
Foto: Agência Galo / Divulgação
Se quando você começar a explorar as obras do Basquiat no CCBB-BH surgir um pensamento tipo, “o que isso está fazendo dentro de um museu”, não se preocupe? O processo é este mesmo. De maneira idêntica, nem o curador, o holandês Pieter Tjabbes, escapou dessa primeira impressão.
“Eu organizei esta exposição como uma dívida de honra que tenho com Basquiat”, confessou. Isso porque quando ainda era estudante de história da arte na Holanda, Pieter visitou uma exposição e saiu de lá indignado com o quadro do pintor nova-yorkino. Hoje não tem vergonha em reconhecer que naquela altura achou um absurdo a obra estar dentro de um museu.
Eles chegaram até se encontrar em um dos eventos de arte da Europa e Basquiat foi solenemente ignorado por Pieter. “Foi um despreparo meu. Não consegui observar a importância dele no momento em que estava criando. Assim, precisei de um espaço de 30 anos para estudar e refletir”, reconhece. Hoje, não tem a menor dúvida sobre a força e atualidade da arte de Basquiat. Não é à toa que assina curadoria da Exposição do artista que até o dia 24 de setembro ocupa o CCBB-BH. São 80 peças na exposição.
Então, para quem não é muito familiarizado com as artes plásticas, a dica do curador é observar a obra e interpretá-la com o auxílio dos textos e do áudio guia. Diante de cada quadro QR code que o visitante pode escanear e ouvir no próprio celular. Basquiat tem forte influência da arte de rua. Inclusive, começou a carreira no grafite, linguagem que deixa marcas ao longo de toda carreira.
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Confira a seguir alguns elementos para prestar atenção quando estiver diante das pinturas.
Palavras
As palavras para Basquiat tem dupla “função”. Além de ser texto, em si, também são imagens na composição do todo dos quadros. Inclusive, raramente o trabalho dele tem um elemento central. São justaposições de imagens, letras, traços, símbolos. Inclusive textos riscados. “Seu uso abstrato de palavras e letras também reflete uma compreensão sofisticada da abstração modernista da linguagem remetendo a Gertrude Stein”, como descreve Jeffrey Deitch no catálogo da exposição.
Coroa e Setas
O uso símbolos é frequente na obra de Basquiat. Se você reparar, verá que em grande parte dos quadros que compõem a Coleção Mugrabi, aparecem setas e/ou coroas. São marcas registradas dele. A constante presença da coroa, inclusive, faz com que historiadores de arte pirem um pouco em busca de seu significado. Pode representar tanta, mas tanta coisa que prefiro deixar para que você tire as próprias conclusões.
Anatomia
Uma das curiosidades que o curador Pieter Tjabbes gosta de contar é o fascínio que Basquiat tinha pela anatomia humana. Aos sete anos ele sofreu um acidente e precisou ficar um mês no hospital. Para o período de repouso ganhou da mãe um Atlas de Anatomia, que influenciou toda a carreira. Pintou muitas costelas, pés, mãos, ossos. As figuras que aparecem na obra de Basquiat são totalmente frontais. Ou seja, não há tridimensionalidade.
Sem assinatura
Por fim, uma curiosidade: nenhum dos quadros de Basquiat tem assinatura. Pieter sugere algo que transformo em pergunta: será porque ele se sentia autoral demais?