A cantora e compositora mineira Amanda Prates volta à cena musical com novo trabalho, o
álbum “Nação Subterrânea.
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Foi no último dia 8 de novembro que as plataformas digitais receberam o feixe de canções que formam o álbum “Nação Subterrânea”, da cantora e compositora mineira Amanda Prates. São 12 faixas, sendo 11 inéditas. Entre as músicas, está, por exemplo, “Ruge Leão, Troveja Xangô”, de Douglas Germano e Fábio Peron, bem como “Subterrânea”, do cantor e compositor amazonense Thiago Thiago de Mello (filho do poeta Thiago de Mello, 1926-2022) e Allan Carvalho. E que, vale dizer, inspirou o nome do disco.
“Nação Subterrânea” traz ao mundo canções inéditas, algumas compostas por Amanda Prates, como “O Adivinho”, “Lágrimas de Exu”, “Promessa” e “Senhora”. Tal qual, por outros compositores – caso de “Oração (Marcela Nunes), “Remendo” (Clara Delgado e Davi Fonseca) e “Alumia” (Sérgio Pererê). Ou, ainda, “Mama Mata” (Thiago Thiago de Mello e Joãozinho Gomes), a já citada “Ruge Leão, Troveja Xangô”, “Quatro Cantos” (Marcela Nunes) e “Quem não tem canoa cai n´água” (regravação de Zé Manoel).
Embrião
Procurada pela reportagem para conversar sobre o processo do disco, Amanda localiza a semente de “Nação Subterrânea” no ano de 2019. Na verdade, à época, a artista estava envolvida em outro projeto, o registro do álbum “Korin Irê”, cantado em iorubá. Tratava-se do primeiro álbum do Terreiro de Candomblé da Casa Ilê Wopó Olòjùkán. “Eu era filha desse terreiro, e, a pedido do babalorixá Sidney de Oxóssi, idealizei e comecei a conduzir esse projeto. No processo, convidei o Leandro César para assinar a produção musical. Já os cantos foram ensinados por (pelo músico) Bruno Odessi, que também era filho da casa naquela época. Então, foi uma fase de muito aprofundamento naqueles cânticos sagrados”, rememora.
Em paralelo, Leandro César começou a provocar Amanda, no sentido de incentivá-la a pensar em um álbum solo. “Para ele, faríamos a pesquisa, o levantamento de canções de outros compositores da cena contemporânea. Do mesmo modo, entrariam composições de minha autoria. E o interessante dessa história toda é que, à medida em que essas músicas (pedidas por ela a vários compositores) iam chegando, observei que tinham, em comum, uma certa espiritualidade”.
Condução
Assim, havia letras que falavam dos caboclos, como em “Subterrânea” ou “Mama Mata”. Ou que mencionavam algum orixá… “Mesmo uma canção minha, ‘Promessa’, em que cito ‘palavras que soam reza’. Então, talvez o fio condutor do repertório seja esse, ligado à ritualização. Um desejo de ritualizar a escuta, o processo de criação, qual a semântica, o contexto das palavras desse trabalho, a melodia. Do mesmo modo, a gente fez muito uso dessa, digamos, cultura popular. A música popular brasileira, ela é fundamentada nas tradições populares”.
Amanda inclusive brinca: “Falo que o álbum, ele nasce da mandinga, né? E a mandinga no sentido de ter essa malícia em fazer algo acontecer. Essa feitiçaria no sentido melhor da palavra. Essa habilidade de arquitetar, através dos elementos musicais, algo que se configura numa brasilidade. Então, talvez esteja aí o outro fio condutor do trabalho. Essa ritualização, a brasilidade, o fundamento na cultura afro-brasileira, que é muito forte, está em todo o trabalho. Seja na construção dos arranjos, no ritmo, que é algo muito presente nas canções. Acho que é isso”.
“Promessa”
Convidada a falar sobre algumas canções, ela escolhe primeiramente “Promessa”, de sua autoria, e que foi lançada como o primeiro single no disco ainda no ano passado. “É uma canção imbuída de amor próprio. Eu falo que é uma canção solar, que mostra o desejo pela festa, pelo prazer. A gente considera que ‘Nação Subterrânea’ foi um álbum criado em tempos de pandemia. Sendo assim, o desejo por fazer um trabalho que retorna com o prazer, com a alegria, era muito justo. Assim, é uma das minhas canções preferidas”, diz Amanda. A artista localiza que, de certa forma, a faixa inclusive já aponta a sonoridade que deve pautar o próximo projeto no qual está envolvida.
Outra faixa que ela destaca é “Ruge Leão, Troveja Xangô”, de Douglas Germano e Fábio Peron. “O Douglas, eu já conhecia o trabalho através da banda Metá Metá, a qual gosto bastante. E ele tem uma forma muito particular de composição, um samba meio afro. Tem uma construção rítmica muito inteligente, muito perspicaz. Então, gosto muito dessa faixa. Ela traz a energia que eu pensava para esse trabalho”, pontua Amanda.
Faixa-título
Amanda também coloca em relevo a faixa que indicou o título ao álbum. “‘Subterrânea’ evoca o universo da Amazônia. O Thiago Thiago de Mello trabalha as composições nessa narrativa amazônica, e é uma canção que tem palavras em tupi. Desse modo, algo muito interessante para o nosso linguajar, porque a gente que é aqui, do Sudeste, pouco toca, pouco sabe dessa sonoridade, dessa língua. E, ao mesmo tempo, a letra traz, no refrão, uma frase que é épica para mim: ‘Tem um Brasil no Brasil, uma nação subterrânea, sanguinária e gentil’. Essa frase… Ela ecoa um continente, quiçá uma América Latina”.
Pererê
Uma quarta canção sobre a qual ela se detém é “Alumia”, de Sérgio Pererê. “É uma composição feita para esse álbum e que traz uma história interessante por trás. Em um dado momento, eu me vi pensando se iria ou não seguir adiante com esse trabalho, porque estava com algumas dúvidas em relação a esse nicho musical. Eu já havia pedido uma música ao Pererê, e, naquele exato momento, ele me envia uma canção que canta para Oxumaré (orixá do candomblé que representa a transformação, a continuidade e a diversidade). Daí, disse a ele: ‘Olha só, eu ainda não sou confirmada no Candomblé, mas há boas chances de que meu ori – ou seja, em iorubá, a cabeça – possa ser de Oxumaré. Ele, claro, não sabia disso, mas me relatou que, em dado momento, estava pensando em mim e lhe veio essa música. Ou seja, me soou como uma mensagem do mítico, achei muito especial”.
Circulação
Perguntada sobre eventuais iniciativas para divulgar o repertório em show, Amanda ressalta que, claro, a circulação é algo muito importante, principalmente por se tratar de um projeto de uma artista independente. “Mas a gente sabe que, para circular, custa, né? Se a gente for olhar para os ideais de pagamento do mercado, o que seria justo… Porque a gente tem o pagamento com os ensaios, com as apresentações, com os deslocamentos. Então, um projeto de circulação, precisa de um planejamento de escritas de editais, por exemplo”, aponta.
Ela lembra, ainda, que outro ponto fundamental é o levantamento de casas de shows e eventos que promovam o acolhimento da música autoral. “O ‘Nação Subterrânea’ é um álbum quase exclusivamente de músicas inéditas, portanto, não há regravação de música famosa Então, é necessário que encontre um público ouvinte interessado na nova cena musical brasileira. Ou seja, o desejo é encontrar esses espaços, inclusive em âmbito nacional”.
Outros projetos
Perguntada se, neste momento, está envolvida em outros projetos, Amanda relata que tem alguns relativos ao trabalho de preparação vocal, que é outra área de atuação dela. “Mas, na verdade, agora quero ficar muito focada em ‘Nação Subterrânea’. Porque, afinal de contas, foram quatro anos de mergulho nesse projeto, então, ainda preciso processar e também degustar o trabalho. Existem, já, algumas composições sendo criadas. Posso dizer umas sete canções já levantadas que podem se configurar na sonoridade de um próximo trabalho, mas isso é para os próximos capítulos. Em breve poderei dar essas notícias”.
SERVIÇO
Lançamento do álbum “Nação Subterrânea” – Amanda Prates
Onde. Nas plataformas: Spotify, Apple Music, Deezer, Amazon Music, Tidal, YouTube Music, Qobuz e Claro Música.
Mais informações no Instagram @apratesa