
Foto Beto Staino/Universo Produção
Olhares da comunidade cinematográfica brasileira se voltam novamente para a cidade histórica mineira
Babu Santana chorou. Estava cercado da família, dos amigos. Não escondeu o quanto a escolha do nome dele como homenageado da Mostra de Cinema de Tiradentes em 2018 o surpreendeu. O momento foi um dos mais marcantes na abertura da 21ª edição. Como sempre, uma noite marcada por discursos políticos, anúncios de novas possibilidades de patrocínios para o audiovisual e, sobretudo, da arte como posicionamento.
Com vasta experiência na TV e no cinema, Babu Santana é mais conhecido do público por ter interpretado Tim Maia no filme homônimo de Mauro Lima, em 2014. Bem-humorado e visivelmente emocionado diante dos aplausos calorosos, o ator falou sobre os desafios encontrados ao longo de sua trajetória. Por ser um artista de origem humilde e fora dos padrões de beleza, ele diz conhecer bem o preconceito e a necessidade de provar seu talento constantemente.
A intensificação do movimento nas ruas de Tiradentes durante o mês de janeiro é uma tradição que este ano completa 21 anos. A cidade mineira é o lugar em que todos os profissionais e admiradores de cinema do país querem estar durante a realização da Mostra de Cinema de Tiradentes.
A energia e a expectativa do público são quase tão contagiantes quanto à alegria dos comerciantes locais, cujos lucros devem ir às alturas nesse período. Quanto maior a dificuldade de se transitar pelos espaços, maior o sorriso no rosto deles.
A onda de aplausos que antecedeu o inicio da cerimônia de abertura foi um indicativo da empolgação do público para dar largada ao evento.
Investimentos no audiovisual
A Mostra de Tiradentes começou com uma boa nova para quem participa da cadeia do cinema. O Governo do Estado, por meio da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) vai investir R$ 16,5 milhões no audiovisual mineiro. Serão selecionados 12 projetos inéditos. As inscrições começam no dia 24 de janeiro no site do órgão.
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Abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes com o filme ‘Café com canela’. Foto Leo Lara/Universo Produção
A temática
O tema de 2018 é o “Chamado Realista”. Refere-se a uma tentativa de aproximar a produção audiovisual à realidade brasileira, utilizando formatos e estilos variados. Sendo assim, é esperado que questões como conflitos políticos, sociais, religiosos e raciais sejam recorrentes nas produções exibidas ao longo da mostra.
“Obrigado” foi a palavra mais ouvida durante a cerimônia. A gratidão de todos que sobem ao palco é visível. Mostra a importância do evento para o cenário audiovisual brasileiro. É uma grande vitrine para os jovens talentos.
Sessão de abertura
“Café com canela’, dosbaianos Ary Rosa e Glenda Nicácio, foi o filme de abertura. Eles são exemplos de cineastas da nova geração que tiveram a oportunidade de usufruir da visibilidade da Mostra. Contam histórias de personagens que sofrem perdas e precisam seguir em frente. O filme lança um olhar sensível e poético ao sentimento de luto e a todo o sofrimento decorrente dele.
O “realismo” se expressa na dor dos personagens, cada um deles lidando com sua própria perda. A narrativa brinca com a linearidade e flerta com o surrealismo. Apresenta cenas de sonhos e alucinações que representam de forma contundente a perspectiva dessas pessoas que precisam lidar com a saudade e reaprender a viver.
Babu Santana está quase irreconhecível na pele de um homossexual. O personagem perde o marido. A escolha do filme para a ocasião se justifica de forma surpreendente através de uma cena em que a personagem Margarida (Valdinéia Soriano) faz uma bela declaração de amor ao cinema. Para ela, a sétima arte é um refúgio do sofrimento. A emoção que tomou conta da sala foi a prova de que a ocasião não poderia ser mais adequada.
*Viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes.
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