Um dos mais tracionais festivais de arte do Brasil, o Artes Vertentes segue de 16 a 26 de novembro na tradicional cidade mineira
Por Gabriel Pinheiro | Colunista de Literatura
Após semanas de dias e noites quentes em Belo Horizonte, segui para a charmosa cidade de Tiradentes, um dos destinos favoritos de turistas. Quão agradável foi chegar à cidade mineira e descobrir um clima razoavelmente mais ameno que na capital? Não poderia ter uma recepção melhor do que essa… ou teria? A noite de Tiradentes guardava uma surpresa especial: a abertura do Festival Artes Vertentes, que chega à sua 12ª edição promovendo uma imersão nas mais variadas formas de arte. Pelo que foi apresentado na abertura, as expectativas para os próximos dias de festival serão altas.

Abertura em três etapas
O Festival Artes Vertentes se destaca pela longa imersão que promove na cidade, para além dos seus dias de programação oficial. É o caso das residências com artistas de diferentes partes do globo ou, especialmente, da Ação Cultural Artes Vertentes. O resultado desse projeto pôde ser contemplado pelo público na cerimônia de abertura desta quinta-feira: Musicalização Artes Vertentes, Pequenos Grandes Violinistas e Coro VivAvoz. Foi emocionante e enternecedor presenciar pequenos e pequenas artistas, das mais diferentes idades, como protagonistas de uma apresentação conjunta que emocionou o público presente no Largo de Sant”Ana.

Na sequência, outra apresentação desenvolvida especialmente para o Festival ocupou o simpático Largo. Unindo música e dança, o espetáculo “Vós que pulsais” se inspirou nos signos e elementos presentes no conto “O lobisomem de Minas”, do escritor suíço Blaise Cendrars, para construir uma apresentação política e esteticamente potente. “Vós que pulsais” foi o resultado de um processo de criação fomentado pelo festival e realizado em Tiradentes entre 2022 e 2023 por Morena Nascimento. O amplo espaço do Largo de Sant’Anna pareceu pequeno para a força das mulheres que integraram o espetáculo, apresentando uma coreografia pungente.
A perfeição da acústica da Igreja Matriz
Uma terceira apresentação ainda aguardava o público nesta noite especial. Do Largo de Sant”Anna, seguimos para a Igreja Matriz de Santo Antônio, mais antigo templo religioso da cidade. Ali dentro se apresentaram a soprano Eliane Coelho, o pianista e diretor artístico do Festival, Gustavo Carvalho, e o escritor Felipe Franco Munhoz. O concerto “Você se lembra da noite?”, uniu música clássica e literatura para promover uma homenagem ao compositor russo Serguei Rachmaninov. Uma das maiores vozes líricas do Brasil, Eliane Coelho pareceu encontrar no interior luxuoso da Igreja Matriz. O público seguiu em suspenso, hipnotizado pela apresentação da artista ao lado do talentoso Gustavo Carvalho.
Exposições
Para além das apresentações artísticas, a abertura do Festival Artes Vertentes contou com a inauguração de seis exposições, que ocupam diferentes espaços da cidade, trazendo artistas internacionais e alguns nomes fundamentais da fotografia brasileira das últimas décadas. “Walter Firmo conjugado”, com curadoria do próprio Firmo, leva ao Instituto Rouanet uma seleção da obra do fotógrafo carioca que reflete suas origens. Dois outros grandes nomes da fotografia, Pierre Verger e Evandro Teixeira, estão na exposição “Canudos”, no Sobrado Aimorés.
A escritora e artista francesa Emilienne Malfatto apresenta a exposição “Anjos caídos”, no Centro Cultural Yves Alves. Através da superposição de fotografias e retratos antigos, Malfatto retrata a perda, o luto, o trauma, a ausência e a memória dos Yazidis, minoria religiosa curda, estabelecida numa região localizada na fronteira entre o Iraque e a Síria. O tradicional Beco do Zé Moura recebe o “Mergulho das Benedictas”, reunindo obras expostas criadas por sete mulheres residentes em Tiradentes, que participaram do curso de fotografia oferecido pela Ação Cultural Artes Vertentes durante o ano de 2023.
Um grupo de artistas convidados ocupa o Sobrado Quatro Cantos com a mostra “Da casa à paisagem”, que se constitui como ambiente de interações processuais, a partir de trabalhos que grassam entre si, mas também com a cidade, suas pessoas, arquiteturas, jardins, quintais, montanhas e as diversas subjetividades que os habitam. Por fim, o Chafariz de São José recebe a série “Terreno Antropozoico”, criada pelo fotógrafo Rodrigo Albert entre 2011 e 2017 no Golfo do México, um lugar constantemente afetado por tormentas e furacões, marcas das pegadas irreversíveis deixadas pelo homem no planeta.
A programação do Festival Artes Vertentes vai até o dia 26 de novembro, com programação predominantemente gratuita ou a preços populares. Saiba mais no site
O Culturadoria visita Tiradentes a convite do Festival.