
Shamsia Hassani. Reprodução Instagram
Desde a tomada de Cabul, no Afeganistão, pelos Talibãs, cenas de caos e terror estão chocando o mundo. Diante das perseguições e terrorismo do grupo fundamentalista, vários artistas afegãos optaram por desabilitar as redes sociais ou se refugiar. Alguns até apagaram todos os rastros de suas obras. Porém, ainda é possível entender o conflito através da arte dos que ainda persistem.
“Não tenho certeza se posso pintar de novo ou não. Não tenho certeza se minha organização estará lá. Não tenho certeza se minhas pinturas estarão lá amanhã … Mas ainda, neste dia, algumas horas atrás, eu estava pintando em uma rua de Cabul. E espero ser capaz de fazer isso de novo”, afirmou Omaid H. Sharifi à rede NPR. Ele é presidente do importante movimento Art Lords. O objetivo do coletivo é transformar Cabul em uma cidade-referência da arte urbana.
Esperança?
Para a cineasta Sahraa Karimi, diretora-geral da Afghan Film, que coordena o cinema do país, não há nenhuma esperança. Ela escreveu uma carta pública destinada à comunidade internacional, pedindo ajuda, um dia antes da tomada de Cabul.
“Tudo o que trabalhei muito para construir como cineasta em meu país corre o risco de acabar. Se o Talibã assumir o controle, eles vão banir toda a arte. Eu e outros cineastas podemos ser os próximos em sua lista de alvos. Eles vão tirar os direitos das mulheres: seremos empurradas para as sombras de nossas casas e de nossas vozes, e nossa expressão será abafada no silêncio”
As páginas de diversos artistas que residem no Afeganistão já prevalecem no silêncio. Inclusive com sites de coletivos e galerias com anúncios de “estamos fora do ar” ou “voltamos em breve”. Isso porque ainda não se sentem seguros com a exposição de suas obras ou com o exercício de suas criações.
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Apesar da preocupação e medo que tomam o país, algumas obras de enfrentamento às ideias extremistas do Talibã estão ganhando o mundo através das redes sociais. Elas clamam por paz e esperança, além de refletirem a violência vivida pelo povo afegão:
Shamsia Hassani
Considerada a primeira mulher grafiteira e artista de rua do Afeganistão, Shamsia ganhou notoriedade internacional por sua luta pelos direitos da mulher. Após a invasão de Cabul, o mundo ficou preocupado com o aparente sumiço da artista nas redes sociais. Porém, na quarta-feira (18/08), voltou a postar no Instagram. Dessa vez com a continuidade da obra “Death to darkness” (foto de capa), quando demonstrou que iria continuar com a produção.
“Explosão no aeroporto de Cabul partiu meu coração”, disse a grafiteira em sua rede social ao postar esta última obra. (Instagram/Shamsia Hassani)
Lida
A artista plástica Lida Afghan, nascida no Afeganistão, conhece bem a opressão do estado em cima dos corpos femininos. Hoje, morando na Dinamarca, ela se dedica a pintar as histórias do seu povo. A artista também já circula internacionalmente com várias obras. No Instagram, disse estar totalmente focada nas vozes afegãs, para produzir a sua obra. E que não ficará quieta assistindo a história se repetir (em tradução livre).
Jahan ara rafi
O multiartista se dedica principalmente à pintura impressionista. Estudou na Faculdade de Artes de Cabul, onde se formou também em fotografia e audiovisual. Ainda residente no Afeganistão, Jahan continua a pintar, apesar do medo. E publicou: “Nós perdemos a cor azul por metade de um século, a cor da calma, para a guerra do Afeganistão” (tradução livre).
Sayed Navid Fazli
O artista plástico nasceu e reside em Herat, a terceira cidade mais populosa do Afeganistão. Navid estudou na Herat University, onde trabalha atualmente. Em seu instagram, além de suas obras, também publica a de outros artistas que retratam a vida do povo afegão.
Akram Ati
Nascido em Gásni, uma cidade histórica do Afeganistão, Akram também estudou artes em Herat, mas atualmente reside em Cabul. Recentemente postou novas obras em seu instagram, onde é possível notar a influência do estado de guerra que o país vive.
Este conteúdo foi produzido por Adonai Elias
Sobre o autor: Adonai Elias é redator, web radialista e atualmente é Estagiário de SEO no Diários Associados (Jornal Estado de Minas). Graduando em Publicidade e Propaganda (UNA), escreve para o Culturadoria e para a revista eletrônica Lugar Artevistas. Todo sábado, às 15h, apresenta o programa “Nasci Para Bailar”, na Matula Web Rádio. Seu Instagram é @adonaielias.m.