A lavanderia
O diretor Steven Soderbergh tem uma fase brilhante. Sem dúvidas. Ela começa, por exemplo, com Sexo, mentiras e videotape (1989), passa por Erin Brockovich, uma Mulher de Talento (2000) e Traffic (2000). Todos estes renderam a ele indicações ao Oscar. Tem, ainda, exemplares mais populares. Por exemplo, Onze Homens e um segredo e até Greys Anatomy.
A Lavanderia, o segundo filme dirigido por Soderbergh lançado diretamente no catálogo da Netflix, tem elementos de todos anteriores, mas com um diferencial. Em síntese: o resultado não é o mesmo. Aliás, a fase do cineasta dedicada a produções para o serviço de streaming não anda muito boa. No caso de A Lavanderia, obviamente na minha opinião, nem o elenco formado por Meryl Streep, Gary Oldman, Antonio Banderas, David Schwimmer entre outros, salva o todo.
O filme
A Lavanderia é uma adaptação do livro de Jake Bernstein sobre o escândalo conhecido como Panamá Papers. Parte de uma tragédia que marca a vida de Ellen (Meryl). Em uma viagem turística, o marido morre e ela luta até onde for possível para conseguir o pagamento do seguro. Como tudo vai dando errado, ela resolve investigar. Aí, aquela senhorinha um tanto quanto caricata, descobre toda confusão das empresas de offshore. Bem, o desenrolar da trama não é tão simples assim.
Steven Soderbergh investe em um clima um tanto quanto distópico para criticar a relação que os seres humanos têm desenvolvido com dinheiro. Obviamente, é bastante irônico e, talvez por isso, tão caricato a apresentar as situações. Tanto o caso de Ellen, como também da família milionária de Charles (Nonso Anozie), envolvida no escândalo tudo me pareceu muito exagerado. Aí, pouco a pouco fui me distanciando do filme.
Em geral, roteiros que se propõe a abordar temas econômicos, tem que fazer uma ginástica a mais para deixar mais palatável para o público. Como exemplos parecidos, é possível citar A grande aposta (2015) e Vice (2018). São produções que costumam fazer mais sucesso nos Estados Unidos provavelmente por tratar de temas que impactam (ou impactaram mais o país).
A Lavanderia tenta ser bastante didático, sobretudo no início, quando fala sobre o dinheiro. Não apenas isso, sobre a relação que os homens foram construindo a partir da necessidade da grana. O filme de Soderbergh fala sobre a vida secreta do dinheiro.
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Elenco
Mas, apesar da pretensão didática, a história vai ficando confusa. Existe mais sarcasmo do que humor. À medida que o filme vai se desenvolvendo, vai ficando chato. Sendo assim, nos resta observar os atores, todos de primeira linha. Fazendo o exercício de deixar a interpretação um pouco de lado, sobretudo os personagens de Meryl Streep, Gary Oldman e Banderas, receberam tintas carregadas. Parecem fazer parte da paisagem elaborada pela direção de arte, tão caricatos ficaram.
Vale chamar atenção para a participação de David Schwimmer, o Ross, de Friends. Ele faz um papel bem sério, mas não consegue se livrar o do personagem que marca a história do ator.
Experimentação
Antes de A Lavanderia, Steven Soderbergh lançou em parceria com a Netflix o longa High Flying Bird. Conta a história de uma espécie de greve que rola nos bastidores dos torneios de basquete nos Estados Unidos. Outra história que parece ter sido criada para os compatriotas dele. Há porém, algo que parece se conectar com o novo filme: a experimentação.
High Flying Bird foi todo feito com telefone celular. No caso de A Lavanderia, a experimentação aparece no modo distópico como Soderbergh decide abordar o escândalo mundial. É, no fim das contas, uma representação irônica da lógica capitalista. Como diz o personagem de Banderas: na regra de qualquer jogo, para alguém ganhar, um outro precisa perder.