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Peça “Acredite, um espírito baixou em mim” celebra 25 anos de trajetória com programação especial

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Estreando em 1998, “Acredite, um espírito baixou em mim” já soma um público total de mais de três milhões de espectadores ao longo de mais de duas décadas.

Por Caio Brandão | Repórter

O teatro brasileiro conta com várias montagens icônicas. Nesse sentido, uma das peças inseridas nessa categoria é “Acredite, um espírito baixou em mim”, que completa 25 anos de trajetória neste mês de julho. Sendo assim, a performance do espetáculo aqui em BH, no próximo dia 30, no Palácio das Artes, promete ser especial.

Estreando em 1998, “Acredite, um espírito baixou em mim” já soma um público total de mais de três milhões de espectadores ao longo de mais de duas décadas.
Maurício Canguçu performando durante a peça - Foto: Pedro Vale

Ao longo de tantos anos executando essa montagem, Maurício Canguçu, um dos atores e produtores da peça, conta que, mesmo com o costume, o desejo de atuar neste espetáculo continua o mesmo. “Isso (o desejo), para mim, é uma condição, é, assim, uma condição sine qua non para mim, do teatro, da minha profissão. Eu só vou fazer qualquer espetáculo se eu tiver desejo”, contou Maurício.

“Não tem dinheiro que me compre. Eu, graças a Deus, estou no momento da minha carreira no qual eu posso fazer isso. Eu já fazia quando eu não podia, agora, então, que eu posso, eu faço. Só faço se eu tiver prazer. Não dá mais aquele frio na barriga, mas tem desejo”, reiterou. 

Padrão de excelência

Outro aspecto que se manteve como fundamento de “Acredite, um espírito baixou em mim” é o primor por toda a estrutura que ergue o espetáculo. O alto padrão, no entanto, vem acompanhado por turbulências em alguns momentos. “Exigir excelência é ter muito atrito, né? Às vezes, o que eu acho que é o suficiente, não é para outra pessoa. A gente já deixou de fazer o espetáculo em vários lugares porque não podia levar o cenário, porque não tinha dinheiro pra pagar o transporte. Eu só faço se tiver tudo como a gente quer, não abrimos mão disso”, pontuou Maurício.

O hábito, contudo, faz com que esse processo ocorra com fluidez, afinal, a equipe responsável, tal qual a peça em si, também é longeva. “A gente já tem as mesmas pessoas que fazem esses serviços para nós há quase 10 anos. Então, elas já sabem como isso acontece. O tempo que se gasta é de quase um dia inteiro para fazer o espetáculo, porque tem a montagem do cenário, do figurino, não sei o quê (risos). Isso é, lógico, um ponto a favor pra gente, que é o cuidado que temos com o nosso trabalho.”

“As pessoas podem até ver o espetáculo e não gostar, mas elas jamais vão poder ir lá e dizer: ‘eles estão aqui dando uma picaretada básica para ganhar um dinheirinho’. Isso é o teatro que eu acredito, essa é a comédia que eu acredito, eu faço desse jeito”, completou Maurício.

Transcendendo o puramente teatral

A arte tem como característica a habilidade de refletir o panorama sociopolítico no qual está inserida. Sendo assim, a possibilidade de erguer críticas à narrativas tortas presentes na sociedade anda de mãos dadas com o fazer artístico. “Acredite, um espírito baixou em mim”, consequentemente, está fortemente atrelada à tal lógica. 

A peça conta a história de um homossexual que, inconformado com a própria morte, foge do céu e acaba possuindo o corpo de um homofóbico convicto. Essa premissa, por si só, já deixa clara a relevância social da montagem, que usa a trama para erguer um debate sobre as agressões que pessoas LGBTQIAPN+ sofrem no dia a dia. Contudo, a sociedade como um todo vem se abrindo mais e mais para essa pauta, e o espetáculo reflete esse processo. 

“Quando a gente estreou a peça, em 1998, ter um beijo entre dois homens no roteiro era um choque. Aqueles personagens terminarem a história como um casal era um absurdo, uma loucura. Muitas vezes, pessoas que estavam no público vinham falar com a gente que a trama os representava muito, que elas tinham vontade de viver como, de fato, são, mas não tinham coragem”, revelou Maurício.

“Hoje em dia, a pauta é outra. Beijar homem na boca, namorar, graças a Deus, não é mais um problema. Tinham algumas coisas na peça que hoje seriam consideradas ofensivas, então retiramos. Ainda tem coisa lá que tem um pouco desse tom, mas estamos no lugar de fala, então pode, né? (risos). Não vemos problema nisso. Tem um amigo meu que até brinca que é uma peça de época. Assim, por considerarmos essa pauta LGBTQIAPN+ importantíssima, a gente reflete essa evolução na montagem.”

Os dois lados da moeda

A montagem é permeada por uma visão artística pulsante, que definiu e continua a redefinir a obra durante os 25 anos de existência. Maurício, no entanto, conhece e entende profundamente o lado business da atividade teatral como um todo. “Eu encaro o teatro como um produto. Eu adoro o teatro e faço com muito prazer, mas, para mim, é um negócio. Aliás, acho que o grande problema do artista é não olhar assim para o teatro como um negócio. Essa ideia romântica de que a arte não vira produto é mentira.”

“Para mim, o teatro é igual um perfume que vende na loja, um carro, um macarrão… Um produto. Daí, tem produto bom e produto ruim. Tem mal feito e bem feito. Que vende, e que não vende. Isso faz parte do teatro”, concluiu.

A relação íntima com o teatro de BH e de Minas Gerais

Nativo de Minas Gerais, Maurício exalta o laço que possui com a terra natal. Claro que isso faz todo sentido, já que “Acredite, um espírito baixou em mim” é uma das montagens de maior sucesso do teatro mineiro. 

Ademais, o ator defende com unhas e dentes a cena teatral do estado. “Precisamos jogar luz sobre o teatro de Belo Horizonte. Eu vivo pelo teatro, fico 24 horas por dia ligado nisso. Então, a gente precisa retomar as produções, as temporadas, entrar em cartaz aqui em BH. Precisamos, também, conquistar um espaço na cabeça do público, bem como na imprensa. Os espetáculos do Rio de Janeiro e de São Paulo são lindos, mas eles não formam a produção mineira.”

“Eu sou mineiro, moro em BH por opção, faço teatro aqui por opção, eu quero que o teatro aqui volte a ser forte, como, historicamente, foi, mesmo com as dificuldades que temos. Eu já estou no lugar do ator mais velho, mas tem muita gente nova saindo das escolas e que já encaram atuar como uma profissão, mas enfrentam alguns contratempos. Assim, continuamos levando isso adiante, já que é uma causa muito importante.”

Comemoração especial

A celebração dos 25 anos da peça não para na apresentação do dia 30. Além disso, haverá, no dia 26 de julho, às 19h, no Palácio da Liberdade, o lançamento do livro ‘“Acredite, um espírito baixou em mim” a trajetória de um sucesso parte II’, escrito por Jeferson da Fonseca, e a mostra do primeiro episódio (de uma série de três) do documentário “Espírito.doc”, que conta a história da montagem.

Além disso, no dia 29 de julho, às 19h, no Palácio das Artes (Sala Humberto Mauro), haverá a exibição do documentário completo. Dessa forma, a programação está recheada e imperdível! Os ingressos para a peça podem ser adquiridos pelo link.

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