é a nossa semente de continuidade, porque também é uma inspiração contínua para a criação dos nossos trabalhos”.

Teatro de Babau

O Teatro Popular de Bonecos do Nordeste Brasileiro, o Teatro de Babau, é uma inspiração estética e inspiração dramatúrgica para a companhia. “É de onde surgem os nossos bonecos gigantes, é de onde surge o nosso olhar para uma cultura popular brasileira tão simples, feita por pessoas que estão morando nos interiores, por um povo que ainda preserva uma memória muito profunda. E a Carroça de Mamulengos já integra essa memória no Brasil, também por ter raízes já tão profundas, consolidadas na história da arte do teatro brasileiro”, explana Maria.

“Janeiros”

O já citado “Janeiros”, pontua Maria Gomide, é um espetáculo que aborda já esse pertencimento dos filhos, recebendo a herança dos pais, a responsabilidade de ter uma história para continuar, ter uma tradição para sustentar – bem como para reinventar. “Uma vez que tradições, a gente reinventa. E cultura, ela é dinâmica e viva. Então, quem for ver ‘Janeiros’ vai ver o esforço dos filhos em fazer a Carroça de Mamulengos prosseguir, buscando parcerias, dialogando com outros artistas… Porque tem a direção do Rodolfo Vaz, cenografia da Wanda Sgarbi e roteiro co-assinado pelo Rayner”.

Ela prossegue: “Assim, o público verá os herdeiros de uma tradição e como a gente vem cuidando desse legado. E por cuidar desse legado, a segunda geração é um elo para ter a força e a inspiração para levar essa tradição adiante, como é o caso da terceira, que a plateia já verá no ‘Histórias de Teatro e Círculo’. Ou seja, a Carroça de Mamulengos é um círculo que mostra o começo e continuidade. Passado, presente e continuidade, porque quase todos os espetáculos mostram como a Carroça, de forma dinâmica, preserva e recria tradições”.

Oficina e seminário gratuitos

Parte da história da Carroça de Mamulengos, a arte-educação também ganha destaque na mostra. Desse modo, no sábado (28 de setembro), às 13h, no Teatro I, as artistas e educadoras Shirley França e Maria Gomide, mãe e filha, realizam o seminário ‘Diálogos sobre Pedagogia Brincante: A Cultura de Ensinar e Aprender Dentro das Tradições Populares’. Já no sábado, 12 de outubro, às 13h, será realizada a Oficina Cantos e Cantigas Populares, indicada para crianças de todas as idades. Para o seminário, retirada de ingressos no site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH, a partir de uma hora antes do evento. A oficina possui vagas limitadas e a participação será mediante inscrição.

Programação

Mostra Carroça de Mamulengos

Programação

“Histórias de Teatro e Circo”
Próximas sessões: 28 e 29/09 (sábado e domingo), às 11h e 16h.
Local: Teatro I

“Janeiros”
Dias 5 e 6/10 (sábado e domingo), às 11h e 16h; e dias 12 e 13/10 (sábado e domingo),
às 16h.
Local: Teatro I

O Babauzeiro”
Dias 12 e 13/10 (sábado e domingo), às 11h; e dias 19 e 20/10 (sábado e domingo), às
11h e 15h.
Local: Teatro II

Seminário – Carroça de Mamulengos

28/09 – Sábado
Horário: 13h
Local: Teatro I
Ingressos gratuitos pelo site ccbb.com.br/bh e na bilheteria do CCBB BH, disponíveis a
partir de uma hora antes do evento.

Oficina

12/10 – Sábado
Horário: 13h
A oficina vai oferecer 20 vagas gratuitas mediante inscrição prévia. O local e
orientações sobre a inscrição serão divulgadas oportunamente.

Serviço

“Mostra Carroça de Mamulengos – Três Gerações de Arte Brincante”

Temporada: Até 20 de outubro | Sábados e domingos, às 11h e 16h.
Nos dias 19 e 20 de outubro, às 11h e 15h,
Local: Teatro I e II do CCBB Belo Horizonte (Praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Classificação indicativa: livre
Ingressos dos espetáculos: R$30 (inteira) e R$15 (meia), disponíveis no site do equipamento (clique aqui)
e na bilheteria do CCBB BH.

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