Curadoria de informação sobre artes e espetáculos, por Carolina Braga

Alex Andrade aborda temas necessários em “Meu Nome é Laura”

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O escritor Alex Andrade abre discussões sobre temas como transexualidade e paternidade tóxica em seu novo romance

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura em 2023, com o romance “Para os Que Ficam”, Alex Andrade volta às prateleiras destinadas a lançamentos do mercado editorial com “Meu Nome é Laura” (Confraria do Vento). Livro que, salienta o autor, “foi todo escrito na delicadeza”. “Por ter um tema tão atual e tão duro, preferi o caminho do amor”, explica ele, referindo-se ao fato de a narrativa ter, como um dos principais pilares, o descortinar da sexualidade de um garoto, Pedrinho.

Alex Andrade, que acaba de lançar "Meu Nome é Laura" (Lorena Mossa Fotografia/Divulgação)

Neste processo, vale dizer, o personagem acaba se reconhecendo uma pessoa trans – daí o ‘Laura’ do título da obra. E, a partir desse ponto, passa a lidar com uma forte rejeição às suas escolhas, que emergem inclusive na própria célula familiar – caso da mãe, Heloísa. Do mesmo modo, em “Meu Nome é Laura”, Alex Andrade também aborda os efeitos psicológicos danosos de um pai abusivo e alcoólatra sobre uma criança. Neste caso, sobre Pedro, que vem a ser o pai de Pedrinho (ou Laura).

Como o próprio resumo do livro localiza, conhecido pelo sobrenome “Pacheco” e por suas longas ausências devido à pescaria, o avô de Pedrinho cultivava um comportamento negligente e destrutivo, que moldou profundamente a vida de seu pai (Pedro).

Temas árduos

“A história apresenta temas delicados e que permeiam a relação familiar”, pontua Alex, para, em seguida, listar alguns. “Como lidamos com as nossas escolhas e com as do outro, bem como o que as nossas atitudes podem impactar no caminho dessas pessoas. É importante pontuar que a relação de pai e filho, mãe e pai, mãe e filho são cruciais para o desenrolar da história. E quanto à negligência, quem nunca?”, argumenta.

Por isso, prossegue Alex, a narrativa lança foco sobre essas relações, do mesmo modo que na descoberta de uma identidade e o que isso impacta em quem está nessa transição. “Porque os que estão ao redor, sentem, claro, mas o impacto maior e mais doloroso está mesmo em quem vive essa transformação”, explana.

Discussões

Perguntado sobre o que o levou a se enveredar pela temática da transexualidade, a partir do personagem Pedrinho (Laura), Alex Andrade cita a urgente necessidade que vê em o ser humano passar a refletir mais, entender o outro e, principalmente, aprender a respeitar. “Não podemos deixar que as coisas continuem como estão: violência, raiva gratuita, transfobia, homofobia”. Ou seja, reações como as arroladas, cada vez mais presentes na sociedade atual, foram motivações para a escrita. “Essas coisas me fizeram escrever esse livro, é como um grito”, compara.

Já quando indagado sobre que reflexões o livro visa despertar no leitor, Alex é incisivo: “Todas”. “Acredito que cada pessoa que tenha como transmitir alguma informação ou que tenha a possibilidade de fazer que o outro reflita sobre um assunto, principalmente nessa questão específica, da transexualidade, é mais um para somar. E, desse modo, tentar acabar com tanta discriminação e desrespeito à vontade do outro. Assim, ‘Meu Nome é Laura’ é a minha forma de contar uma história. E acredito que, enquanto tiver discernimento para contar histórias como essa, que possam mexer com as pessoas, vou seguir escrevendo”.

Reflexões

Em tempo: “Meu Nome é Laura” é o 15º livro do escritor e arte-educador carioca, que já lançou títulos voltados à literatura infantil, infantojuvenil e adulta. Tal qual, é o quinto em parceria com a editora Confraria do Vento. Sobre a nova obra, o escritor Alexandre Vidal Porto, que assina a orelha do livro, diz: “Alex Andrade nos leva a conhecer a história da construção de uma identidade. A questão da busca de quem somos, o quê somos e o que podemos ser, leva o leitor a acompanhar o descortinar da sexualidade de um menino que pouco a pouco vai encontrando os caminhos, muitas vezes dolorosos, para ser o que realmente é”.

Capa do livro “Meu Nome é Laura”, de Alex Andrade (Confraria do Vento/Divulgação)

E prossegue: “‘Meu Nome é Laura’ é um livro cheio de lirismos e preenchido de imagens. Alex Andrade retorna ao romance para, mais uma vez, nos fazer refletir como cidadãos em uma sociedade injusta e cheia de preconceitos”. Alex Andrade tem contos publicados em diversas revistas e periódicos de literatura em inglês e espanhol. É um dos curadores do Prêmio Literário do Ensino Fundamental do Rio de Janeiro.

Processo Criativo

Instigado a falar sobre seu processo criativo, Alex Andrade confidencia que, no geral, quando um livro de sua autoria é publicado, sua cabeça já está “desenhando uma nova história”. “Foi assim com o livro atual, ‘Meu Nome é Laura’. Eu ainda estava na organização do lançamento do anterior, ‘Para os Que Ficam’, e ‘Laura’ já vinha devagarinho, surgindo. Uma faísca, um cisco trazido pelo vento”.

Ou seja, o embrião já estava ali, aflorando, mas sem urgências. “Então, a história foi se delineando aos poucos, até me desgrudar do livro anterior. Porque acredito que assim que um livro é entregue aos leitores, são eles que se tornam autores daquela história, cada um a seu modo. Então, a partir daquele momento ‘Meu Nome é Laura’ foi tomando forma. Como em outros processos, a história vem surgindo, bem suavemente. Daí é o momento de sentar, ouvir, observar e sentir as nuances”.

Serviço

“Meu Nome é Laura” – Confraria do Vento

252 páginas. Preço no site da editora: R$ 67.

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