
Leonard Bernstein. Crédito: Al Ravenna World Telegram staff
“O regente ou o intérprete deve absorver de tal maneira o que está fazendo que, quando executa, deveria fazer como se fosse o próprio compositor”. Eis um dos tantos ensinamentos que o maestro e diretor artístico da Filarmônica de Minas Gerais, Fabio Mechetti, aprendeu com Leonard Bernstein. “Não se pode executar uma obra sem convicção”, continua.
Sim, eles se conheceram em master class, bastidores de concertos nos Estados Unidos. Também por isso ter a Filarmônica integra o calendário Bernstein at 100 é motivo de alegria. Em 2018 é o ano em que se celebra o centenário do regente, compositor e pianista americano. Mais de 100 orquestras dos cinco continentes prepararam programas especiais dedicados à obra dele.
“É um desafio bom porque é um repertório novo para a Orquestra e todas as obras são muito interessantes. É uma boa oportunidade para o público entender melhor a grandiosidade de Bernstein”, comenta Mechetti. Segundo o maestro, muito se sabe sobre a carreira de Leonard como regente. De acordo com ele, é preciso conhecer mais e mais sobre as composições.
Programação em BH
Em Belo Horizonte, a programação especial na Sala Minas Gerais começa com um concerto cênico. Ao todo serão apresentadas oito obras, de estilos variados, justamente para dar a dimensão da versatilidade de Bernstein. Ele compôs obras sinfônicas, trilhas sonoras para cinema e musicais da Broadway, por exemplo. “O repertório que executamos é um patrimônio histórico, então, temos que estudar muito profundamente”.
No dia 21 de julho, estão no programa Árias e Barcarolas e a ópera Trouble in Tahiti. Participam como solistas Stephen Powell (barítono), Luisa Francesconi (mezzo-soprano), Rita Medeiros (soprano), Márcio Bocca (tenor) e Vinícius Atique (barítono). A direção de cena ficará a cargo de André Heller-Lopes.
A música escrita para teatro, cinema e sala de concertos é o destaque dos concertos dos dias 2 e 3 de agosto. A abertura da ópera Candide, o tema musical do filme On the waterfront e a Sinfonia nº 2: “A Era da Ansiedade” fazem parte do programa. O encerramento do ciclo de homenagens será nos dias 9 e 10 de agosto com algumas das obras mais conhecidas. Entre elas estão as trilhas sonoras do balé Fancy Free e o musical, West Side Story.
Revolução
De acordo com Fabio Mechetti, cada concerto vai exigir postura diferente. No dia de West Side Story, por exemplo, a Filarmônica vai soar como orquestra de musical, com o som típico de Broadway. No caso desta composição de Bernstein, lançada em 1957, o maestro chama atenção para seu caráter revolucionário.
Se os musicais da época, apesar de grande qualidade, tinham linguagem mais superficial e ligeira, Bernstein deu um caráter quase operístico. “Estava anos à frente do que estava sendo executado na época por outros compositores”, explica. A grande inovação de Leonard Bernstein foi combinar de maneira bem sucedida características de estilos da música popular norte-americana com a linguagem sinfônica. E mais: para contar uma história tão conhecida como é a de Romeu e Julieta, porém, em um contexto das ruas da Nova York dos anos 1950.
Leonard Bernstein foi um compositor que produziu muito ao longo da vida. Durante 25 anos esteve à frente da Filarmônica de Nova York. Somente com esta orquestra, comandou mais de mil concertos. Sendo a obra tão vasta, muitas das peças escolhidas para a homenagem serão regidas por Fabio Mechetti pela primeira vez na vida.

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Crédito: Rafael Motta
Ópera
A ópera da abertura é uma delas. Será a segunda vez que o diretor de cena André Heller-Lopes monta Trouble in Tahiti. Conta a história de casal às voltas com um casamento em ruínas, em que a mulher se sente culpada e procura a ajuda de psiquiatra. Sendo assim, é uma ópera que questiona a falência do projeto de felicidade artificial imposto pela sociedade americana. É uma ópera cênica de 40 minutos.
“O Concerto cênico trabalha com o espaço que tem. Como o teatro daqui é em arena nossos solistas se movimentam o tempo todo. Eles ainda contracenam com elementos cênicos”, detalha André. Para ele, não há dúvidas de que Leonard Bernstein como um dos maiores regentes do século XX. “Ele é uma referência de compositor muito importante. Traz uma música para o grande público. Uma ópera conceituada, curta e agradável”.