Criador do projeto Sempre um Papo, Afonso Borges fala de “Tardes Brancas”, livro no qual revisita o naipe de contos de própria autoria lançado há sete anos
Patrícia Cassese | Editora Assistente
Foi no ano de 2017 que o o gestor cultural Afonso Borges, criador do projeto literário Sempre um Papo, lançou seu primeiro livro de contos, “Olhos de Carvão”. No entanto, naquele momento o jornalista e escritor já entendia que os textos ali reunidos tinham uma natureza particular. “São contos em movimento e de estrutura muito dinâmica. Se eu retirar uma palavra, por exemplo, muda todo o sentido da história”, explica.
Não por outro motivo, revisitar o conteúdo de cada um dos contos foi uma ideia que começou a se delinear de bate-pronto, mal “Olhos de Carvão” tinha aterrissado nas prateleiras das livrarias, sete anos atrás. Depois de “lapidar e relapidar” o conteúdo, Afonso Borges lançou, em agosto deste ano, “Tardes Brancas”, que, assim, revela a nova versão daqueles textos. Mas não só. O livro também traz cinco poemas.
“Tardes Brancas” tem orelha assinada por Sérgio Abranches e prefácio de Humberto Werneck. Aliás, é dela que tiramos o título desta matéria, já que Werneck diz: “Incansável divulgador de literatura alheia, o Afonso se instalou também no outro lado do balcão”. Na quarta capa estão impressas as opiniões quanto à obra de autores Ruy Castro, Martha Medeiros, Frei Betto e Carla Madeira
Faceta poeta’
Na verdade, lá atrás, no início de sua trajetória, Afonso Borges já havia publicado livros artesanais de poesia, mas é a primeira vez que compartilha seus versos em um livro chancelado por uma grande editora, caso da Autêntica. É preciso situar que, na verdade, Afonso revela ter, guardados, mais de 400 poemas, escritos ao longo de 40 anos. Para escolher os que seriam incorporados a “Tardes Brancas”, ele diz ter relido-os com cuidado. “E sobraram só estes cinco. Creio que eu selecionaria mais uns três, mas não passa disso”. Perguntado se não estaria sendo exigente demais consigo mesmo, ele pondera: “Talvez sim, talvez não”. E acrescenta: “Na verdade, desafio um poeta a olhar sua obra, escrita há tanto tempo, e continuar gostando. Drummond só tem um”.
Cronologicamente, Afonso Borges situa que muitos deles foram escritos entre 1979 e 85 (“por incrível que pareça), período em que, lembra, o mundo viveu a ameaça nuclear com a Guerra Fria. “E não é que somos a primeira geração da história da humanidade que pensa, seriamente, no fim do mundo?”, argumenta.
Frutos (ou cacos)
No caso dos contos, Afonso reforça que, para esta nova empreitada, todos foram revisados “à exaustão”. “E com o auxílio luxuoso da (professora e escritora mineira) Sônia Junqueira”. De todo modo, o autor diz que todos são frutos (ou “cacos”) de sua experiência pessoal. “São parte de mim, vividos por mim. O conto do duelo do Roberto Drummond e Oswaldo França Jr (“Roberto, França e o Duelo na Savassi), por exemplo, que todos imaginam ser ficção, não é – eu fui o pivô deste assunto por meses. É claro que o duelo não aconteceu. Mas foi assunto de muitas e muitas conversas”.
Serviço
“Tardes Brancas” – Afonso Borges
Editora Autêntica, 88 páginas. Preço: R$ 54,90 (livro físico) e R$ 38,90 (E-book)