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Oportunidades na Cultura

Cia OmondÉ faz temporada online de ‘Auto de João da Cruz’, peça de Ariano Suassuna

Com direção de Inez Viana, a montagem marca as comemorações dos dez anos da Cia OmondÉ. Espetáculo fica em cartaz até 28 de março.
Auto de Joao da Cruz, com Cia OmondÉ. Foto: Rodrigo Menezes/ divulgação

Auto de Joao da Cruz, com Cia OmondÉ. Foto: Rodrigo Menezes/ divulgação

“Tudo pode ser teatro hoje”, afirma a atriz e diretora Inez Viana. Na verdade, tem muito tempo que ela sabe disso e sempre procurou explorar todas essas possibilidades nos palcos, no cinema e na televisão. Chegou a vez do YouTube. Auto de João da Cruz o espetáculo criado em comemoração dos dez anos da Cia OmondÉ fica “em cartaz” on-line de 05 a 28 de março. Sempre de sexta a domingo, às 19h, pelo canal da companhia.

Não há como negar: foi um processo totalmente diferente de tudo o que ela e o grupo haviam feito até então. Mas, quando pensa no que deseja para o futuro do teatro, a diretora parece procurar isso mesmo. “Que cada vez mais se radicalizem as experiências nele (no teatro) e que elas sejam tão maravilhosas quanto desconfortáveis para o espectador”. Totalmente de acordo!

A peça

Auto de São João da Cruz é um texto até então inédito escrito por Ariano Suassuna (1927-2014) nos anos 1950. Inez o recebeu como um presente de Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano. Inclusive, ela e o dramaturgo paraibano foram muito amigos. A primeira peça da OmondÉ, por exemplo, também foi um texto dele: As Conchambranças de Quaderna (2009).

Nada mais natural do que celebrar a primeira década com mais uma criação com as palavras de Ariano. Auto de João da Cruz estreou em janeiro de 2020. Logo, a pandemia suspendeu todos os planos de circulação nacional. Adaptação para o ambiente digital é o que tem sido possível nesses tempos. Aliás, é bom aguardar e confiar. Os artistas nunca nos decepcionam no quesito reinvenção.

Novo formato

Se analisarmos em perspectiva a trajetória das criações de Suassuna, vamos perceber que a troca de formato ou plataforma nunca foi uma questão. A Mulher Vestida de Sol, Farsa da Boa Preguiça, A pedra do Reino, Auto da Compadecida foram textos adaptados com sucesso para o cinema ou TV. “Ele sempre foi a favor dos meios de comunicação que contemplassem a boa arte brasileira. E acredito que, neste momento, iria entender a transposição do palco para o online e certamente apoiaria as/os artistas na atual situação da cultura, de seu desmantelo e demonização”, diz. 

Não é difícil imaginar uma daquelas antológicas aulas-espetáculos em que ele comentaria tal mistura de linguagens assim como o contexto geral (e triste) da cultura no Brasil e o momento em que estamos vivendo. Segundo Inez Viana o texto, inclusive, nos “oferece uma oportunidade para pensarmos o essencial, as relações e as escolhas que queremos fazer nessa existência”. 

 

Auto de Joao da Cruz, com Cia OmondÉ. Foto: Rodrigo Menezes/ divulgação

Auto de Joao da Cruz, com Cia OmondÉ. Foto: Rodrigo Menezes/ divulgação

 

Vários ângulos

O elenco é formado por André Senna, Elisa Barbosa, Iano Salomão/Joel Tavares, Junior Dantas, Leonardo Bricio, Luis Antonio Fortes, Tati Lima e Zé Wendell. A peça foi gravada no mesmo teatro onde estreou presencialmente. As cenas foram captadas com seis câmeras. Sendo assim, o objetivo da diretora é fazer com que o espectador se sinta em cena, junto com as atrizes e os atores. 

“Quis colocar uma das câmeras filmando da coxia, para, além de assistir às atuações do palco, lateralmente, e o que acontece quando o elenco não está em cena, que registrássemos o momento pandêmico: ninguém na plateia física. Mas o fundamental é que mesmo com todos os nossos desejos o espectador se sinta livre em sua co-autoria”, explica.

Em Auto de João da Cruz, o dramaturgo mistura referências de Fausto, de Goethe, com elementos de romances populares nordestinos para contar a história do ambicioso João que deixa o sertão em busca de riqueza. “Há a metáfora do capitalismo desenfreado, que corrompe a humanidade, a tal ponto da destruição da Floresta Amazônica, por exemplo.”

OmondÉ

Criada em 2009, a Cia OmondÉ tem oito peças em repertório. Além de “As Conchambranças de Quaderna”, de Ariano Suassuna (2009), montou também “Os Mamutes”, de Jô Bilac (2012); “Nem mesmo todo o oceano”, de Alcione Araújo, adaptação Inez Viana (2013); “Infância, Tiros e Plumas”, de Jô Bilac (2014); “Os Inadequados”, criação coletiva Cia OmondÉ (2015); “Mata Teu Pai”, de Grace Passô (2017) e “A Mentira”, de Nelson Rodrigues (2018). Inez Viana dirigiu todas elas. 

[O QUE] “Auto de João da Cruz” com direção de Inez Viana e Cia OmondÉ [QUANDO] Temporada online: de 5 a 28 de março de 2021, de sexta a domingo, às 19h [ONDE] YouTube da Cia OmondÉ  [QUANTO] Gratuito

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