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Cinema

“Ara Pyau – A Primavera Guarani”: A resistência dos povos indígenas brasileiros

Os responsáveis pela construção da nossa civilização concentraram toda sua atenção na organização política e social. Mas se esqueceram de um detalhe importante: os povos que viviam no território anteriormente. Aos olhos dos governantes e líderes burgueses, os indígenas parecem não passar de um inconveniente, uma pedra no caminho para o progresso e o acumulo de riquezas.

Diante da tamanha negligência e ingratidão, não resta outra alternativa a não ser resistir. A convivência dos povos indígenas com os homens brancos tem sido marcada por confrontos, que muitas vezes resultam em verdadeiros massacres.

Mas não precisava ser assim. Em determinado momento de “Ara Pyau – A Primavera Guarani”, documentário de Carlos Eduardo Magalhães, exibido na Mostra de Tiradentes, um dos líderes da tribo Guarani desabafa com olhar lacrimejado: “Não somos o povo da guerra nem da violência. Lutamos contra o massacre. Só pedimos que respeitem os nossos direitos”.

 

O filme

O documentarista acompanhou um período decisivo para a comunidade Guarani que reside na reserva do Jaraguá, em São Paulo. Em 2017, o Ministério da Justiça revogou a portaria 581 de 2015. Isso significava que os 512 hectares a terra destinados a eles seriam reduzidos a 3.

Em reação, as lideranças Guaranis organizaram uma série de ações de resistência. Variavam de manifestações pacíficas nas ruas a ocupações em antenas de TV e telefonia celular.

Impressiona a forma com que o diretor conquistou a confiança dos membros da comunidade. Há registros das reuniões de lideres sobre manifestações e ocupações, e também imagens íntimas do cotidiano da aldeia. As cantigas, os rituais e as brincadeiras de criança, elementos que demarcam bem a relação deles tanto com a tradição quanto com a modernidade.

 

 

A repercussão

O debate após a exibição do documentário em Tiradentes foi marcado por desabafos e questionamentos. As principais críticas diziam respeito ao “lugar de fala”. Uma discussão antiga, que sempre vem à tona quando se usa uma luta alheia como tema ou objeto de estudo. Mas aqui o diretor acerta ao assumir seu status de observador bem intencionado.

Segundo Carlos Eduardo, “Ara Pyau” foi um filme feito por encomenda. “Conversei muito com os moradores da tribo. Por terem a cultura pop como referência, eles esperavam um filme convencional, quase nos moldes dos blockbusters de super-heróis”, explicou.

Essa característica da produção justifica a linguagem empregada. O filme possui imagens que enaltecem a figura e a luta dos índios.  Um plano geral aéreo dos manifestantes no pico do Jaraguá tornou-se emblemático, e ilustra bem tal aspecto. Também chama atenção a trilha sonora dramática, que confere ao longa uma certa atmosfera de épico. O diretor atribuiu tais escolhas estéticas à sua vasta experiência no ramo da publicidade.

Para Carlos, a prioridade era a satisfação dos clientes. “A luta dos índios ficou em primeiro plano, e a questão cinematográfica em segundo”, justificou. E seu objetivo fora alcançado com sucesso. Ao seu lado na mesa de debates, estava a tímida “Pará”, representante jovem da tribo Guarani, que não o deixou mentir.

*Viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

 

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