A atriz Bárbara Colen e o diretor André Novais Oliveira participaram de uma entrevista coletiva na qual repassaram as respectivas carreiras
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Tem sido intensa, a agenda de André Novais Oliveira e Bárbara Colen em Tiradentes. Mas as demandas e os compromissos vários têm todo sentido. A atriz e o diretor mineiros são os homenageados da 27ª Mostra de Tiradentes. Assim, desde a cerimônia de abertura do evento, estão ali, falando das respectivas carreiras e, claro, também da vida. Neste domingo, 21 de janeiro, não foi diferente. Às 12h30, Bárbara adentro a Sala de Imprensa para participar da coletiva prevista com os jornalistas que estão na cidade histórica para o festival. Belíssima (ainda mais pessoalmente do que aparece nas telas), Bárbara exibiu a simpatia habitual. Um pouco depois, chegou André.
Pacientemente, os dois responderam às várias perguntas – aliás, a entrevista teria se estendido ainda mais não fosse o prazo estipulado. O Culturadoria acompanhou o bate-papo e mostra aqui, em tópicos, um pouco do que foi falado. Confira!
Parceria com Kleber Mendonça
A atriz Bárbara Colen trabalhou com Kleber Mendonça nos filmes “Aquarius” e “Bacurau”, e foi perguntada sobre a experiência. “Kleber é um parceiro de trabalho. É muito curioso como que eu senti, desde muito cedo, uma sintonia muito forte com ele, sabe? De realmente entender o que ele queria. Acho que a gente, hoje, tem um diálogo que muitas vezes não passa pela conversa. São outras maneiras de comunicação. E o Kleber é um cara que consegue trazer para o set uma coisa que é bonita demais quando acontece. Todos se apaixonam pelo filme que ele está rodando. Então, isso gera um desejo muito grande na equipe de fazer.
Escuta
Bárbara ressaltou também o fato de Kleber ser um diretor “que sabe ouvir demais as equipes”. “Assim, cada equipe dentro do filme fica muito contemplada, se sente muito ouvida, muito reconhecida. E isso, quando acontece, é muito importante. Porque o setor de arte, o setor de fotografia, todo mundo está sentindo que está contribuindo para o trabalho. Então, eu acho que isso gera um ambiente de harmonia no set que é muito importante. E, acho, se reflete nos filmes. “Bacurau”, por exemplo. Eu tenho certeza que a alegria que a gente sentiu fazendo, e a força que a gente sentiu fazendo, se refletem no resultado final do filme. Ao fim, ela comentou que, por ora, não tem nenhum projeto em curso com o diretor. “Não, infelizmente. Eu queria demais. Podem falar com ele”, riu.
Sobre a homenagem em Tiradentes
No momento em que foi perguntada sobre a homenagem da Mostra de Tiradentes, André Novais Oliveira adentrou a sala. “Gente, eu acho que a chegada do André no momento dessa pergunta já diz muito. Eu falei isso. Que, para mim, não é simplesmente uma homenagem. Aliás, ontem, a gente fez um debate muito bonito. Eu e o André, subiu todo mundo (no palco), o pessoal da Filmes de Plástico na mesa… Foi um pouco lembrar de tudo, né? Desse caminho que a gente fez até aqui. E é muito engraçado, porque a gente tem uma sensação de família mesmo, muito rara de acontecer. E ontem, no debate, eu fiquei pensando que é um pouco isso. Essa sensação de que você está em um ambiente de pessoas que vibram juntos e que estão construindo juntos.
E prosseguiu: “Então, estar aqui, em Tiradentes, ser homenageada com essas pessoas que são amigos pessoais e amigos de carreira… A gente se sente em uma coisa pessoal. Aliás, eu fiz um post no Instagram com uma música do Milton (Nascimento) que diz que o que foi feito é preciso conhecer, para a gente melhor prosseguir. Assim, eu acho que essa homenagem está sendo um pouco isso pra mim. Revisitar tudo que aconteceu, toda a trajetória até aqui. Às vezes, a gente vai vivendo e vai fazendo e não reflete sobre o conjunto que está produzindo. Então, é um pouco revisitar. No entanto, não para ficar nessa coisa do saudosismo, mas um pouco para entender os profissionais que a gente é hoje e ver o que queremos dizer agora.
Incentivo
Perguntada se a homenagem atua como incentivo à carreira, Bárbara lembrou que André falou sobre isso em um dos eventos da Mostra. “Que é combustível para novas coisas. Eu sinto que sim. Principalmente como atriz”, adicionou.
Ofício de atriz
Isso porque ser atriz tem suas complexidades, comenta Bárbara. “Primeiramente, você se expõe num set. Na frente de um set inteiro, você tem que expor todas as suas questões. Você fica muito nu na frente de todo mundo, né? E também na frente do público. Expor, dar a cara a tapa. Se expor a críticas, sabe? O tempo todo com um material interno muito delicado. É como pegar as suas dores e falar: ‘Olha, tá aqui”. E aí vir alguém e olhar e falar: “É, mas você não está muito bem não”. “Você não está muito legal, nossa, chorou (de um modo) feio”. E é você mesmo. Então, é doloroso. Ator, acho que tem uma parcela de amor e paixão, mas também muito doloroso também. Então, quando vem esse reconhecimento (a homenagem em Tiradentes) é um tipo falar: “Cara, é isso aí, tudo certo. Muitas vezes a gente para e pensa: “Nossa, será? Será que eu consigo? Será que eu continuo?” E aí realmente eu acho que (a homenagem) vem como um acalanto.
Territorialidade
Outra pergunta feita aos dois foi a respeito da importância da pauta “territorialidade” nas produções que os envolvem. André falou sobre o tema, citando o filme “Temporada”. “É uma personagem – Juliana (Grace Passô) – que chega num lugar e entende aquilo como algo que pode mudar a vida dela. E realmente muda. Tem essa vivência com o território, essa conversa com o lugar e tal, de se entender com Contagem de uma forma, digamos, não turística. No sentido de pensar que o lugar era totalmente estranho. E para a Grace (Passô), por exemplo, foi um exercício interessante.
André explica: “Porque ela mesma me disse que morava num lugar parecido com Contagem. Assim, para ela, batia muito forte a coisa de estar ali e tal. Mas cada filme é um filme, assim, essa questão da personagem com o território muda a cada produção.
Vivência
Sobre o mesmo tema, Bárbara se reporta a produções que envolvem um processo temporal mais extenso. como foi “Bacurau”. “A gente passou três meses no sertão, sem sair de lá. Eu não voltei para casa em nenhum momento. Então, tem uma coisa de você estar naquele lugar, vivendo nele, onde a coisa vai acontecendo”. A atriz também acrescentou que, no ano passado, filmou “Caminho das Ostras”, de Marcos Pimentel. “Um filme que fala bastante de mineração, de barragens… Então, a gente foi para Matipó, e era uma vila com umas 30 casas. Assim, aquela coisa de estar e sentir o lugar, como a gente também fez em “No Coração do Mundo”. O cinema tem isso, que é muito bonito e que eu acho que às vezes facilita demais. Porque as coisas estão ali. Você está na frente do mar, o mar está na frente de você. No teatro, você imagina o mar, você imagina uma estação de metrô.
Mergulho
A atriz Bárbara Colen acrescenta que há um lugar de arte de personagem que o ator precisa entender. “Desse modo, eu gosto de ler os roteiros tentando entender qual o caminho que aquela cena está seguindo. Acredito que é importante ir construindo a coisa pouco a pouco, para que também isso vá sendo construído no mundo. Porque tem uma coisa: em uma cena de raiva na qual você já explode desde o início, vai chegar uma hora que não há mais para onde ir, né? Assim, a gente tem que ir pouco a pouco para poder ir trazendo (camadas) até (o momento) panela de pressão. E acho que uma coisa que a gente precisa prestar muita atenção é o tempo interno de cena, porque é nesses tempos que a gente consegue trazer a emoção
Cinema/Televisão
Bárbara pontuou que não vê diferença entre o preparo do ator para a realização de um filme independente ou de viés comercial. “Agora, televisão, sim”. Brincando, ela disse que muitas pessoas a alertaram sobre o quando a TV era cansativa. “Mas eu não tinha ideia que era tanto. Você trabalha de segunda a sábado, de 10h às 22h. E, no domingo, você se dedica ao texto para a próxima semana. Em cada dia, chegava a fazer 30 cenas. Então, é um volume de trabalho enorme”.