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Breve Festival acerta em primeira edição marcada por diversidade musical

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Dois palcos montados pelo Breve Festival. Crédito: Thiago Fonseca

 

Por Thiago Fonseca

O primeiro Breve Festival mostrou que Belo Horizonte pode sim ter um festival de música alternativa. Inspirado no formato do Coala Festival foram 13 horas interruptas de vários gêneros musicais, do rock ao rap, pop, folk, MPB, samba e indie. BaianaSystem, Projota, Emicida, Karol Conka, Novos Baianos e outras sete bandas se dividiram em dois palcos montados no Mirante BH. Foi realmente música para durar.

A maioria dos artistas que se apresentaram no Breve já estiveram em festivais de renome nacional e até mundial. É o caso de Emicida, BaianaSystem e Karol Conka no line up do no Rock in Rio 2017. Bandas do cenário autoral mineiro também tiveram espaço no evento, como Graveola e o Lixo Polifônico, Iconili, Moons e Young Lights. Os organizadores deram destaque para artistas com engajamento nas plataformas de streaming e que geram burburinho nas redes sociais.

CENA MINEIRA

A banda mineira Moons foi quem abriu as apresentações do Breve. O grupo trouxe ao público um pouco do folk e space rock, com pitadas de música brasileira. Com as canções do álbum Songs of Wood & Fire, Moons fez convite ao público para viajar, sem o peso da gravidade, através das montanhas de Minas Gerais. Durante o show divulgou que um novo disco será lançado no ano que vem, após o carnaval.

Logo em seguida foi a vez de Folk/Rock com Young Lights. O grupo criado em Massachusetts, mas que é mineiro de coração, fez um show intenso. A banda variou o estilo com um pouco de punk, em canções com o intuito de canalizar pensamentos e experiências. Ainda rolou uma prévia do próximo disco que será lançado mês que vem.

A terceira a subir no palco foi Iconili. A banda instrumental com dez músicos combina de forma única a força, as sutilezas e a ancestral energia dos ritmos afro-brasileiros, do rock, do afrobeat, com boas doses de psicodelia, mergulhos e contemplação. Foi um show lindo com muita performance com os instrumentos.

Depois de muito tempo sem apresentações em Belo Horizonte, Graveola tocou pela segunda vez, em menos de um mês, na capital. O grupo mineiro apostou em repertório variado. O show começou de maneira tradicional e se manteve com estilo sereno, com versatilidade de gêneros, instrumentos, timbres e arranjos explorados em suas canções.

HITS

A primeira apresentação do cenário nacional foi da A Banda Mais Bonita da Cidade. Suvenir foi a canção escolhida para abrir o set list. Com serenidade e muita animação o grupo levou o público ao delírio. A vocalista Uyara Torrente ficou descalça durante toda a apresentação e disse se sentir em casa em Belo Horizonte. “Chegar em BH é como ganhar um abraço. A estrutura também é linda, poder cantar vendo o pôr do sol, todo esse público, o verde e as montanhas é muito lindo”, disse.

O repertório foi variado com canções do novo disco e com músicas conhecidas pelo público. Ao cantar “Oração”, faixa que viralizou na internet, os músicos desceram do palco e foram para o meio do público. Juntos fizeram a canção ecoar no mirante. “As pessoas cantam em uma vibração tão boa, isso nos faz tão bem. E pode fazer um pedaço no meio das pessoas é mais delicioso”, explicou a vocalista.

Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci foram os sextos a se apresentaram. Trouxeram ao festival o show “Dia a Dia, Lado a Lado”. O repertório sereno e com pegada romântica levou o público ao choro, não teve um que não cantou.

POLÍTICA

Manifestações políticas também deram um ar mais emocionante ao show. O público gritou: “Fora Temer” e Tulipa logo correspondeu: “Não tem ninguém aqui a favor. Somos todos contra. Esse governo é ilegítimo e sofremos um grande golpe”. A dupla também desceu do palco e foi cantar bem próximo da plateia. Cobertor, Linda e Oh Meu Deus estiveram presentes no repertório de Projota. O rapper também quis estar mais perto do público: desceu do palco, subiu na grade do palco e cantou junto ao público “A Rezadeira”. Ainda usou um boné jogado por uma fã no palco.

O grupo electro dance, australiano, Miami Horror, foi a única atração internacional. Mostrou aos mineiros que a música britânica é animada e dançante. Agitou os presentes com as batidas funk e felizes ao novo synthpop. Um dos integrantes surpreendeu ao subir em cima da estrutura da cabine de som para cantar uma das músicas.

Em seguida foi a vez BaianaSystem. Trouxeram as mesmas bases preparadas para o Rock in Rio mas com muita emoção e surpresas. O show começou embalado com gritos de “Fora Temer” e se manteve durante alguns momentos. Também distribuíram máscaras de papelão com grafismos característicos da banda.

Karol Conka trouxe para o Breve um show alegre, nostálgico e libertador! Não faltaram músicas do Batuk freak. Dançou com dois fãs no palco e dialogou muito com a plateia. Com discursos contra homofobia, “cura gay”, Karol recebeu muitos aplausos durante sua participação no show estilo “empoderado”. “Amor próprio e ao próximo é a melhor cura para a homofobia”, emendou com a música “Bate a poeira”.

Foi o melhor da noite. A cantora disse representar a diversidade e que vai continuar lutando pelos direitos do público. “BH foi o primeiro lugar a me convidar para fazer show fora de Curitiba. Foi em BH que recebi meu primeiro cachê como artista, a convite de Kdu dos Anjos e da festa Original Sunday’s”, explica.

VETERANOS

Logo depois foi a vez de Novos Baianos. O grupo voltou a Belo horizonte com a turnê que revisita o célebre álbum “Acabou Chorare”, lançado em 1972. Eles apresentaram um repertório marcante, que passou por toda a trajetória da banda. Nas mãos de cada integrante um instrumento mostrava que o talento vai além da voz.

Emicida foi o último da noite e fechou o Breve Festival com chave de ouro. Trouxe aos mineiros o seu mais novo trabalho “Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa”. Potente e engajado deu um show completo e colocou o público para pular. Discursou sobre a ida à Africa e falou sobre o sofrimento do podo de lá. Quase no final, ensinou o publico a coreografia da música “Zica, vai lá”. Todos dançaram e cantaram. Que show! Energia, potência vocal e público alinhados.

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LONGA DURAÇÃO

A maratona de shows do Breve Festival encerrou a programação que começou no dia 05 de setembro, no Semibreve, com a realização de mesas de debates em espaços culturais, shows gratuitos nos parklets e em casas noturnas de Belo Horizonte. Nos breves encontros os participantes puderam debater e discutir temas relacionados à música e festivais. O Ocuppy Beagá trouxe shows de graça com músicos de diferentes gêneros ocupando os espaços da capital mineira.

“Essa é nossa ideia: fomentar a cultura e debater a música ocupando os espaços da cidade. Além de criar um costume nas pessoas de ir a festivais alternativos e ver que no Brasil tem muita coisa boa no cenário musical”, explica Eduardo Sabbagh, um dos idealizadores. O festival foi feito para conjugar artistas que estão bombando na cena com a reflexão sobre a cena contemporânea.

Sabbagh também conta que a ideia do Breve surgiu de uma inspiração dos festivais que acontecem pelo país a fora. “Quis trazer para BH algo que não tinha aqui. Tudo foi pensado e baseado em outros festivais, como o Coala. Precisávamos de algo do tipo. Eduardo garante que no ano que vem tem mais. “Vamos entregar dois. Um neste ano e outro no ano que vem. É certo!”

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MERCADO.RIA

O Breve Festival também pensou na valorização dos produtores locais. Dezoito expositores, de diferentes setores, fizeram parte da Mercado.ria. A feira acontece três vezes no ano na Amadoria, mas a convite do evento, veio para o festival para conectar os expositores com o púbico. “Esta é a primeira vez que viemos em um evento. Isso é importante para valorizar a arte, que é interligada. A ideia é conectar e dialogar arte com a música”, explica Carol Gomes Rocha, idealizadora do projeto.

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