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Tulio Araujo traz a brasilidade do pandeiro para o jazz em novo álbum “Awerejê”

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Contemplando a ancestralidade dos tambores africanos, “Awerejê” une a complexidade do jazz com a versatilidade do pandeiro.

Por Caio Brandão | Repórter

O jazz é um dos gêneros musicais mais abrangentes que existem. Tendo o improviso como fundamento, os paradigmas deste estilo são extremamente flexíveis, gerando um ambiente dentro do qual é possível experimentar com uma infinidade de instrumentos e sonoridades. Nesse sentido, o músico Tulio Araujo usa o pandeiro para assimilar o swing brasileiro ao jazz, processo que culminou no novo álbum “Awejerê”, que será lançado no dia 10 de outubro em todas as plataformas digitais. 

Contemplando a ancestralidade dos tambores africanos, “Awerejê” une a complexidade do jazz com a versatilidade do pandeiro.
Tulio Araujo - Foto: Paulo Colen

O título do álbum condiz com a proposta artística ali presente, já que a palavra “Awarejê”, vinda do Tupi Guarani significa, justamente, convergência, fusão ou mistura. Nesse sentido, Tulio contou com os músicos Felipe Vilas Boas, Deangelo Silva, Bruno Vellozo, Yan Vasconcelos, Mariah Carneiro, Jorge Continentino, Evan Megaro, Larissa Umaytá e Henrique Azul (Berimbaucomtudo) para dar vida ao projeto. A arte de capa foi feita pelo artista Senegâmbia e o disco será lançado pelo selo Blue Cave Records.

“Esse é o meu sexto álbum, e todos os álbuns anteriores vinham com uma proposta de um jazz mais contemporâneo, moderno, nos moldes que estamos acostumados a ver no Brasil. Isso causava uma estranheza nas pessoas quando eu falava que tocava pandeiro nesse contexto, e eu não encontrava palavras para explicar essa dinâmica. Então, me vi com vontade de “exorcizar” essa história, colocar isso em prática em um disco. Tenho o objetivo de que as pessoas possam me conhecer pela minha música, e esse disco é a realização disso”, contou Tulio.

O impacto de Scott Feiner

Durante o processo de amadurecimento musical, Tulio se deparou com a obra de Scott Feiner, pioneiro na assimilação do pandeiro ao jazz. Sendo assim, Tulio viu em Feiner a figura de um mestre, um guia, fazendo com que desenvolvesse uma relação de admiração, bem como de amizade. Contudo, Feiner faleceu, tragicamente, em março de 2023. 

Nesse sentido, Tulio viu no luto pelo amigo a vontade de continuar o legado de Feiner. “A primeira pessoa a trazer o pandeiro para o jazz foi o Scott Feiner, que infelizmente teve uma morte trágica por suicídio, e ele era um grande amigo e uma grande referência. O jazz é um estilo que tem o improviso como protagonista. Nesse sentido, os artistas podem se expressar livremente dentro desse ecossistema, e, ali, eu me senti em casa. Essa falta de moldes muito bem definidos me atraiu muito, e isso aumentou ainda mais quando tive contato com a obra do Scott, principalmente o disco ‘Dois Mundos’”. 

“Ver um norte-americano se apaixonar pelo pandeiro foi incrível e inspirador, mas ainda sentia a falta de um swing mais brasileiro. Minha intenção não era copiar o Scott, mas sim prosseguir com o legado dele. Fomos nós que tivemos esse interesse de trazer o pandeiro para o jazz, ele como um mestre, e eu como um pupilo”, completou Tulio.

A ancestralidade como fundamento

Transcendendo o puramente musical, Tulio promoveu um mergulho aprofundado no universo do jazz, tocando, inclusive, em eventos nos Estados Unidos. Nesse sentido, o músico conduziu uma pesquisa aprofundada na ancestralidade desse estilo de música, percebendo, até, o passado em comum que divide com o samba. 

“Nós, que não somos norte-americanos, temos uma noção muito tradicional do jazz, por meio de nomes como Ella Fitzgerald, Louis Armstrong e Frank Sinatra. Porém, o jazz é extremamente complexo, indo além da sonoridade. Estamos falando de um estilo que surgiu com o povo preto dos Estados Unidos, como uma forma de resistência ao racismo que ocorre como legado da escravidão. Então, o jazz tem um sistema originado na África, assim como o samba tem no Brasil. Então, isso dá um senso de irmandade, é uma história parecida com a nossa”, explicou Tulio. 

Além disso, Tulio exalta a importância de imergir completamente no estilo, bem como a importância do improviso nesse contexto, musicalmente falando. “Quando vem alguém de fora e quer tocar samba, falamos que a pessoa tem que entender a profundidade disso, ver o samba feito na favela, nas escolas de samba, perceber que isso é mais que um gênero musical, mas, sim, um estilo de vida. O jazz é a mesma coisa, só que nos Estados Unidos. Existe uma infinidade de nuances. Nesse sentido, digo que o cerne do jazz é o improviso: não existe jazz sem isso”.

Andando de mãos dadas com a espontaneidade, a ancestralidade também se configura como parte fundamental do jazz. “Na minha pesquisa acerca do jazz, cheguei às origens ancestrais africanas que ele tem em comum com o samba, e, assim, consegui trazer essa experiência do jazz para a cultura brasileira, e vice-versa. Esse, porém, não é um processo simples, contei com a ajuda de músicos extremamente inteligentes e talentosos para compor arranjos que privilegiassem o pandeiro. Isso tudo faz parte de um grande tributo ao Sagrado Africano, que foi o que, de fato, proporcionou as condições artísticas e sociológicas necessárias para que o jazz, o samba e esse álbum existissem”.

Serviço

Lançamento do disco “Awarejê”, de Tulio Araujo

Data: 10 de outubro

O álbum estará disponível em todos os serviços de streaming

Para mais informações, acesse o Instagram de Tulio Araujo

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