São dez animações, produzidas em vários estados, e que trazem uma miríade de temas, como envelhecimento ou infância abandonada
A partir desta sexta-feira, 29 de março, a plataforma Itaú Cultural Play disponibiliza uma seleção de animações de curta-metragem dirigidas por mulheres, na mostra “Elas que Animam”. A equipe do streaming da plataforma fez a curadoria para selecionar animação por animação. Assim, são obras de diferentes estados brasileiros. Os filmes vão ficar disponíveis por 12 meses e podem ser acessados gratuitamente na plataforma e em smartphones Android e IOS e Chromecast.
As animações evidenciam o papel das mulheres no audiovisual brasileiro. Assim, ecoam a diversidade e a riqueza de narrativas embasadas na cultural nacional. A animação de criação coletiva “Uma mão anima a outra”, por exemplo, homenageia um punhado de artistas do audiovisual. O curta retoma as técnicas de animação usadas por estas personalidades. Poético e surrealista, ele revela uma paisagem tropical de toques modernistas e um homem engravatado que caminha por uma metrópole. O enredo também inclui uma ave, que leva uma pessoa para a floresta.
“Guida”
Na animação “Guida” (abaixo), Rosana Urbes traz a história da personagem que dá nome ao filme. Ou seja, uma mulher mais velha, que tem uma sem grandes emoções como arquivista. Isso muda quando encontra um anúncio de jornal procurando modelos vivos para posar. O filme traz temas essenciais, como o envelhecimento, a força das mulheres e o poder transformador. Em 2015, a produção foi premiada no Festival de Annecy, considerado a mais importante vitrine do cinema de animação do mundo.
“A Pequena Vendedora de Fósforos”
“A Pequena Vendedora de Fósforos”, de Kyoko Yamashita, é baseado no conto homônimo do dinamarquês Hans Christian Andersen. Foi premiado no Festival de Gramado, em 2014, tendo também marcado presença em mais de 30 outros festivais de animações pelo mundo. A obra trata da infância abandonada nas metrópoles ao narrar a história de uma menina que na rua de uma grande cidade rouba o saco de um passante. Dentro dele, para sua decepção, há apenas caixas de fósforos. Desamparada, entra em uma lan house. Porém, é retirada, e, assim, caminha a esmo pelas calçadas, sem acolhimento ou afeto. Nessas circunstâncias, só lhe resta tentar vender os fósforos.
“Torre”
Em “Torre”, Nádia Mangolini conta a história de Isabel, Virgílio, Gregório e Vlademir, filhos de Ilda Martins da Silva e Virgílio Gomes da Silva. Operário, sindicalista e militante da Aliança Nacional Libertadora, Virgílio Gomes da Silva foi torturado e morto pela ditadura civil-militar. A mãe foi presa sem direito a recurso e privada de ver seus filhos. Desse modo, reunindo memórias, o filme reconstitui a história de mais uma família atravessada pela perda naquele período. A produção soma mais de 15 prêmios no Brasil e no mundo, como o de Melhor Curta pelo Júri, no Festival Cine Memória em 2017.
“Òpárá de Òsùn”
Com menção honrosa no Festival de Cinema de Triunfo, em 2018, “Òpárá de Òsùn: Quando Tudo Nasce”, de Pâmela Peregrino, também estará no Itaú Cultural Play. Ela traz a história da divindade iorubá dos rios e das cachoeiras. Ela é capaz de fertilizar o solo e toda a natureza. Assim, no sertão do Rio São Francisco, ele faz nascer o verde das plantas, o azul dos córregos e a vida humana. O roteiro da animação tem assinatura coletiva: realizadores e participantes do Terreiro de Candomblé Abassà da Deusa Oxum de Idjemim.
“Dia Estrelado”
Em “Dia Estrelado”, de Nara Normande, uma família vive em uma região árida e inóspita, habitada apenas por insetos e arbustos retorcidos, sob um céu vermelho escaldante. Assim, todos os dias, um dos meninos costuma recolher água no galho de uma árvore seca. Porém, certa vez, uma circunstância nada confortável o surpreende. Desse modo, a partir de agora, pedras são a única coisa que jorra da árvore. Com ecos de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e em uma paisagem que lembra as pinturas de Van Gogh, a história traz o drama da seca. A animação recebeu mais de 20 prêmios. Entre eles, o da Crítica Brasileira (Abraccine) de Melhor Curta-Metragem no 22º Cine Ceará. Abaixo, um frame do filme.
“Pudim de Morango”
Considerado um clássico do cinema de animação brasileiro, “Pudim de Morango” é dirigido pelos irmãos Elizabeth, Helmuth, Ingrid e Rosane Wagner. O curta-metragem conta a história de uma mosca que vive tranquila no interior de um vaso sanitário. Pilotando seu helicóptero, ela sai em busca de novas fontes de alimentação. Rótulos de alimentos enlatados não chamam a sua atenção. Assim, repentinamente, ela vê um pudim de morango. Porém, com o marcador de combustível do helicóptero vazio, cai no epicentro de um conflito. Os irmãos desenvolveram o curta a partir de desenhos sobrepostos a notícias de jornal da época. Neles, despontam sátiras à cultura de massa e à ditadura civil-militar.
“Ga v?: A Voz do Barro”
Em “Ga v?: a voz do barro”, de Ana Letícia Schweig, Angélica Domingos, Cleber Kronun e coletivo, as personagens são Dona Gilda e Dona Iracema. Elas são anciãs da Terra Indígena Kaingang Apucaraninha, no Paraná. Desse modo, compartilham memórias, saberes e tradições com o barro. A animação leva para o mundo alguns dos conhecimentos compartilhados em um encontro de mulheres realizado em 2021, naquele estado. Apresenta traços finos, cores em tons pasteis e texturas que remetem a pinturas à base de água. Assim, nela, o espectador conhece um pouco da cultura das mulheres Kaingang, bem como a relação delas com a ancestralidade e o território em que vivem.
Cultura afro-brasileira
Na animação “Òrun Àiyé – A Criação do Mundo”, de Jamile Coelho e Cintia Maria, um avô narra à sua neta como foi a criação do mundo e dos seres humanos, segundo a mitologia iorubá. Assim, ele apresenta a jornada dos orixás, bem como os conflitos deste episódio de nascimento, no qual homens e mulheres são moldados a partir do barro. A produção tem participação de Carlinhos Brown.
Também tendo a afro-brasilidade como pilar, ‘Ewé de Òsányìn: O Segredo das Folhas”, de Pâmela Peregrino, conta a história de um menino dotado de um misterioso poder de cura. Discriminado por seus colegas de escola, ele se embrenha na mata. Desse modo, perdido na caatinga, encontra diferentes divindades, entre elas, Esú, senhor dos caminhos, e Òsányín, pai das folhas, das ciências e das ervas. A partir daí, os dois o guiam por uma jornada de conhecimento. Assim, é das animações que misturam mitologias afro-brasileiras, preservação ambiental e saberes tradicionais. Tal qual, aborda, delicadamente, temas como bullying e empoderamento. Premiado em mais de 15 festivais ao redor do país, o curta também se vale de referências musicais, como o forró e as toadas do cordel.
Serviço
A partir de sexta-feira, 29 de março
Mostra de animações realizadas por mulheres.
No site Itaú Cultural Play
Gratuita.