Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Tom Farias lança biografia de Carolina Maria de Jesus no Fliaraxá

O autor é um dos convidados da próxima edição do Fliaraxá. Ele estará na mesa Biografia e/ou Romance Histórico, marcada o dia 21 de junho, na companhia de Vagner Fernandes

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Carolina Maria de Jesus foi uma escritora brasileira, uma das primeiras a ganhar esse título sendo uma mulher negra. Nasceu em Sacramento, Minas Gerais, microrregião de Araxá. Contudo, viveu boa parte da vida na Favela do Canindé, zona norte de São Paulo. Durante todo esse tempo, Carolina Maria de Jesus cuidava de si mesma e dos filhos sendo catadora de papel.

Esta é apenas uma parte da história de uma das maiores escritoras brasileiras. É um fragmento da biografia que encontramos por aí em sites, blogs e resumos. Mas o escritor, professor e crítico literário Tom Farias foi além. Em Carolina: uma biografia revela detalhes da vida e obra da autora.

O autor é um dos convidados da próxima edição do Fliaraxá. Marcado para o período de 19 a 23 de junho, o festival organizado por Afonso Borges, levará para Araxá mais de cem autores. O angolano Valter Hugo Mãe é o homenageado e Machado de Assis o patrono. O tema de 2019 é Literatura, Leitura e Imaginação. Entre os convidados estão, também, nomes como Monja Coen, Edney Silvestre, Clóvis de Barros Filho, Conceição Evaristo e outros.

Tom Farias, biógrafo de Carolina Maria de Jesus. Foto: Marta Azevedo

Tom farias é estreante no Fliaraxá. “Fui convidado pelo Afonso Borges e, pra mim, foi uma surpresa. Vai ser muito importante essa participação, espero contribuir da melhor forma em Araxá”. Ele estará na mesa Biografia e/ou Romance Histórico, marcada para dia 21 de junho, na companhia de Vagner Fernandes, que também lançará uma biografia. No caso, a de Clara Nunes.

Escrita feminista

Carolina Maria de Jesus era conhecida em sua época como favelada, suja, mendiga. Deixou de ser assim em 1960. Foi quando o jornalista Audálio Dantas fez uma matéria jornalística na Favela do Canindé e  conheceu Carolina e o seu diário. Enquanto era catadora de papel, Carolina registrava o seu dia a dia em cadernos que encontrava no meio do material que catava. Um desses diários deu origem ao livro mais famoso da autora, Quarto de despejo: diário de uma favelada. “O livro Quarto de despejo provoca a questão nacional da favelização presenciada por Carolina, pois em relatos da sua rotina ela deixou expostas fissuras e fístulas da sociedade em que vivia”, explica Tom Farias.

 

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A obra teve tiragem inicial de 10 mil exemplares que esgotaram em uma semana. Ela também já foi traduzida para mais de 14 idiomas desde o seu lançamento. De fato, é um dos marcos da escrita feminina no Brasil.

Tom Farias explica que decidiu estudar a vida e a obra de Carolina Maria de Jesus devido ao peso que ela tem na nossa história. E muito além de fazer uma biografia tradicional com o relato dos fatos em ordem cronológica, Tom Farias buscou contar quem de fato ela era. “Eu quis humanizar a Carolina. Fui três vezes à Sacramento, no cartório, cemitério”, comenta.

O escritor, professor e crítico literário vive a história da personagem para que ela seja retratada tanto em suas ficções, como nos ensaios, peças e, principalmente, biografia. Dessa maneira, além da viagem à cidade natal de Carolina, Tom Farias também recorreu a parentes da autora e a tudo que se falou sobre ela. Aí entraram notícias de jornais e outros comentários. Tudo isso para ser o mais fidedigno possível e mostrar diversas nuances da história de Carolina Maria de Jesus.

O livro

Carolina Maria de Jesus. Foto: Arquivo Nacional/Divulgação

Tom divide Carolina: uma biografia em algumas partes. Na primeira, por exemplo, apresenta a Carolina de Sacramento e as dificuldades que passou ao lado da mãe na infância. Esse fragmento conta a história da menina que viveu em Minas Gerais, a mesma que os leitores conheceram no livro Diário de Bitita (apelido de infância de Carolina).

Juntamente a isso, Farias mostra as origens afro-brasileiras de Carolina e completa o texto “O sócrates africano” escrito por ela. Sendo assim, neste momento, o autor apresenta a pouca formação escolar de Carolina, o sofrimento da infância, a prisão sem motivos da mãe e outros traços de uma país assombrado pela escravidão.

Na segunda parte, aparece a Carolina das cidades grandes. O foco vai para São Paulo, onde ela viveu até a sua morte. Tom Farias explica melhor como a autora chegou à favela do Canindé, sua vida como catadora de papel e o esforço para criar os filhos. Ela também já tinha seu projeto literário, visitando jornais e ficando em contato com revistas.

Já na terceira parte, a obra mostra Carolina famosa pelo sucesso do seu livro. Dessa maneira, Tom Farias conta a história da publicação de Quarto de despejo e os números que essa publicação alcançou. Aborda também a recepção do livro no Brasil e no exterior. Diz, ainda, sobre a relação de Carolina Maria de Jesus com o movimento negro e personalidades famosas com quem conviveu.

Todo esse relato é acompanhado de fotografias e documentos.

Em tempo: em  2019, o Culturadoria é responsável pelo conteúdo publicado no site e nas redes sociais do Fliaraxá. Uma parceria que nos alegra muito! 

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