Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Por que foi um acerto a indicação de ‘Babenco’ como o filme do Brasil para o Oscar em 2020?

Longa dirigido por Bárbara Paz foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na disputa por uma indicação na categoria de melhor filme em língua estrangeira

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Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou é daqueles filmes desconcertantes. Talvez uma das mais belas declarações de amor feitas por meio do cinema. É um trabalho que tem a poesia como norte. Ela aparece nas situações, nas falas e nas imagens, na reverência que faz ao diretor Hector Babenco (1946-2016). Em tudo. O longa estreia nos cinemas brasileiros no dia 26 de novembro. 

Se o filme dirigido por Bárbara Paz terá chance na cerimônia de 2021 já são outros quinhentos. Mas só por ser uma escolha diferente daquela que geralmente norteia a indicação do título brasileiro a concorrer a uma das cinco vagas na categoria de melhor filme em língua estrangeira no Oscar, eu já fico animada. Mas tem mais coisas a se comentar. 

Sim, eu gostei demais do longa. Vi durante a Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2020. Por isso, talvez a opinião aqui seja mais levada pela emoção. Afinal, críticos, repórteres são humanos. Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou conecta e emociona. Transcende. 

Hector Babenco na cena do filme dirigido por Bárbara Paz. Foto: Frame/ Primeiro Plano Comunicação

Deixo aqui um exercício racional de elencar alguns pontos que me deixam ainda mais animada com a indicação. Faço a aposta e monto a torcida mesmo sem saber quem serão os concorrentes.

 

 

Premiado em Veneza

Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Saiu de lá com o Leão de Ouro de melhor documentário. Isso conta, e muito, para impulsionar uma campanha para Oscar. É um tipo de credencial. E tem mais, além de Veneza, faturou também o Golden Conch Award de melhor documentário no festival Internacional de Mumbai, além de ter sido indicado na mesma categoria no DOK. Fest, de Munique. 

Mulher na direção

Deveria ser tão normal mulher dirigir um filme como um homem. Mas a realidade não é assim. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tem mudado as regras. É uma busca por equilíbrio. Enfim, enquanto a gente não alcançar isso, filmes dirigidos por mulheres continuarão sendo minoria e, portanto, destacáveis.

Babenco é uma figura conhecida pela Academia

Hector Babenco foi indicado ao Oscar como melhor diretor na cerimônia de 1986 por O beijo da mulher aranha (1985). Na cerimônia de 2017, um ano após a morte dele, também apareceu entre os homenageados. Claro que isso não faz diferença no resultado final, mas, em outras palavras: os votantes da academia sabem quem foi Hector Babenco. Isso pode ser um importante componente de conexão afetiva e emocional com o filme. Depois disso, basta analisar o belo trabalho feito por Bárbara.

Foge total do estereótipo do Brasil

Babenco é um filme-ensaio. É sobre o amor. Por pessoas e pelo cinema. Ou seja, uma quebra total de expectativas sobre temáticas e formatos do que pode sair daqui. Apesar de não ter a política em primeiro plano, como foi o caso de Democracia em Vertigem que concorreu na cerimônia de 2020, não se pode dizer que o longa não seja poeticamente político. Afinal de contas, no Brasil de hoje, enaltecer a arte, o cinema já é um ato revolucionário. Principalmente quando homenageia uma figura que escolheu o nosso país para exercer este ofício atualmente tão sucateado.

Uma homenagem ao cinema

Ao percorrer a carreira do cineasta, destacar a incansável busca dele por um estilo próprio de filmar, Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer parou é também uma homenagem ao próprio cinema e suas tradições. Sim, ele era um cineasta clássico. Bárbara Paz deixou isso muito claro na montagem do filme. A cena em que ele ensina como segurar a câmera e enquadrar é uma das mais emocionantes. Se toca quem não tem relação direta com esse ofício, imagina os integrantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood.

 

Hector Babenco em cena no documentário Babenco – alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou. Foto: Imovision/Divulgação

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