Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Breves reflexões sobre a (minha) Virada Cultural

Marcelo Veronez, Chama o Síndico e Daniela Mercury animam o público e se posicionam na Virada de Cultural de BH de 2019

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O que sempre me encantou na Virada Cultural é o fato de poder andar pela cidade com um olhar diferente do cotidiano. E foi assim, descendo a Rua Rio de Janeiro, da Praça Sete em direção à Guaicurus que mais uma vez me dei conta disso.

Com o passo apressado, um senhor perguntou se era também para o Odair José que estávamos indo. Era. Mas, na verdade, era mais para celebrar com Marcelo Veronez os 10 anos do projeto Não sou nenhum Roberto e, de quebra, ver Odair. “Ele fazia mais sucesso do que o Roberto Carlos mas ele foi jogado para escanteio”, contou. Tudo isso no centrão de BH, em um local que normalmente não passo, muito menos a pé.

Para o moço de passo apressado, quando Odair José cantou “eu vou tirar você desse lugar” para uma prostituta na década de 1970, cometeu “falta grave” nos tempos conservadores da ditadura. Foi colocado na geladeira e acabou sendo ultrapassado em popularidade pelo “rival”, Roberto Carlos.

Daniela Mercury na Virada Cultural. Foto: Lucas Hallel/Divulgação

Ou seja, estar em um show dele, na Guaicurus, em um tempo em que o conservadorismo bate novamente à nossa porta, é uma forma de resistência! Pelo menos a minha Virada foi cheia de exemplos de como artistas tem feito para resistir a ataques quase diários ao direito à livre expressão!

Primeira parada: Guaicurus na Virada Cultural

“Que a Nossa Senhora das Travestis nos proteja nessa noite”. Assim, com ao cancelamento da performance do coletivo Transvest, Marcelo Veronez abriu a apresentação na Virada Cultural de BH em 2019. Lá se vão 10 anos desde que ele criou o projeto deste show e desde então, tudo cresce. Principalmente, a relação dele com o repertório. Se você ainda não viu, coloque na sua lista.

Sendo assim, apresentação na Virada Cultural, talvez por toda a energia que ela tem, parece ter uma intensidade maior. Marcelo deu espaço para vários protestos no palco e, inclusive, fez coro. Odair José também. Eles cantaram juntos quatro músicas, entre elas, o clássico “Eu vou tirar você desse lugar”. O show terminou com Veronez cantando Emoções sentando na grade do público. Uma proximidade que deu mais sentido para os versos da canção: “se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi”.

 

Marcelo Veronez e Odair José na Virada Cultural. Foto: Alexandre Guzanshe/Divulgação

 

Praça da Estação

Dali partimos para a Praça da Estação. Tudo muito tranquilo. Eventos assim, na minha opinião, ampliam nossa relação com a cidade. Porém, minha esperança é que um dia os homens pensem nisso e parem de fazer xixi na rua. Mesmo com banheiro químico, essa praga continua. É um hábito que precisa mudar em respeito às pessoas, à cidade. Enfim, tema para outra conversa né!

Chama o Síndico já estava no palco quando chegamos no segundo destino. Sabe o que me chamou atenção: a alegria. Apesar dos tempos bicudos, todos os shows que eu fui da Virada Cultural estavam contaminados por um clima leve, alegre e mesmo assim político. Fernanda Abreu (que parece estar no formol) foi a convidada deste show que marcou o lançamento do primeiro disco do bloco mineiro. Arrasou!

Duas músicas, em especial, marcaram. Primeiro a atualidade da letra de Rio 40 Graus, que ela fez com Fausto Fawcett em 1992. Depois, a providencial alteração na letra de Vale Tudo, de Tim Maia. Se no original ele diz “só não vale dançar homem com homem/ nem mulher com mulher”, a versão do Síndico corrige esse erro. Eles cantam: “também vale dançar homem com homem/ e mulher com mulher”.

 

Fernanda Abreu na Virada Cultural. Foto: Lucas Hallel/Divulgação

 

Rainha na Virada Cultural

Daniela Mercury subiu ao palco precisamente às 0h08. Terminou o show exatamente 2h30 depois e deixou uma plateia extasiada. É impressionante o talento que essa mulher tem para comandar – e alegrar – uma multidão.

Ela abriu o show cantando Coração Civil, de Milton Nascimento. “Quero a utopia, quero tudo e mais/ Quero a felicidade dos olhos de um pai/ Quero a alegria muita gente feliz/ Quero que a justiça reine em meu país/ Quero a liberdade, quero o vinho e o pão/ Quero ser amizade, quero amor, prazer/ Quero nossa cidade sempre ensolarada/ Os meninos e o povo no poder, eu quero ver (…). Ou seja, tá tudo posicionado aqui. Mas não ficou nisso.

A cantora passou por diversas fases da carreira. Cantou, por exemplo, Swing da Cor, O mais belo dos belos (A verdade do Ilê) / O charme da liberdade, Ilê Pérola Negra, Rapunzel, esta com participação de Aline Calixto. Na ocasião, a mineira oficializou o pedido ao prefeito Alexandre Kalil para convidar Daniela para o Carnaval de BH. A baiana disse que vem.

 

Daniela Mercury e Aline Calixto na Virada Cultural. Foto: Lucas Hallel/Divulgação

 

Viva o Nordeste!

Como já era esperado, Daniela Mercury também falou sobre resistência. Incluiu no repertório Paraíba, de Luiz Gonzaga e, obviamente, foi bastante aplaudida nos versos “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor”. Fez homenagem a todos os Estados do Nordestes e aos artistas da região. Entre eles, mandou saudações para a cantora Alcione. Ela também gravou um vídeo se posicionando contra a declaração absurda e equivocada do presidente Bolsonaro sobre os nordestinos. Daniela falou, ainda, sobre os negros e sobre o casamento igualitário.

“Que bom que a gente conseguiu criminalizar a homofobia, mas queria dizer que tem famílias maravilhosas compostas por filhos de mulheres, de homens, de trans. O mundo não é binário”, disse. Como Daniela bem resumiu, o povo negro, o povo LGBT quer exuberar e, se depender dela, não há nada que vá segurar isso. Ainda bem!

 

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