Por Tainá Silveira*
A exposição “Empresta-me teus olhos?” que está no térreo do Centro Cultural Banco do Brasil de BH é uma provocação à empatia. O próprio nome diz isso. As 60 obras, expostas na parte do museu que menos chama atenção dos visitantes, são de pacientes de Centros de Convivência da Saúde Mental da Prefeitura.
É um conjunto que nos propõe pensar os motivos que levaram cada um daqueles artistas – sim. Artistas – a internação. Também faz refletir sobre o papel da arte na recuperação e na integração das pessoas que sofrem aflições psicológicas e psiquiátricas, na sociedade.
São desenhos, pinturas, cerâmicas e uma instalação, a que mais chamou a minha atenção. Bacias de metal estão espalhadas pelo chão da entrada e, ao centro delas, espelhos com o desenho de um olho. Em toda a circunferência das bacias podemos ler, com certo esforço, frases sobre como lidamos com a própria imagem, o que ela significa e como o “reflexo da água” a distorce. São dizeres impactantes demais para passar desapercebidos como muitos que visitaram a exposição ao mesmo tempo que eu o fizeram.
Outro destaque da mostra não tem título: é a representação de uma pessoa com o corpo todo formado por impressões digitais, e a cabeça por vários olhos. É interessante como tomamos conclusões diferentes sobre obras artísticas quando sabemos algo sobre o artista, por menor que seja.
Sabendo que quem a fez é paciente em um Centro de Convivência de Saúde Mental, me perguntei se os olhos não representavam a sensação de perseguição, de estar sendo observado e observar o redor o tempo todo. As impressões digitais são uma das poucas coisas no mundo que nos tornam absolutamente únicos. Um corpo formado inteiramente por elas faz pensar que o corpo de cada um também reflete sua identidade.
Quadros
A exposição tem também releituras de pinturas renomados de Van Gogh e Manet, e eu particularmente me espantei com a semelhança com as originais. Ainda sobre as pinturas, destaque para “Sexo”. Em cores fortes e quentes estão dois corpos, um sobre o outro com pernas e braços que se misturam e se confundem.
Sobre as figuras, em letras garrafais lê-se “SEXO”. Para mim, foi impossível compreender as expressões faciais de ambos e, toda aquela confusão de partes do corpo e olhos esbugalhados me fizeram pensar se a obra realmente representava sexo ou uma agressão.
Apesar da pouca atenção que “Empresta-me teus olhos?” tem recebido, é interessante. Traz vários questionamentos e vontade de compreender o outro. A exposição pode ser visitada de quarta a segunda de 09h à 21h até o dia 29 de maio.
*sob a supervisão de Carolina Braga