Veja cinco títulos (biografias ou autobiografias) recentes ligados ao universo da televisão brasileira
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Recém-lançado pela Editora Todavia, o livro “Meu Passado Me Perdoa”, autobiografia de Aguinaldo Silva, vem se somar a uma lista recente de publicações que se debruçam sobre a trajetória de nomes basilares da televisão brasileira. Outro título recente deste nicho é a biografia da atriz Susana Vieira, “Senhora do Meu Destino”. O primeiro leva a chancela da Todavia, enquanto o segundo, da Editora Globo. Mais que histórias de bastidores da Rede Globo, emissora na qual Silva atuou por décadas, e de cujo quadro Susana Vieira ainda faz parte, os livros se destacam, ainda, por mostrar detalhes da vida de dois nomes que, sim, admitamos, despertam muito interesse.
Outros livros recentes são “Gilberto Braga – O Balzac da Globo” e “Eu Me Lembro”. O segundo desvela pensamentos e episódios da carreira do Selton Mello, e foi lançado pela Jambô Editora. Já a biografia do autor de novelas como “Pátria Minha”, “Celebridade” e “Vale Tudo”, morto em outubro de 2021, foi iniciada pelo jornalista Artur Xéxeo, que, por sua vez, faleceu em junho do mesmo ano. Assim, quem terminou a escrita foi o jornalista Maurício Stycer. Não tão recentes, mas também importantes, são as biografias de Lucélia Santos e de Léa Garcia (neste caso, o escopo se amplia e fala também de outros tópicos importantes da história, como o Teatro Negro). Confira, a seguir, alguns títulos.
“Meu Passado Me Perdoa – Memórias de Uma Vida Novelesca” – Aguinaldo Silva
Lançada pela Editora Todavia, a autobiografia do pernambucano (de Carpina) Aguinaldo Silva se inicia com um título provocativo: “Pobre, feio, esquisito e afeminado”. Ou seja, a narrativa começa com o nascimento do futuro dramaturgo, em uma espécie de prólogo, em itálico. Já na página seguinte, ele, que também atuou como jornalista, recorda-se do dia em que, como diz, embora só tivesse 13 anos, deixou de ser criança. Isso, após sofrer uma série de agressões inenarráveis, no colégio em que estudava. “Não houve nada que eles não me atirassem: pedras, paus, sapatos, terra, cadernos, canetas, livros, a meia porta de um dos banheiros, que acabou sendo arrancada… “, escreve, sobre a agressão dos colegas de escola.
Detalhe: em vez de acolhimento, a escola chegou a pensar em expulsar Aguinaldo. Desistiu ao pensar que seria incoerente punir a vítima e deixar livres os agressores. O dramaturgo diz, no livro, que, até então, havia guardado para si essa história. No curso da escrita, Aguinaldo Silva conta dos primeiros livros lançados (incluindo um episódio em que todos os exemplares disponíveis em uma livraria foram comprados por radical direitista e lançados ao Rio Capibaribe) e da entrada em uma redação – do jornal “Última Hora”, agora como jornalista. Depois, já no Rio, a passagem pelo Jornal do Brasil, O Globo, Lampião… Um aperto e tanto no Alto da Boa Vista… até ser convocado por Daniel Filho para uma reunião. E virar uma lenda da televisão brasileira.
Dramaturgo
A convite do visionário Daniel Filho, Aguinaldo deu os primeiros passos na carreira na TV, por meio do seriado “Plantão de Polícia”. Era o ano de 1978. No livro, vale dizer, a parte que centra-se na carreira televisiva tem início lá adiante, pela página 260. E narra vários momentos icônicos, como a primeira parceria em novela, em “Tieta”. Depois, com Glória Perez, veio “Partido Alto. Daí, ele fala da rixa com Dias Gomes (resolvida, segundo ele, e dias antes do acidente que matou o soteropolitano, em 1999) e da parceria com Gilberto Braga e Leonor Bassères. E foi “Tieta”, que, diz Silva, o alçou “ao céu do universo televisivo e à qualidade de estrela de primeira grandeza”.
Bem, ele conta vários episódios de bastidores das novelas, celebra atrizes como Suzana Vieira e Betty Faria, bem como Renata Sorrah… Até o episódio em que, em Portugal, recebe o telefonema avisando-o do encerramento do contrato com a Globo. O capítulo derradeiro traz Aguinaldo falando da comemoração dos 80 anos, ao lado de pontuações sobre as reviravoltas que a vida traz, e que alguns executivos, inocentes que só, ignoram. Ao fim das contas, o balanço é o de que, com uma linguagem longe de rebuscamentos desnecessários, uma franqueza misturada à prudência e o fato de estar presente em momentos tão icônicos da televisão brasileira garantem a leitura fluida e saborosa.
“Susana Vieira – Senhora do Meu Destino”
Uma das mais populares atrizes da televisão brasileira, Susana Vieira lançou, pela Editora Globo, essa biografia escrita a quatro mãos – no caso, junto a Mauro Alencar. Assim, repassa a trajetória da infância ao estrelato, incluindo, por exemplo, a leucemia que descobriu em 2015. “Senhora do Meu Destino” (336 págs; 64,90 e 44,90 em e-book) .ambém traz depoimentos de colegas e amigos, como Miguel Falabella, Tony Ramos, Arlete Salles, Silvio de Abreu, Boni e Renata Sorrah. Vale lembrar que, aos 81 anos, Susana Vieira já atuou em mais de 40 novelas. A carreira dela já perpassa seis décadas.
“Gilberto Braga – O Balzac da Globo”
Lançado pela Editora Intrínseca, o livro é fruto de extensa pesquisa dos autores. Assim, esquadrinha toda a vida de Gilberto Braga: a infância com a família na Tijuca, a juventude na Zona Sul do Rio de Janeiro, a paixão pelo cinema, os primeiros trabalhos como professor da Aliança Francesa… E, ainda, o exercício da função de crítico de teatro do jornal “O Globo”, bem como o convite de Daniel Filho para, enfim, iniciar a carreira na TV. Daí, primeiramente, alguns episódios do extinto “Caso Especial”, bem como as bem sucedidas novelas e minisséries – como “Anos Dourados” escritas por ele. O conteúdo também abarca as dificuldades pessoais que enfrentou ao longo das décadas, até o falecimento, em 2021.
“Eu Me Lembro” – Selton Mello
Narrado em primeira pessoa, o livro “Eu Me Lembro” (Jambô Editora, 344 páginas, R$ 79,90) traz Selton Mello respondendo perguntas elaboradas por expoentes da TV, do teatro, cinema e literatura. Nomes como Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Zuenir Ventura, Marjorie Estiano, Jeferson Tenório e Fábio Assunção. O livro conta com três cadernos de fotografias, somando, assim, mais de 70 fotos. No curso dos capítulos, o mineiro lembra personagens que interpretou (ou que dublou e dirigiu) e, claro, compartilha bastidores de gravações. Assim, ele fala de experiências como a de dirigir o ator Paulo José, já debilitado pelo Parkinson, em “O Palhaço”. (abaixo, foto da capa do livro, enviada pela LC Agência de Comunicação)
Ele também aborda a experiência de lidar com a mãe, Selva, acometida pelo Alzheimer. “Eu perdi a minha referência mais importante. Desde então, o meu exercício foi continuar fazendo pra ela, mesmo sabendo que ela não vai ver. Ela está aqui e não está. Então agora a minha mãe está dentro de mim”. Selton Mello também confessa adorar memes. “Amo essas bobagens. Afasta a tristeza de mim. Aliás, só tô nas redes sociais por causa dos memes”. Em tempo: o título do livro parece fazer menção ao de um dos mais icônicos filmes de Federico Fellini, “Amarcord”, uma corruptela de “Io mi Ricordo”.
Lucélia Santos e Léa Garcia
Na novela “Escrava Isaura” (Globo, 1976), Lucélia Santos era a protagonista. A antagonista, por sua vez, era Rosa, vivida por Léa Garcia (1933 -2023). Curiosamente, as livrarias receberam, recentemente, as biografias de ambas. “Coragem Para Lutar” (Editora Telha, 160 páginas, R$ 69), do jornalista Eduardo Meirelles, foca não só na trajetória de Lucélia Santos, hoje com 67 anos, como atriz como também na vida política. Aliás, o prefácio é de José Genoíno. O livro traz vários depoimentos, como os de Betina Vianny, Cristina Pereira, Carlos Minc, Zezé Weiss, Angela Mendes, Gomercindo Rodrigues, Sônia Guajajara, Luiza Erundina, Matheus Nachtergaele, Fernando Gabeira e Pedro Neschling (filho da atriz).
Já “Entre Mira, Serafina, Rosa e Tia Neguita: A trajetória e o protagonismo de Léa Garcia” (Editora UEA, 236 páginas, R$ 60), do professor doutor Julio Cláudio da Silva, do Centro de Estudos Superiores de Parintins da Universidade do Estado do Amazonas (Cesp/UEA), busca recuperar aspectos da história do protagonismo negro no pós-abolição brasileiro a partir de estudos de cunho biográfico sobre a trajetória da atriz. Léa Garcia nasceu no Rio de Janeiro em 11 de março de 1933, e estreou no Teatro Experimental do Negro em 1952. Em 70 anos de carreira, atuou em dezenas de peças de teatro, no cinema e na televisão. Tornou-se conhecida internacionalmente com “Orfeu do Carnaval” (1959), de Marcel Camus. Aliás, sua performance a levou a concorrer ao prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes.