Por Carol Braga
14/11/2019 às 16:59
A Vida Invisível, o novo filme do diretor Karim Aïnouz, é capaz de dividir a plateia em dois grupos ao final da projeção. Sobretudo as mulheres. De um lado, quem cai – pra valer – no choro. Do outro, que foi o meu caso, pessoas dominadas por uma raiva, uma revolta com o que acaba de ver na tela. Ou seja, o indicado do Brasil a uma das vagas ao Oscar na categoria internacional não é um filme de meios termos e nem datado.
A situação narrada na tela pode até ser de 50 anos atrás, mas infelizmente muitas mulheres ainda vivem situações semelhantes. A Vida Invisível foi um filme que me fez pensar sobre a pequenez do ser humano. Também sobre o quão perversa uma pessoa pode ser para tentar manter uma aparência. Quantas pessoas ainda vivem ignorando o respeito e dando mais importância a valores morais, sociais que não deveriam ser estanques, mas estar em constante mutação.
Com produção de Rodrigo Teixeira, da RT Features, A Vida Invisível leva para o cinema a história que Martha Batalha criou para a literatura. Quando estreou no Festival de Cannes de 2019, mantinha o nome original da obra: A vida invisível de Eurídice Gusmão. Na trama, duas irmãs, no Rio de Janeiro da década de 1950, sobrevivem, cada uma à sua maneira, ao machismo e às consequências da sociedade patriarcal.
São muitos os valores do longa vencedor do principal prêmio da mostra Um certo olhar no Festival de Cannes. Começando pela parte estética, a fotografia e a direção de arte são surpreendentes. Não deixe os detalhes passarem batido.
No caso da direção de arte, observe cada objeto e todo o trabalho que foi feito para reconstituição da época. Por exemplo, o banheiro tem até bidê. E mais: não é simplesmente decorativo. Na fotografia, veja como o vermelho, o verde e o azul são cores usadas para potencializar a emoção de cada cena. O uso das cores é calculado.
Vale lembrar que a história é uma adaptação literária. Mais do que isso: Martha Batalha escreveu um livro de cartas. É destacável como o roteiro Murilo Hauser, Inés Bortagaray e o próprio Karim Aïnouz soube explorar o que de melhor a trama poderia oferecer à experiência cinematográfica.
As irmãs Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Júlia Stockler) – em performances contundentes – se encontram apenas nos primeiros 20 minutos do longa. Tempo suficiente para o espectador se tornar cúmplice delas. É como se fosse uma energia que acompanha as personagens e o espectador ao longo de toda a projeção. A gente torce por elas. É por isso que parece mais forte ainda a pequena participação de Fernanda Montenegro. Dizer mais sobre isso é entregar algo importante da história.
A Vida Invisível é um filme delicado, apesar do tema forte e contundente. Uma prova de como o cinema brasileiro é múltiplo, sensível, capaz de falar criticamente sobre si e sobre o mundo. Mas, apesar disso, em ano em que também foi lançado o potente Bacurau, o longa de Karim, não é um candidato óbvio.
Apesar de todas as qualidades, a decisão sobre qual representante enviar para uma disputa como o Oscar envolvem uma série de outras questões. Dessa maneira, elas não necessariamente têm a ver com as qualidades intrínsecas da obra. É, sobretudo, uma escolha de mercado. Sendo assim, parece ser esse o trunfo de A Vida Invisível.
Antes mesmo da estreia o longa já foi comprado pela Amazon, que se encarregará da necessária campanha pré-Oscar. A presença de Fernanda Montenegro no elenco é outro trunfo. Vale lembrar: ela foi indicada ao prêmio de melhor atriz por Central do Brasil. Outro ponto positivo é o trânsito de Rodrigo Teixeira. Ano passado Me chame pelo seu nome, co-produzido pela RT Features faturou o Oscar de roteiro adaptado. Então, o Brasil baseou sua indicação em aspectos mais racionais do que emocionais.
A vida invisível. Foto: Vitrine Filmes/Divulgação
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