Teatro Santo Agostinho festeja 25 anos de existência e 15 sob a gestão artística do cantor, jornalista e pesquisador Thelmo Lins
Um dos teatros belo-horizontinos cuja administração não é atrelada ao poder público, o Teatro Santo Agostinho – situado na rua Aimorés, 2679, em Lourdes – completou, recentemente, 25 anos de existência, com uma programação especial que se estende até o final deste 2024. Antes de seguir adiante, cumpre dizer que não se trata do único espaço cultural aberto à população em geral que nasceu vinculado a uma instituição de ensino – no caso, o Colégio Santo Agostinho. De todo modo, o marco dos 25 anos se apresenta como sinônimo de resistência em uma cidade que, no curso do tempo, infelizmente perdeu tantos espaços dedicados às artes cênicas – como o Teatro Casanova, o Clara Nunes, o Teatro da Praça e muitos mais.
Mas não só. O Teatro Santo Agostinho também se notabiliza por prioritariamente atender a classe artística mineira. “Isso não quer dizer que não possamos receber nomes de outros estados, estamos abertos a quaisquer atrações. Léo Gandelman, por exemplo, já se apresentou por lá, assim como outros nomes nacionais”, diz o cantor, jornalista, produtor, pesquisador e gestor cultural Thelmo Lins, responsável pela direção artística do espaço há 15 anos.
Médio porte
Lins salienta que o Teatro Santo Agostinho é considerado um espaço de médio porte, com 366 lugares – para se ter um parâmetro, o Grande Teatro Cemig Palácio das Artes tem 1705 lugares. “A maioria das pessoas que utilizam o teatro elogiam a limpeza e o conforto, bem como a qualidade dos espetáculos”. Outro fator que Thelmo coloca em relevo é atendimento às produções que alugam o Santo Agostinho. “Compensamos o fato de termos uma equipe reduzida com um atendimento mais pessoal e um preço de locação bastante justo. Posso estar enganado, mas a maioria dos nossos clientes certamente endossaria o que eu estou dizendo”.
Relação com a comunidade
No entanto, ele lamenta que o espaço ainda seja pouco conhecido de muitas pessoas que frequentam eventos culturais na capital mineira. No geral, Thelmo Lins revela que desde que começou a administrar o teatro, buscou equilibrar o atendimento do público interno (ou seja, as demandas do próprio Colégio Santo Agostinho) com o externo (produtores, atores, cantores, bailarinos etc), para compor uma agenda que aproximasse o teatro da comunidade belo-horizontina.
“Na verdade, à época (referindo-se a 2008, quando assumiu a gestão), o teatro era pouco lembrado. Assim, busquei os artistas que conhecia e com os quais tinha contato e os aproximei do espaço, tentando tornar o Santo Agostinho mais conhecido e mais frequentado”. A partir desse período, o espaço passou a sediar projetos que ressonaram na cidade, como o “Caixa Acústica”, voltado para a música, o “Trá-lá-lá-lá-li” e o “Festival de Musicais Infantis” – estes dois últimos, voltados para o público infantil.
Além disso, Thelmo rememora que, naquele período, grandes empresas, como a Rede Globo Minas e a TV Horizonte, passaram a utilizaram o espaço para a gravação de especiais. Outra iniciativa foi qualificar o espaço, por meio da aquisição de novos equipamentos e da melhoria do atendimento e da prestação de serviço. Por causa disso, Thelmo festeja o que hoje é uma característica do espaço. “Atualmente, em menos de uma semana consigo fechar a agenda do ano inteiro. Considero o Santo Agostinho como um dos mais disputados teatros da capital mineira”.
Projetos
Nem poderia ser diferente. Um momento difícil nesta trajetória – e para as artes de modo global – foi a pandemia da Covid-19. Mesmo quando o país já vivia um clima de retomada das atividades, com a vacinação em curso, Thelmo Lins reconhece que foi preciso desacelerar um pouco as ambições. “Atualmente, há um projeto de fazer uma reforma geral no espaço, que envolve melhoria dos camarins, construção de novos banheiros e troca de poltronas e pisos. Estamos negociando com o administração do colégio, pois isso exigiria que o Teatro Santo Agostinho ficasse algum tempo sem funcionar, mas parece que é um projeto bastante viável”.
Programação
No bojo dos 25 anos do Teatro Santo Agostinho – e dos 15 anos de parceria com Lins – uma programação especial foi estruturada. Assim, neste 2024, o espaço já recebeu atrações como Carlos Nunes, Grupo Atrás do Pano, o show “Tangos e Boleros”, Manu Angel e companhia de flamenco, dentre outras atividades. “Em setembro, vamos receber novamente a comédia ‘Como sobreviver em festas e recepções com buffet escasso’, que é um dos maiores sucessos da cena teatral de Minas”, adianta Thelmo.
Já no dia 20 de novembro, o Teatro Santo Agostinho sedia um show especial comemorativo do Dia da Consciência Negra, dirigido pela cantora e fonoaudióloga Regina Milagres.
Administração
Thelmo Lins relembra o momento em que assumiu a gestão artística do espaço. Para isso, remonta ao ano de 2008, quando o Teatro Santo Agostinho completava 10 anos de atividade e realizou vários eventos comemorativos. Na agenda, além das participações de Fagner, Ziraldo e outras atrações, Thelmo Lins e Wagner Cosse apresentaram o show “Cânticos”, inspirado nos poemas de Cecília Meireles. “Isso nos aproximou da direção da escola que, no ano seguinte, abriu um edital para a substituição da administração do teatro”.
Na época, Thelmo Lins havia acabado de encerrar a participação como gestor cultural na Prefeitura de Itabirito. “Assim, achei que seria uma excelente oportunidade de colocar em prática meus conhecimentos técnicos quanto à produção artística a meus contatos com agentes culturais”. Nestes 15 anos, muitos momentos emocionantes se sucederam. “Mas cito o dia no qual de fato me dei conta de que era administrador de um teatro. Porque, pra mim, o palco é um lugar sagrado, é místico. E a epifania de me ver ali, foi inesquecível”.
Inundação
Já quando perguntado sobre um perrengue que marcou o período, ele nem titubeia. “Foi quando um encanamento arrebentou logo em frente ao teatro, jogando mais de 30 mil litros de água lá dentro”. Thelmo Lins recorda que foram necessários vários caminhões-pipa para dragar a água, que inundou principalmente o fundo do palco. “Ficamos preocupadíssimos, porque tudo ali é ligado na eletricidade. Refletores, equipamentos caríssimos de sonorização e iluminação. Assim, (o acidente) poderia gerar algo muito pior, como um incêndio ou explosões”.
Felizmente, com a ajuda da equipe de manutenção do Colégio, resolveu-se o problema. “E já no dia seguinte estávamos funcionando normalmente”, diz Thelmo.